16/10/2013 - 4:40
O Walmart anunciou que pode fechar até 25 lojas até o final do ano no Brasil. Segundo comunicado da varejista, as unidades são de pequeno e médio porte e foram escolhidas por apresentarem ?baixo desempenho?. Com um faturamento de R$ 25,9 bilhões, o Walmart é a terceira maior rede varejista do País, atrás de Pão de Açúcar e de Carrefour. A medida traz de volta à tona uma antiga questão sobre a empresa: por que a maior empresa de varejo do mundo não consegue decolar no Brasil?
Especialistas em varejo ouvidos pela DINHEIRO afirmam que as dificuldades enfrentadas pela empresa no País têm raízes, justamente, no seu modelo de negócios tão bem-sucedido nos Estados Unidos. Quando chegou ao País, em 1995, o Walmart focou, inicialmente, no crescimento orgânico, replicando por aqui o modelo americano de grandes centros de compra.
?Nas décadas de 1970 e 1980 fazia sentido replicar modelos estrangeiros no Brasil?, afirma Ricardo Pastore, coordenador do Núcleo de Varejo da Pós-graduação da ESPM. ?Nos anos 1990, o mercado já havia atingido um nível de amadurecimento que exigia um modelo exclusivo.?
A partir de 2004, a empresa mudou a estratégia, fazendo uma série de aquisições. Nesse momento, os americanos conseguiram, enfim, chegar a uma posição de liderança em algumas regiões, como o Nordeste. Os problemas, no entanto, não cessaram. Apesar de ganhar musculatura, a empresa passou a enfrentar dificuldades para integrar suas operações.
Os sistemas de gestão do Bom Preço, comprado em 2004, e do Sonae, adquirido em 2005, por exemplo, só foram unificados no final do ano passado. ?O Walmart é uma empresa com processos muito bem definidos e isso sempre foi um dos seus pontos fortes?, afirma Pastore. “A falta de integração anulou grande parte da sua força.”
A situação só se agravou nos últimos anos, fato que ficou evidente com a frequente troca de comando na empresa. Desde 2008, foram três presidentes: Hector Nuñez, Marcos Samaha e Guilherme Loureiro, que assumiu o cargo em agosto deste ano.
Para tentar reverter o quadro, o Walmart, mais uma vez, tentou replicar um modelo americano. A empresa adotou no Brasil, em 2011, a mesma política de preços que o tornou quase imbatível nos Estados Unidos. Chamada no País de ?Preço Baixo Todo Dia?, a estratégia prevê o fim das promoções pontuais, garantindo ao consumidor o menor preço somando todos os produtos comprados.
A questão é que, para ser bem-sucedida, essa estratégia depende de uma mudança cultural. ?O brasileiro está muito acostumado com as promoções?, diz Alberto Serrentino, sócio da consultoria GS&MD Gouvêa de Souza. ?Mudanças como essa levam tempo, ainda mais quando ela é proposta por alguém que não lidera o mercado.?
Doug McMillon, CEO mundial do Walmart, ao anunciar o fechamento das lojas, disse que a operação brasileira da empresa fez ajustes operacionais positivos recentemente. ?Mas ainda há trabalho a fazer?, afirmou o executivo. O impacto da medida nas vendas ? que também inclui o encerramento de outras 25 lojas na China ? deve ser de 2% a 3%.