Um grande cartaz fixado por manifestantes e sindicalistas em uma das avenidas mais movimentadas do centro histórico de Roma diz: “Vogliamo il ritorno della nostra Italia”. A mensagem, que em português significa “Queremos nossa Itália de volta”, é um protesto silencioso contra a profunda crise em que o país está prestes a mergulhar, provavelmente o mais grave cenário econômico desde a Segunda Guerra Mundial. A atual dívida pública italiana, equivalente a quase 120% do PIB (na zona do euro, menor apenas que os 150% da Grécia), que ameaça colocar em colapso os serviços públicos, forçou o governo do primeiro-ministro Silvio Berlusconi a anunciar na quinta-feira 14, um corte orçamentário de 79 bilhões de euros (cerca de R$ 180 bilhões)  para os próximos quatro anos. 

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Tensão social: protestos contra Silvio Berlusconi e seu plano de corte de gastos se espalham por todo o país

O corte, em si, não seria um problema, mas o freio nos gastos públicos obrigatoriamente afetará os generosos benefícios sociais do país, e desenhará um novo perfil econômico na oitava maior economia do mundo – e a quarta maior da Europa. A reforma fiscal italiana, ao que tudo indica, será rapidamente sentida pela classe trabalhadora. Entre as medidas aprovadas pelo Senado estão a redução de gastos públicos em áreas fundamentais como saúde, educação e segurança pública,  ajustes e cortes no setor previdenciário, redução dos subsídios do governo para administrações regionais, privatização de empresas estatais e municipais, taxação de ganhos em operações financeiras e proibição de acúmulo de cargo por funcionários públicos. Esse corte agressivo foi acelerado especialmente pela pressão internacional nos últimos dias. 

 

A meta de redução dos gastos, imposta pelo Fundo Monetário Internacional (FMI), como condição para a liberação de empréstimos, pretende achatar o déficit italiano para 3%, em 2012,  e para zero,  até 2014, em comparação com os 3,9% em relação ao PIB registrados neste ano. Para os próximos dias estão programadas dezenas de mobilizações sociais pelas ruas do país. Sindicatos e oposição criticam as medidas,  alegando que elas vão atingir em cheio a faixa mais pobre da população com cortes,  especialmente em aposentadorias e serviços médicos públicos. No entanto, é consenso que o imediato ajuste fiscal é crucial para o futuro não só da Itália como da própria economia do continente. 

 

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Grito de socorro: população tem saído às ruas para apelar por reformas e empréstimos

 

“Um eventual aprofundamento da crise na Itália teria um impacto muito maior na economia europeia e mundial do que a recessão que atingiu outras economias do bloco”, afirma o economista Matheus Höggen, da Universidade de São Paulo. “Controlar a situação agora é fundamental para evitar um default.” Esse receio de calote, que traria incalculáveis prejuízos à União Europeia, disparou o alarme no continente no início da semana. À situação italiana se somaram as preocupações em relação a Portugal, Irlanda, Grécia e Espanha – grupo de países endividados que recebeu a sigla PIIGS (“S” de Spain, em inglês, formando a palavra “porcos”). As incertezas em relação à Itália levaram pânico aos mercados durante toda a semana. 

 

Ainda não se sabe se o plano de recuperação será suficiente para colocar a economia italiana de volta aos trilhos. Um dos que estão em dúvida, é o próprio presidente do Banco Central italiano, Mario Draghi, o que lhe valeu a desaprovação pública de Berlusconi. “É preciso definir rapidamente um novo conteúdo de medidas para obter o equilíbrio do orçamento em 2014”, afirmou Draghi. Além disso, analistas também criticaram o pacote pela ausência de medidas para incentivar o crescimento. Em 2010, o PIB italiano cresceu apenas 1,2% e o país da bota perdeu o posto de sétima maior economia do mundo para o Brasil.

 

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De Roma