Levou praticamente uma década e meia para que o mercado da música vislumbrasse uma chance concreta de contar com um modelo de negócio viável à era digital. A venda de download foi um primeiro ensaio, mas insuficiente.  Agora, esse momento chegou, graças aos serviços de streaming.

O caminho ainda é longo, sinuoso e o mercado não está totalmente acomodado ao novo modelo. Mas é seguro dizer que finalmente apareceu uma luz no fim do túnel para o primeiro grande setor da economia a sentir o baque da revolução digital, em 1999, com o surgimento do Napster, o site de compartilhamento de arquivos que abalou a indústria fonográfica.

Já superou o CD

O modelo está dando bons resultados para o mercado da música, e o futuro é promissor.

Em 2014, por exemplo, foi a primeira vez na história que as receitas obtidas com assinaturas de serviços de streaming superaram as vendas de CDs nos EUA. Segundo dados divulgados recentemente pela Associação das Gravadoras dos Estados Unidos (RIAA, na sigla em inglês), o streaming cresceu 29% e obteve um faturamento de US$ 1,87 bilhão. O CD, por sua vez, arrecadou US$ 1,85 bilhão, uma retração de 12% em relação ao ano anterior.

O download (venda de faixas avulsas ou álbuns digitais, distribuídos principalmente via iTunes) ainda lidera o mercado, com 37% e receita de US$ 2,57 bilhões. Em segundo lugar estão os formatos físicos, puxados pelo CD, com 32% do faturamento da indústria fonográfica, seguido pelo streaming, com 27%. O importante a ser observado é a curva: a do streaming é ascendente, enquanto a do download é de queda – encolheu 8,7% e ficou em US$ 2,58 milhões.

Sites como Spotify, Rdio, Deezer, SoundCloud, Groveshark, Napster, GVT Music e Pleimo são alguns que nasceram como plataformas de streaming de música. Os gigantes da internet, como Google e Apple, já sentiram o cheiro de lucro e se movimentam nessa área.

Problemas a resolver

O futuro para o streaming é promissor, mas nem tudo são flores. Ainda é preciso superar obstáculos, como a renumeração das gravadoras e, principalmente, dos músicos. Artistas como Taylor Swift têm vivem às turras com o Spotify, o líder do setor. 
Em geral, os sites que oferecem o serviço pagam centavos por execução de cada música – a exceção é o Pleimo, que direciona 20% da assinatura para a banda que o usuário escolher.

No Spotify, por exemplo, a venda de álbuns não tem um preço fixo, mas sim um valor por faixa tocada, estipulado a partir de alguns critérios, como a taxa de royalties combinada entre a gravadora e o Spotify. Assim, a remuneração por stream pode ficar entre US$ 0,006 e US$ 0,0084 para o músico.

Trata-se de um ponto sensível, pois, para o modelo se consolidar, é preciso que todo o ecossistema se sinta contemplado – o criador é parte vital nesse processo. 

Mas a tendência, acredito, é que se chegue em algum momento a meio termo satisfatório quanto à remuneração.

Motivos para o otimismo

Fazendo essa ressalva, podemos observar algumas razões para explicar por que o streaming é o futuro da música:

• Preço convidativo: usuário se mostra disposto a pagar uma assinatura na casa dos R$ 15 ou R$ 20 para ter acesso ao conteúdo;

• Pirataria: o acesso ao conteúdo por um valor módico mensal, ao estilo Netflix, atrai o usuário e gera receita. Assim, o streaming pode tirar o fôlego da pirataria, o que beneficia a todo o mercado. 

• Praticidade: a banda larga e o 3G estão longe de ser serem serviços de qualidade no Brasil. Ainda assim, é prático acessar as plataformas de streaming no computador, smartphone ou tablet. Muitos usuários já fazem festinhas em casa ao som de serviços de streaming;

• Ampliação do conhecimento musical: as plataformas oferecem diferentes maneiras de ordenar as faixas e criar playlists. Algumas têm rádios temáticas e sistemas de recomendação conforme o gosto do usuário.

• Acervo: os acordos entre as plataformas e as gravadoras avançaram muito, o que permite ao usuário ter acesso ao trabalho de ídolos de todos os gêneros. Spotify e Deezer, por exemplo, afirmam ter mais de 30 milhões de música disponíveis.