28/11/2021 - 10:30
Com mais de 36% dos votos, a chapa liderada pela criminalista Patricia Vanzolini venceu as eleições para a presidência da Ordem dos Advogados do Brasil de São Paulo (OAB-SP), na quinta-feira (25). Ela será a primeira mulher a presidir a entidade em 90 anos, após 22 homens no cargo. Além da óbvia comprovação de há mais mulheres ocupando cargos tradicionalmente masculinos em todas as esferas da sociedade, a eleição tem um aspecto fundamental para além da questão de gênero. A agenda de Patricia Vanzolini é alinhada com os tempos atuais. Ela não é apenas uma professora carismática que se tornou conhecida por atuar em cursos preparatórios do Exame da Ordem ou participar de programas da TV Justiça. Sua proposta é criar uma nova ordem. Não por acaso, a chapa vencedora se chama Muda OAB/SP.
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A julgar pelas primeiras entrevistas após a vitória, em que citou a “quebra de paradigma” por ser uma mulher, Patricia reafirmou os compromissos que podem realmente mudar a Ordem dos Advogados. “A OAB-SP tem que ser exemplo de paridade de gênero, de equidade racial, de inclusão de portadores de deficiência e de pessoas LGTBQIA+”, afirmou ao site Consultor Jurídico. Não era sem tempo. Além de só agora levar uma mulher à presidência, a OAB-SP teve apenas um presidente negro, Benedito Galvão, que não foi eleito para o cargo. Ele ocupou a cadeira no período de 1940-41 durante o afastamento de Noé Azevedo (que teve o mais longo mandato no órgão, de 1939 a 1965). E mesmo assim, Galvão só foi reconhecido com “honras de presidente” em homenagem póstuma, em 15 de julho de 1943. Desde então, nenhum negro.
Por isso faz todo o sentido que Patricia, neta do cientista e compositor Paulo Vanzolini (1924-2013), que imortalizou em uma de suas canções os versos “levanta, sacode a poeira e dá a volta por cima”, esteja empenha da em “modernizar” a entidade que presidirá, como ela mesma afirmou. Uma das propostas é colocar a OAB nos objetivos de desenvolvimento e padrões de ESG (Governança Ambiental, Social e Corporativa em tradução livre da sigla em inglês).
E o mesmo vale não apenas para OAB como para a formação de novos advogados. “Vamos fazer um plano de capacitação e qualificação com a nova ESA (Escola Superior da Advocacia)”, disse Patricia. “É preciso fazer com que esses jovens advogados abram novos mercados de trabalho e desenvolvam suas habilidades e talentos. E, por outro lado, complementem eventuais deficiências de formação”. Pode ter demorado, mas com uma mulher na presidência, talvez o Brasil tenha a chance de formar gerações de advogados capazes de dar ao Direito uma dimensão adequada aos tempos atuais e futuros.