A casa de Finca Vigía, nas cercanias de Havana, em Cuba, é um passeio pela vida de Ernest Hemingway. Ele viveu ali entre 1939 e 1960. Em uma máquina de escrever portátil, ainda à vista, escreveu dois clássicos do Século XX: Por quem os sinos dobram e O Velho e o Mar. A sala, os quartos, os livros, o banheiro, a cozinha ? quase tudo, na residência, está como no tempo em que Hemingway recebia convidados como Ava Gardner, Gary Cooper, Esther Williams e Ingrid Bergman. Recentes furacões destruíram parte do telhado do lugar ? e há o receio de que novas tempestades aumentem os estragos. É possível que façam menos barulho que uma decisão de uma entidade americana, o National Trust, que pôs o lar cubano de Hemingway numa lista de ?lugares históricos americanos em perigo?.

Deu-se imensa confusão porque o governo de Fidel Castro, naturalmente, não considera a Finca um espaço de propriedade dos Estados Unidos, além de negar os riscos apontados pelo estudo. Gritam contra o que consideram um ataque à soberania da ilha. ?A residência precisa ser restaurada, sim, mas está muito longe de estar em perigo?, diz Marta Arjona, do Conselho Cubano da Herança Cultural. Em defesa da listagem, especialistas americanos argumentam que é necessário auxiliar com dólares ? e a inclusão na polêmica lista ajudaria a acelerar este processo. É a primeira vez na história que um endereço fora dos Estados Unidos entra no rol do patrimônio ameaçado da terra do Tio Sam. Ao lado dele estão casas de antigos mandatários da Casa Branca e pontos no Alasca.

O embate ao redor de Hemingway é confusão grande, mistura de política e economia. Diante da inexistência de relações entre o país de Bush e o de Fidel, o Congresso americano precisa liberar o envio de dinheiro. Estima-se o montante adequado é algo entre US$ 2 milhões e US$ 3 milhões. Os cubanos rechaçam a proposta porque ela representaria capitulação aos Estados Unidos. Os gusanos, como são chamados os cubanos que vivem em Miami, também são contra porque fazem de tudo para engrossar o vergonhoso embargo econômico.

A favor da turma de Fidel cabe lembrar que a Finca Vigia é o endereço de Hemingway mais preservado em todo o mundo. Há 9 mil livros, manuscritos, troféus de pesca e boxe e o lendário barco Pilar, que inspirou O Velho e o Mar. Nos Estados Unidos, a casa do escritor em Key West, na Flórida, já não tem móveis originais. A fazenda em Ketchum, em Idaho, onde ele se mataria em 1961 com um tiro de espingarda, também está desfigurada. É hora de acompanhar o legado de Hemingway e se perguntar: por quem os sinos dobram? Não dobram para o oportunismo de lideranças americanas interessadas em provocar Havana e tampouco para os funcionários da casa cubana que, em troca de alguns trocados, na surdina, permitem fotografias com flash e mesmo o acesso ao interior da casa , proibidas por vistosos cartazes.

As viagens de Hemingway
Os lugares onde ele viveu e buscou inspiração para seus
romances tornaram-se pontos turísticos

1921 ? Vai pela primeira vez a Paris. Vive num hotel no Quartier Latin. Conhece Ezra Pound e Gertrude Stein. Nascem os loucos Anos 1920, cujo tempo seria relatado em Paris é uma Festa. O escritor batia ponto na livraria Shakeaspeare & Company

1923 ? Desembarca em Pamplona, na Espanha. Ali começa a freqüentar as touradas. O período espanhol resultaria no romance O Sol também se Levanta1931 ? Compra uma casa em Key West, na Flórida,
onde aperfeiçoa sua fascinação pela pesca ao longo
de dez anos.

1939 ? A Finca Vigía, em Havana, torna-se o repouso do escritor e cenário do romance O Velho e o Mar. Hemingway bebe firme na Bodeguita del Medio. Ali ele viveu até 1960, quando mudou-se para Ketchum, em Idaho, nos Estados Unidos, onde se mataria em 1961.