Encerramento de investigação sobre relações de bilionário pedófilo morto em 2019 já tinha gerado revolta na base de Trump. Agora, jornal aponta que presidente foi informado que seu nome aparecia nos arquivos.O presidente americano Donald Trump foi informado em maio que seu nome aparecia em uma nova coletânea de arquivos relacionados ao bilionário acusado de manter uma rede de exploração sexual de menores, Jeffrey Epstein.

As informações foram inicialmente divulgadas pelo Wall Street Journal (WSJ), que ouviu fontes do governo americano familiares com o caso. Segundo o veículo, a procuradora-geral dos EUA, Pam Bondi, informou Trump em uma reunião de rotina na Casa Branca que ele foi mencionado nos arquivos, ao lado de outras figuras de alto escalão.

O episódio aprofundou uma crise política em sua administração ao redor do caso. No Congresso, mesmo membros de seu partido passaram a apoiar soluções legislativas para que os documentos sejam revelados (leia mais abaixo).

O racha também se ampliou aos apoiadores mais ferrenhos do presidente, que há anos alimentam teorias da conspiração sobre a existência de uma “lista de clientes” que, segundo eles, imputaria crimes cometidos por Epstein a personalidades do partido Democrata e personalidades influentes.

Trumpistas acusavam a administração de Joe Biden de esconder provas para proteger aliados e questionavam a narrativa oficial de que Epstein foi enconrando morto em uma prisão em 2019.

DOJ contraria teorias trumpistas

A desconfiança de sua base cresceu pois, semanas depois da reunião em que Trump teria sido avisado sobre o caso, o Departamento de Justiça dos EUA (DOJ) deu a investigação por encerrado e disse que nenhuma “divulgação adicional seria apropriada ou justificada” como forma de proteger as vítimas.

O DOJ também refutou teorias de que Epstein teria sido assassinado, concluindo que ele tirou a própria vida. O departamento disse ainda que não existe uma “lista de clientes” do bilionário.

A decisão contrariou compromissos assumidos por membros da nova administração da Casa Branca, que prometiam dar publicidade aos arquivos quando assumissem o governo. Durante a campanha presidencial, Trump também afirmou que aceitaria publicar os documentos se fosse eleito.

Em fevereiro, Pam Bondi chegou a convocar influenciadores conservadores para divulgar um primeiro pacote de documentos, que acabaram irritando a base trumpista por conter informações já conhecidas.

Nos dossiês já públicos do caso, o nome de Trump aparece diversas vezes em registros de voos do jato particular de Epstein na década de 90, época em que o presidente era amigo próximo do bilionário.

Trump e vários membros de sua família também constam na lista de contatos de Epstein, ao lado de centenas de outras pessoas.

Grande parte desse material já havia sido divulgada no processo criminal contra a ex-associada de Epstein, Ghislaine Maxwell, que foi condenada a 20 anos de prisão por tráfico sexual de menores e outros crimes.

Trump não é acusado de crimes

Após a primeira leva frustrada dos documentos chamados por Bondi de “Os Arquivos Epstein: Fase 1”, a procuradora-geral passou a defender que tinha em suas mãos uma nova “carga de caminhão” de provas anteriormente retidas pelo FBI e que estava pronta para revisá-las.

Segundo o Wall Street Journal, o nome do presidente teria sido citado nesses registros, que foram arquivados pelo Departamento de Justiça.

A simples menção, contudo, não incrimina Trump. O presidente não foi acusado de qualquer crime relacionado ao bilionário e afirmou diversas vezes que a amizade deles terminou antes dos primeiros problemas legais de Epstein, há cerca de duas décadas.

Epstein morreu por suicídio em 2019 enquanto aguardava julgamento por acusações de tráfico sexual, às quais se declarou inocente. Em outro caso, Epstein se declarou culpado em 2008 por uma acusação de prostituição na Flórida e cumpriu 13 meses de prisão.

Na última quinta-feira, o veículo americano publicou um bilhete que teria sido enviado por Trump a Epstein em 2003, antes da primeira acusação criminal. O texto dizia: “Feliz aniversário. E que cada dia seja outro segredo maravilhoso.”

Trump processou o WSJ e seus proprietários, incluindo o bilionário Rupert Murdoch, alegando que o bilhete era falso.

Casa Branca chama reportagem de “fake news”

O diretor de comunicação da Casa Branca, Steven Cheung chamou as duas reportagens do WSJ de “fake news”.

Em nota, Bondi e o vice-procurador-geral, Todd Blanche, reforçaram ao WSJ a tese de que o novo acervo foi selado pois nada justificava uma acusação adicional. “Como parte de um briefing de rotina, informamos ao presidente sobre as conclusões”, afirmaram.

A reportagem contradiz Trump que, na semana passada, disse que nunca foi informado sobre seu nome aparecer nos registros.

Em 15 de julho, um jornalista perguntou em uma coletiva na Casa Branca se Bondi, especificamente, lhe informara sobre a menção de seu nome. “Não, não”, respondeu Trump.

Disputa chega no Congresso

O vai e vem do caso gerou uma pressão generalizada no governo americano. Pam Bondi e Kash Patel, atual diretor do FBI sob Trump, estão entre os nomes mais atacados pelo movimento trumpista. Antes de assumirem seus cargos, a dupla era vocal na defesa da divulgação dos documentos.

No Congresso, o presidente republicano da Câmara dos Representantes, Mike Johnson, decidiu enviar parlamentares para o recesso de meio de ano um dia antes, para evitar uma votação sobre os arquivos de Epstein.

A decisão bloqueou temporariamente a tentativa de democratas e também de alguns republicanos de votar uma resolução bipartidária que obrigaria o Departamento de Justiça a divulgar todos os documentos relacionados a Epstein.

Mas Johnson não conseguiu impedir um subcomitê do poderoso Comitê de Supervisão da Câmara, controlado por republicanos, de intimar Ghislaine Maxwell a depor no Congresso. O grupo também intimou o DOJ a entregar a totalidade do dossiê do caso aos parlamentares. Três republicanos se juntaram a cinco democratas para aprovar o movimento.

Sob pressão política, Trump procurou uma solução alternativa à liberação dos arquivos e orientou o Departamento de Justiça a tentar liberar as transcrições seladas do júri relacionadas a Epstein. A Justiça federal negou o pedido.

A petição se refere a investigações federais sobre Epstein em 2005 e 2007, segundo documentos judiciais. O departamento também pediu a liberação de transcrições na corte federal de Manhattan relacionadas a acusações posteriores contra Epstein e Maxwell.

Mais de dois terços dos americanos acreditam que a administração Trump está escondendo informações sobre os clientes de Epstein, segundo uma pesquisa Reuters/Ipsos realizada na semana passada.

gq (Reuters, OTS)