A inflação medida pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), em 2017, ficou em 2,95% e foi a menor registrada desde 1998. Porém, apesar da boa nova, o número ficou distante de animar o mercado financeiro e os economistas. Isso porque fatores que fogem ao controle do governo foram os principais responsáveis pelo número positivo.

O que ficou conhecido como supersafra agrícola fez com que os preços de alimentos tivessem deflação no ano passado. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), os alimentos caíram 1,87% no ano. Esse movimento dificilmente se repetirá em 2018, preveem analistas.

Além disso, os preços comportados no setor de serviços também se devem a um efeito retardado da recessão econômica. Segundo a opinião de economistas representada no Focus, divulgado na última segunda-feira 8, o Brasil deve ter crescido apenas 1,01% no último ano. Isso mesmo após dois anos de queda do Produto Interno Bruto (PIB). Já em 2018, a expectativa é de crescimento de 2,69%. Com a alta do PIB, a reboque devem vir uma queda do desemprego e um aumento da renda, dois fatores que pressionam positivamente a inflação.

Por fim, o sinal dado pelos preços em dezembro de 2017, que registraram alta de 0,44%, após uma alta de 0,28% em novembro, acendeu o sinal amarelo. Tanto que a notícia fez o mercado financeiro azedar. O Ibovespa, principal bechmark da bolsa de valores de São Paulo, a B3, fechou em queda de 0,68%.

Márcio Milan, economista da consultoria Tendências, prevê uma alta do IPCA em 2018 de 4,1%. A explicação está justamente nos fatores que impediram a ascensão dos preços no ano passado. “É muito provável que os alimentos voltem subir. Além disso, um quadro de recuperação econômica deve surtir um efeito positivo sobre a demanda. Isso sem contar o câmbio, que, a depender dos acontecimentos do ano, deve ficar pressionado”, explica.

Os tais acontecimentos citados por Milan são do campo político. E o calendário de 2018 já está repleto de datas importantes. A começar pelo julgamento do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, marcado para 24 de janeiro. Depois, há o impasse sobre a aprovação da Reforma da Previdência, cuja votação está prevista para fevereiro. Por fim, as eleições gerais entre outubro e novembro devem sacodir o País.

José Márcio Camargo, economista da Opus Consultoria, afirma que, em um cenário com a aprovação da reforma, a inflação deve permanecer comportada. Sua previsão é de uma alta dos preços da ordem de 3%. No entanto, caso o governo não obtenha uma vitória nesse embate, o cenário muda.

“Há uma possibilidade de o mercado financeiro reagir mal. Isso levaria a uma saída de dólares do País, pressionando a taxa de câmbio. O problema fiscal permanecerá e a discussão passará a ser a flexibilização da ‘Regra de Ouro’. Tudo isso gera inflação”, diz Camargo.

Apesar de tudo, as projeções feitas pelos economistas ainda colocam o IPCA dentro da meta para este ano, entre 3% e 6% – mesmo no pior cenário. Porém, os solavancos políticos podem acarretar a uma deterioração econômica e impactar 2019 também. “A vantagem é que temos um Banco Central crível. O mercado, principalmente o internacional, dá credibilidade à política monetária atual. No entanto, após novembro, não sabemos o que poderá acontecer”, complementa Camargo.