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“Só queremos que os brasileiros obedeçam aos nossos critérios produtivos” KEVIN KINSELLA, PRODUTOR IRLANDÊS

Após um ano de severas investidas, produtores irlandeses conseguiram, na semana passada, queimar o churrasco brasileiro. Pelo menos por enquanto. Com o veto temporário à carne in natura nacional e a imposição do pífio número de 300 propriedades certificadas para exportar para a União Européia, o Brasil poderá perder alguns bilhões. Por ano, a Europa compra cerca de 287 mil toneladas de carne brasileira e boa parte desse abastecimento ficará a cargo dos irlandeses. Trata-se de um mercado de US$ 1 bilhão/ano. Tal medida, no entanto, atende às exigências de um grupo de pecuaristas irlandeses, liderados por um homem de 49 anos, que atende pelo nome de Kevin Kinsella. Desde fevereiro do ano passado, esse senhor tem municiado todo tipo de jornal sensacionalista europeu contra o que chama de ?ameaça brasileira?. Para tanto, realizou duas visitas ao Brasil, uma delas sem o conhecimento das autoridades. Em sua expedição pessoal, fotografou fazendas não certificadas e todo tipo de propriedade, criando uma falsa impressão de que aquelas imagens seriam o retrato da pecuária brasileira. Em entrevista exclusiva à revista DINHEIRO RURAL, que está nas bancas desde 1º de fevereiro, ele diz que deseja apenas que os produtores brasileiros cumpram as mesmas exigências feitas aos pecuaristas irlandeses. ?É só isso, nada mais?, diz.

Mas a interpretação das autoridades brasileiras é diferente. Para o presidente da Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carne (Abiec), Marcus Vinícius Pratini de Moraes, os irlandeses têm mesmo é medo do Brasil. ?Temos qualidade e nosso preço é mais competitivo?, competitivo?, diz. ?Daqui a pouco eles vão querer nomear o nosso ministro da Agricultura?, ironizou. Pratini, que já foi ministro da Agricultura, lembra que o Brasil cumpriu todas as exigências feitas por aquele bloco. A medida também foi considerada excessiva pela pelo presidente do Fórum Nacional Permanente de Pecuária de Corte, da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil, Antenor Nogueira. ?Isso é embargo branco.? Segundo ele, considerando a média de 400 cabeças por propriedade, as 300 fazendas, propostas pela UE, não representam, por mês, sequer um contêiner exportado para o bloco. Quem também sofreu com a pendenga internacional foram os frigoríficos listados na Bovespa. O Friboi, o maior do mundo, viu suas ações ON perderem 0,84%, enquanto os mesmos papéis do Marfrig recuaram 0.83%. Em ambos os casos, as empresas dizem que redirecionarão as produções para outros países.

O fim do embargo, porém, ainda está distante. Apenas em 25 de fevereiro chegará ao Brasil uma missão da União Européia. Para resolver o dilema, os auditores europeus visitarão aleatoriamente fazendas que constam na lista apresentada pelo Ministério da Agricultura, em que estão 2.681 propriedades. Segundo informou o secretário de Defesa Sanitária do Ministério da Agricultura, Inácio Kroetz, a decisão sobre o levantamento das restrições dependerá, exclusivamente, da União Européia. ?Estamos tomando as medidas necessárias para preservar esse mercado?, diz. Enquanto isso, Kinsella, o carrasco da carne brasileira, pode até estar comemorando. Afinal, caberá a seus representados abastecer açougues e supermercados daquele bloco. Sem tanta oferta disponível, especialistas projetam aumento no preço do bife europeu. ?Podemos direcionar nossa produção para outros países?, diz Pratini, da Abiec.