Quando deixou a presidência do grupo Pão de Açúcar, em janeiro de 2014, o executivo Enéas Pestana foi chamado para uma conversa com Wesley Batista, o CEO global da JBS, o gigante brasileiro do mercado de proteína animal.

Na ocasião, ao seu estilo informal, Batista o convidou para trabalhar na JBS. “Escolhe alguma coisa para fazer aqui”, disse ele, segundo o relato de uma fonte.

Pestana não aceitou. Alegou que acabará de deixar o Pão de Açúcar e queria um tempo para descansar e repensar sua vida profissional. Quando abriu a sua consultoria, em outubro do mesmo ano, fechou um contrato com a JBS e concordou em fazer parte do conselho de administração da JBS Foods, dona da marca Seara.

Dois anos depois, o executivo, enfim, vai trabalhar na JBS. Nesta quarta-feira 17, Pestana assumiu a presidência da JBS para o Mercosul. A nomeação faz parte da nova estrutura de gestão regional colocada em prática pela JBS, que terá também as plataformas da América do Norte, da Europa e da Ásia-Pacífico.

“Era um namoro antigo”, disse Batista, em uma teleconferência com jornalistas, ao anunciar a contratação do novo executivo. “Estou full time aqui e eles vão contar com todo meu engajamento”, afirmou Pestana, que informou que o contrato de sua consultoria com a JBS foi cancelado.

A consultoria, no entanto, permanecerá. De acordo com Pestana, ele conta com seis sócios seniores e um time de 25 associados, que continuam prestando serviço aos clientes, como o varejista Máquina de Vendas. Só Pestana, neste momento, não estará mais presente no negócio.

O convite da JBS não foi o único que Pestana recebeu para voltar ao mundo executivo. Na mesma época em que conversou com Batista, ele teve um encontro com André Esteves, na época o comandante todo-poderoso do banco de investimento BTG Pactual.

Esteves também o convidou para ser sócio do banco, no modelo de “partnership” que caracteriza a instituição financeira. Mais uma vez, Pestana não aceitou.

Com a sua consultoria aberta, muitos dos clientes o queriam na linha de frente, como o executivo que tocaria a reestruturação. Foi o caso da Saraiva, que fechou um contrato de reestruturação com a consultoria de Pestana, mas tentou levá-lo também para assumir a presidência.

Na maioria das vezes, Pestana recusava e indicava pessoas de sua confiança para assumir as empresas. Foi assim na rede de farmácias BR Pharma e na varejista Leader, ambas controladas pelo BTG Pactual.

Só a Máquina de Vendas conseguiu convencê-lo a assumir a presidência da operação, logo depois de fechar um contrato de consultoria. Mesmo assim, ele ficou pouco tempo por lá. Foram apenas cinco meses, no qual considerou o trabalho feito e pronto para ser tocado por Ricardo Nunes, um dos sócios da companhia, que retornou ao comanda da empresa.

À frente da JBS no Mercosul, Pestana terá um desafio diferente. Pela primeira vez em muito tempo, não estará à frente de uma operação de varejo, função que o caracterizou nas duas últimas décadas – ele também trabalhou no laboratório Dasa e na GP Investments.