16/05/2016 - 0:00
Não foram poucas as vezes que eu bati aqui nos ex-campeões Palio e Gol, que dominaram a cena automotiva brasileira durante muitos, devido à desatualização técnica de ambos. Esses carros foram ultrapassados em qualidade por vários concorrentes e, por isso, desabaram nas vendas. Recentemente, o Gol melhorou e suas vendas subiram imediatamente.
Mas o que é certo é certo: criticados ou não, os modelos da Fiat e da Volkswagen ainda vendem mais do que os contemporâneos Hyundai HB20 e Ford Ka, respectivamente. Decidi escrever isso porque eu mesmo convivi alguns dias com a errônea informação de que o HB20 tinha conquistado em abril o primeiro lugar em vendas. Felizmente não publiquei nenhuma linha sobre isso.
Devido a um press-release divulgado no dia 3 de maio pela Abrahy (Associação Brasileira dos Concessionários Hyundai), a família HB20 (hatch e sedã) passou a ser considerada por muitos como a mais vendida do Brasil. Um colega jornalista que recebeu o release comentou comigo sobre a liderança da família HB20. Surpreso, guardei a informação para tratar do tema neste blog.
Quando montei o ranking das famílias, entretanto, como já tinha feito no ano passado, notei que o HB20/HB20S não apenas está atrás do Chevrolet Onix/Prisma no acumulado do ano, como também perdeu em abril! Então fiz uma pesquisa mais abrangente e decidi escrever novamente sobre essa questão das famílias de carros. Nesse ranking, a família HB20 aparece atrás da família Palio e a família Ka perde para a família Gol.
Por que a Abrahy divulgou um press release dizendo que a família HB20 foi a mais vendida em abril? Desinformação ou má fé? Conversei com um dos jornalistas responsáveis pela divulgação dessa notícia e ele me disse que, na visão dele e da associação, carros com nomes diferentes não podem ser considerados na mesma família. Respeito seu paradigma, mas acho um absurdo! Ora, se HB20 hatch vendeu menos do que o Onix e o HB20S vendeu menos que o Prisma, como ele poderia ter ficado na liderança? Sem dúvida, houve uma forçada de barra nessa imprecisa notícia.
Tal distorção acontece porque o batismo de carros da mesma família com nomes diferentes é quase uma jabuticaba, a fruta que só existe no Brasil. É comum em outros países a utilização de nomes complementares para versões derivadas do hatch, mas neste patropi as montadoras mais tradicionais simplesmente eliminam o primeiro nome. Não chega a ser uma jabuticaba como as picapinhas, mas é raro.
Dessa forma, um Gol sedã vira Voyage, um Gol perua vira Parati e um Gol picape vira Saveiro. Na mesma toada, um Palio sedã vira Siena, um Palio picape vira Strada e um Palio perua vira Weekend, embora tenha nascido como Palio Weekend.
O nome, na verdade, é um fator de marketing para destacar ou diferenciar um determinado tipo de carroceria, mas jamais pode ser dissociado do carro original quando for considerada a família do modelo. Para se ter uma ideia da falta de rigor das próprias montadoras na hora de batizar seus carros, o nome Prisma, atualmente usado pelo sedã derivado do Onix, foi usado durante anos no sedã derivado Chevrolet Celta. Outro caso clássico é o Classic. Esse nome já foi complemento do Chevrolet Monza e hoje batiza o Corsa sedã, que há anos vendido como Chevrolet Classic, mas nasceu como Corsa Sedan.
Mas, afinal, o que define uma família de carros? É a plataforma? Não. Considerar o Peugeot 208 e o Peugeot 2008 como modelos da mesma família equivale a dizer que um bolo de cenoura e uma torta de palmito são iguais porque compartilharam a mesma forma ou o mesmo forno. A modificação na receita de um hatch é enorme para chegar a um SUV de verdade (não falo das versões aventureiras). Portanto, um bolo de cenoura só pode ser considerado da mesma família de um bolo de fubá, por exemplo – e olhe lá. Voltando aos carros, consideramos da mesma família somente os modelos que tenham a mesma carroceria até a coluna B.
As modificações a partir daí (porta-malas saliente, caçamba, entre-eixos maior etc.) não eliminam a familiaridade dos carros. Apesar da classificação cada vez mais diversificada criada pelas montadoras (compacto, subcompacto, micro-compacto, SUV, SAV, crossover, SUP etc.), a forma dos carros convencionais continua sendo dividida em apenas 10 tipos: hatch, sedã, perua, cupê, conversível, monovolume, SUV, picape, van e furgão.
Sendo assim, desconsiderando os nomes das versões derivadas, a lista dos 20 carros mais vendidos do Brasil, no acumulado de janeiro a abril, é a seguinte: Chevrolet Onix (66.356 unidades), Fiat Palio (57.455), Hyundai HB20 (52.189), Volkswagen Gol (40.386), Ford Ka (29.173), Renault Sandero (22.171), Toyota Corolla (21.047), Honda HR-V (20.499), Volkswagen Fox (19.579), Toyota Etios (19.215), Jeep Renegade (17.284), Fiat Uno (16.907), Toyota Hilux (14.280), Volkswagen Up (13.584), Chevrolet Cobalt (13.244), Nissan March (12.156), Renault Duster (11.245), Honda Fit (9.047), Ford EcoSport (8.364) e Fiat Toro (8.178).