Os membros do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central divulgam no começo da noite desta quarta-feira, 18, a decisão sobre a taxa de juros da economia, a Selic, atualmente em 10,50% ao ano. A expectativa é que a decisão será pelo início de um novo ciclo de aperto monetário, com aumento de 0,25 ponto percentual (p.p.). Se ele se concretizar, e a taxa for a 10,75%, será o primeiro aumento desde agosto de 2022.

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Um aumento nos juros a essa altura é uma decisão na contramão de outros BCs pelo mundo. O Federal Reserve, banco central dos Estados Unidos, também decide hoje sobre seus juros, muito provavelmente por um corte. Na semana passada foi o Banco Central Europeu que reduziu sua taxa. E ainda, segundo monitoramento da Reuters, cerca de metade de 18 mercados emergentes monitorados pela agência já começaram a cortar os juros neste ciclo.

A taxa de juros é um instrumento de política monetária que impacta na inflação, em geral, se usa em dosagens para tentar conter o avanço de preços que pode refletir no bom andamento da economia do país. A meta de inflação definida para 2024 é de 3% ao ano, com tolerância de 1,5 p.p. para mais (4,5%) ou para menos (1,5%).

Reprodução/Banco Central

Contudo, o cenário brasileiro está composto hoje por uma economia aquecida, refletida no PIB do segundo trimestre de 2024  – que surpreendeu até mesmo o governo ao ficar 1,4% maior que em relação ao trimestre anterior – e uma projeção de inflação para fora do teto da meta.

O Boletim Focus desta semana, documento semanal do Banco Central com as projeções do mercado para a economia, aponta para uma inflação anual maior que nas edições anteriores, de 4,35%, a nona alta semanal consecutiva. Para 2025, a projeção também subiu e passou de 3,92% para 3,95%.

Soma-se ainda um mercado de trabalho forte, com recorde de 102 milhões de pessoas empregadas, levando a taxa de desemprego oficial para um de seus menores níveis históricos, e com incremento de renda, ainda que pequeno.

Toda essa conjuntura acende o alerta para aumento dos riscos inflacionários, deixando a decisão do Comitê ainda mais inclinada para um aperto monetário e que, provavelmente, se seguirá nas próximas reuniões.

O governo também segue com dificuldades para fechar suas contas, trazendo ainda mais incertezas para o cenário fiscal. O Focus aponta para um déficit primário de 2024 em 0,60% do Produto Interno Bruto (PIB), distante da meta deste ano, de déficit zero, com tolerância de 0,25 p.p. para mais ou para menos. O próprio governo espera obter um déficit primário de R$ 28,8 bilhões em 2024, exatamente em linha com o piso do alvo.

Juros altos

E se por um lado a taxa de juros mais alta ajuda a conter a pressão inflacionária, por outro impacta diretamente na atividade econômica. A elevação da taxa básica, por exemplo, contribui para a desvalorização do real em relação ao dólar.

Reforça, ainda, a desconfiança do mercado na capacidade do governo de cumprir a meta fiscal, essa última sob escrutínio do mercado no momento, lembrando que juros mais altos impactam na dívida pública, já que grande parte dela está indexada à Selic.

Juros maiores significa crédito mais caro. E, com o crédito menos acessível, os diferentes setores da economia têm dificuldade para investir e fazer crescer a atividade econômica. O setor industrial, por exemplo, que com desempenho praticamente estagnado – entre pequenas altas e baixas – esbarra nas taxas de juros mais alta na hora de acelerar investimentos para impulsionar produtividade.

O crédito fica mais caro também para os consumidores e trabalhadores. Seja para aquisição da casa própria, carro ou qualquer outro consumo mais vultoso, e pode deixar as famílias mais endividadas.

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Um cenário de juros mais alto mexe ainda com os investimentos no país. Alguns tipos de investimento, aqueles de renda fixa e principalmente os atrelados à Selic, passam a ser mais interessantes. E empresas deixam de captar dinheiro na bolsa e afasta investidores da renda variável.

Dois presidentes

Além da grande expectativa pela confirmação do início de um novo ciclo de aperto, a reunião que se encerra nesta quarta-feira, 18, contará com “dois presidentes” do BC. Além do oficial, vem ganhando cada vez mais lupa a comunicação feita pelo atual diretor de Política Monetária, Gabriel Galípolo, que foi indicado no fim de agosto pelo presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, como o novo comandante do BC a partir de 2025.

Galípolo tomará posse do cargo em janeiro se for aprovado em sabatina da Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) do Senado, marcada para 8 de outubro. Nas últimas semanas, o postulante percorreu gabinetes da Casa para se reapresentar aos parlamentares. Ele contou também com a ajuda de Campos Neto. Esta é a primeira vez que ocorre uma transição deste tipo por causa da lei de autonomia operacional do BC, de 2021.

*Com informações de Reuters, Estadão Conteúdo e AFP