21/10/2025 - 7:30
O Porto do Açu, maior complexo portuário industrial da América Latina, localizado no Norte do Estado do Rio de Janeiro, deve ter um fator ‘transformador’ logístico nos próximos anos, com potencial de aumentar os volumes em dezenas de milhões de toneladas: a conexão de uma ferrovia.
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O projeto da EF-118, que conectará o Espírito Santo ao Rio de Janeiro, deve passar pelo crivo do Tribunal de Contas da União (TCU) nos próximos meses e finalizar todos os trâmites burocráticos ainda no primeiro trimestre do ano de 2025, com a publicação do edital, segundo o CEO do Porto do Açu, Eugenio Figueiredo.
“A conexão do complexo industrial do Porto do Açu com uma malha ferroviária eleva o nosso nível de capacidade de movimentação em N vezes. Hoje a gente só tem o acesso rodoviário e traz todos os volumes de caminhão, mas ele [projeto de malha ferroviária] descortina um leque de potencial de volume e de capacidade bem maior. Essa ferrovia que está sendo discutida, que potencialmente vai passar por um processo de licitação e de concessão, pode trazer volumes em torno de 20 milhões de toneladas”, diz o executivo em entrevista à IstoÉ Dinheiro.
Caso o trâmite transcorra conforme o esperado, a primeira primeira etapa dessa ferrovia deve começar a operar entre 2033 e 2035.
No acumulado do ano de 2024 o Porto do Açu teve um volume de 78 milhões – ou seja, a malha ferroviária poderá representar um incremento de 25,6% ante esse volume, ou 1,26x.
Entenda o projeto da nova ferrovia
A ferrovia EF-118 terá extensão de 575 quilômetros, conectando Nova Iguaçu, no estado do Rio de Janeiro, com o município de Santa Leopoldina, no estado do Espírito Santo, promovendo a integração da malha ferroviária do Sudeste e garantindo o acesso ferroviário a vários terminais portuários.
Do total, 80 quilômetros – trecho entre Santa Leopoldina e Anchieta – serão construído pela Vale, como contrapartida pela prorrogação antecipada das suas ferrovias, e passará a integrar o contrato de concessão da Estrada de Ferro Vitória-Minas (EFVM).
Já um trecho de aproximadamente 170 quilômetros entre Anchieta e o Porto do Açu integrarão uma nova concessão, alvo de estudo de viabilidade, podendo contemplar ainda a construção do trecho de 325 quilômetros entre o Porto do Açu e Nova Iguaçu. O trecho em questão está enquadrado na concessão como um investimento contingente que será realizado por uma concessionária.
Raio-X da EF-118:
- Prazo: 50 anos
- Extensão: 575 Km
- Investimento previsto (Capex): R$ 4,6 bilhões
- Custos operacionais previstos (Opex): R$ 4,4 bilhões
- Demanda (em milhões de toneladas): potencial de operação de aproximadamente 40 milhões de toneladas no longo prazo
- Participação da União: R$ 3,28 bilhões
- Critério de julgamento do leilão: maior Lance, atrelado ao menor valor do auxílio pré-determinado licitado
Porto do Açu quer ser ‘nova rota para o agro’
Eugenio Figueiredo relata também que o porto começou a fazer o escoamento de parte da produção do agronegócio, com um estreitamento de relacionamento com áreas produtoras de Minas Gerais, Goiás e leste do Mato Grosso.
“O que a gente tem feito é mostrar para os produtores que o Porto do Açu pode ser uma nova rota para escoar a produção com eficiência e com competitividade versus o que eles fazem hoje”, conta.
Conforme detalhado pela IstoÉ Dinheiro, o porto, que já é conhecido como maior exportador de petróleo e gás do Brasil, quer começar uma nova fase de olho no agronegócio, aumentando a participação no embarque de fertilizantes e grãos.
A unidade foi inaugurada em meados de 2015 e atua no agro desde 2020. No ano passado, foram cerca de 550 mil toneladas de grãos transportadas, incluindo soja, milho, café e trigo. A expectativa para 2025 é atingir 1 milhão de toneladas.
Atualmente a gestão investe em uma estratégia que envolve um acordo de intenções com o governo de Goiás e a inauguração de um terminal exclusivo para grãos até 2028 – projeto que exigirá um investimento de R$ 500 milhões e deve movimentar 1,8 milhão de toneladas no primeiro ano.
De 2023 até agora o porto transportou, em toneladas:
- Soja – 242.939
- Milho – 134.037
- Trigo – 32.546
- Café- 15.549
A gestão focou, inicialmente, na importação de fertilizantes, visando ser uma alternativa ao Porto de Vitória, uma unidade portuária que historicamente sofre com longas filas de navios e custos de demurrage – termo para descrever taxas cobradas pelo atraso na devolução de contêineres após o período de tempo livre estabelecido no contrato de transporte marítimo.
Todavia, para viabilizar o frete rodoviário dos fertilizantes – muito caro caso fosse apenas importação – a gestão mirou então a exportação de grãos como contrapartida, dado que o produto que tem o maior fit com o fertilizante para otimizar os custos logísticos.
Após isso, o Porto do Açu passou a investir mais pesado no transporte de grãos e espera aumentar o share de participação no transporte dos produtos do setor que tem a maior participação no PIB brasileiro.
Ex-porto de Eike
A unidade, localizada em São João da Barra, no norte do estado do Rio de Janeiro, foi concebida pelo empresário Eike Batista em meados de 2007, visando se tornar o maior porto do país e o maior estaleiro das Américas, além de um polo industrial.
O porto abriga 28 empresas e 11 terminais de classe mundial.
Sete anos após o início das obras, em 2014, foram iniciadas as operações portuárias, em 2014, com o primeiro carregamento de minério de ferro.
O custo total da obra até a entrada em operação foi de R$ 9 bilhões – superando com folga o orçamento inicial, que era de R$ 1,4 bilhão.
Atualmente Eike não possui nenhuma relação com a gestão do Porto do Açu. A gestora americana EIG assumiu o controle no fim do ano de 2013 e fez um aporte de R$ 1,1 bilhão, passando a deter a fatia de 53% da então LLX, rebatizada para Prumo Logística. Atualmente, a Prumo Logística Global S.A. é controlada pela EIG Management Company LLC (93,1%) e pelo fundo soberano de Abu Dhabi, Mubadala Development Company (6,9%).