Santa Catarina se tornou o principal destino dos brasileiros que mudam de estado, segundo revelou o IBGE. Segundo os números do Censo, o saldo entre pessoas que saíram e chegaram ao estado entre 2017 e 2022 foi positivo em 354 mil, quase duas vezes maior que o do segundo colocado, Goiás, com 186 mil.

O fenômeno de migrações para Santa Catarina não é novo. Em 2010, o IBGE já registrava saldo migratório positivo no estado. Houve, no entanto, uma intensificação da chegada de migrantes na última década.

O que explica o boom de Santa Catarina

Professor do departamento de geociências da UFSC (Universidade Federal de Santa Catarina), Elson Pereira explica que migrações são fenômenos complexos e multifatoriais. No entanto, é possível destacar algumas das principais causas da maior atratividade do estado: bons índices econômicos e de qualidade de vida, um marketing territorial construído pelo poder público desde a década de 1990 e o envelhecimento populacional.

“Em comparação com a média nacional, Santa Catarina tem uma segurança pública maior, baixo índice de desemprego, grande formalização nas relações de trabalho e uma alta renda média. Repito, sempre comparado com a média dentro do próprio território nacional”, explica Pereira.

O estado de onde saíram mais pessoas rumo a Santa Catarina nos últimos anos foi o Rio Grande do Sul, que no período apresentou desaceleração econômica e, em alguns momentos, até encolhimento do Produto Interno Bruto (PIB). “Toda migração tem dois lados: um que atrai e outro que recua”, destaca Pereira.

Em relação aos empregos disponíveis, a indústria catarinense segue apresentando crescimento enquanto o país luta para frear um processo de desindustrialização. Segundo boletim do governo estadual, o setor cresceu 8% nos 12 meses encerrados em março.

Marketing territorial e local para aposentadoria

O professor comenta que, desde a década de 1990, Florianópolis e outras cidades investem em marketing para atrair visitantes. “É vendida a imagem de um estado seguro. Veja que as cidades que mais receberam migrantes tem muita relação ou com a indústria ou com o turismo”, destaca.

“Evidentemente esse marketing não busca uma migração. Ele busca a venda de um produto turístico. A migração é um efeito que vai a reboque disso”, diz o pesquisador, acrescentando que o crescimento ocorre sobretudo em regiões litorâneas como Bombinhas e Porto Belo, além da capital Florianópolis e Balneário Camboriú. Pelo lado industrial, Joinville e Chapecó são destaques.

Com o envelhecimento populacional brasileiro, aumenta também a procura de áreas litorâneas onde seja possível uma aposentadoria tranquila. Também pesam a possibilidade do trabalho remoto e um movimento de troca de grandes centros urbanos por cidades menores, em busca de mais qualidade de vida.

Mesmo com o aumento da população, vale destacar que Santa Catarina é apenas o décimo estado mais populoso do país, com 7,621 milhões de habitantes, e com várias cidades relevantes no interior, como Blumenau, Chapecó e Criciúma. Outra curiosidade é que é Joinville, no norte, tem população maior que a capital Florianópolis.

Valorização imobiliária

A onda migratória causa uma explosão de preços no mercado imobiliário do estado. De acordo com o Índice FipeZAP, a cidade de Balneário Camboriú (SC) tem o metro quadrado mais caro do país: R$ 14.828. Na segunda colocação vem Itapema (SC), com o m² custando R$ 14.547. Depois de Espirito Santo em 3º, outras duas cidades catarinenses completam o top 5: Itajaí (SC) na 4ª posição com R$ 12.559 e Florianópolis (SC) em 5º com R$ 12.355.

Iniciativas privadas intensificam ainda mais o marketing das regiões: construtoras investiram nos últimos anos na construção de arranha-céus na região. Atualmente, 7 dos 10 prédios mais altos do Brasil estão em Balneário Camboriú. Na mesma cidade, está sendo construído o futuro líder do ranking, a Senna Tower, que terá 550 metros de altura.

Atratividade de SC em indicadores

  • PIB per Capita: 5º maior PIB per Capita do país (R$ 61.274), atrás do DF, RJ, SP e MT
  • Desemprego: Menor entre todas as unidades federativas no 1º trimestre de 2025 (3%)
  • Menor taxa de informalidade no trabalho: entre os empregados do setor privado, 87,8% tem carteira assinada
  • Indústria forte: o setor é o que mais emprega no estado, que tem entre as suas maiores empresas a Bunge, a BRF e a WEG;
  • Índice de Desenvolvimento Humano (IDH): 3º maior do país, atrás só de DF e SP
  • Remuneração média: 5ª maior do país (R$ 3.698), atrás do DF, SP, PR e RJ
  • Taxa de homicídios: 3ª menor do país (6,68 por 100 mil habitantes), atrás de SP e do DF
  • Taxa de mortes no trânsito ou em decorrência dele: 2ª menor do país (5,62 por 100 mil habitantes), atrás do AM

Veja o ranking das UFs por saldo migratório

#Unidades da FederaçãoSaldo MigratórioImigrantesEmigrantes
1Santa Catarina354.350503.580149.230
2Goiás186.827371.355184.528
3Minas Gerais106.499426.265319.766
4Mato Grosso103.938206.858102.920
5Paraná85.045327.943242.898
6Paraíba30.952119.69588.743
7Espírito Santo27.868102.40274.534
8Mato Grosso do Sul17.674105.94188.267
9Tocantins6.03171.88765.856
10Ceará-697135.791136.488
11Roraima-2.73819.61822.356
12Rio Grande do Norte-4.63361.44766.080
13Sergipe-6.03652.32958.365
14Piauí-13.27487.603100.877
15Amapá-17.58517.43935.024
16Rondônia-22.75943.31766.076
17Acre-23.74410.22633.970
18Pernambuco-41.486145.645187.131
19Bahia-41.549285.774327.323
20Alagoas-42.63074.772117.402
21Amazonas-46.35845.78992.147
22Rio Grande do Sul-77.839134.678212.517
23São Paulo-89.578736.380825.958
24Pará-94.097155.327249.424
25Distrito Federal-99.593116.581216.174
26Maranhão-129.228130.658259.886
27Rio de Janeiro-165.360167.214332.574

Depois do Sul, o segundo maior saldo migratório é do Centro-Oeste, impulsionado pelo agronegócio. O reforço desse setor econômico tende a aumentar a oferta de emprego em outras áreas, como no funcionalismo público e no comércio local.

Já a região Norte registra saltos negativos na diferença entre imigrantes e emigrantes. No censo 2022, o Pará aparece em 4º entre os estados com maior quantidade de pessoas que mudaram para SC no período.

Embora acredite na manutenção do boom de Santa Catarina no curto prazo, Pereira destaca que a própria migração cria no médio e longo prazo condições para sua desaceleração. “Geram demandas habitacionais, de saúde, de saneamento. Vão exigir um grande aporte de recursos do estado. Além disso, o efeito do aumento da mão de obra disponível é também diminuir os salários”, explica.

O professor destaca os casos de São Paulo e Rio de Janeiro: após décadas com saldo migratório positivo, os estados pela primeira vez contabilizam mais pessoas emigrando do que chegando para morar em seu território.