16/04/2021 - 12:30
A pandemia colocou a Positivo Tecnologia, maior fabricante brasileira de computadores, diante de dois cenários diferentes. No primeiro, as lojas físicas fechadas, a alta do dólar e a falta de componentes mostravam um caminho pessimista. No outro, aumento da demanda por equipamentos e ferramentas tecnológicas para garantir mais qualidade no home office e nas atividades escolares apresentava uma possibilidade mais otimista. O resultado dessa equação, após uma série de adaptações e mudanças em alguns processos da companhia, foi um quarto trimestre de 2020 com faturamento histórico de RS$ 887 milhões, aumento de 59% ao registrado no mesmo período de 2019. O que ajudou a fechar a receita anual em R$ 2,192 bilhões, com lucro líquido de R$ 195,8 milhões, 1.093% superior aos R$ 16,4 milhões contabilizados no ano anterior. Números que proporcionaram os maiores crescimento e rentabilidade dos últimos dez anos para a empresa criada em 1989. “Além da retomada do mercado de computadores, nosso portfólio ampliado começou a dar frutos e a se sedimentar, para ser opção importante de receita junto ao nosso core business”, afirmou à DINHEIRO Hélio Rotenberg, fundador e presidente da Positivo Tecnologia.
Mas quem vê os resultados não imagina a dificuldade de, a princípio, manter a operação e, posteriormente, atender aos milhões de pedidos de pessoas físicas e juridícas e órgãos públicos de Educação. “Não me lembro de ano tão difícil”, disse o executivo. As fábricas na Ásia, onde estão alguns fornecedores da Positivo, fecharam no início de 2020. O dólar subiu. Os preços das peças aumentaram pela escassez e pela variação cambial. O valor do frete marítimo da Ásia para o Brasil disparou de US$ 1 mil para mais de US$ 9 mil. Por aqui, os voos foram cancelados e o escoamento de produtos em território nacional foi prejudicado. As lojas baixaram as portas. Os funcionários administrativos foram trabalhar de casa. O desafio foi sustentar a produção das quatro fábricas, em Curitiba (sede da empesa), São Paulo, Manaus e Ilhéus e seguir com as vendas. Foram centenas de exaustivas reuniões virtuais para executar um plano. A saída, como a maioria das corporações, foi pelo on-line. As vendas, que eram 70% por canais físicos e 30% pela internet, se inverteram.
Protocolos sanitários rígidos sustentaram as fábricas abertas. Foram efetivadas renegociações de custos e prazos com parceiros e fornecedores. E o período de entrega para os clientes foram estendidos. Até um vice-presidente de Finanças e Relações com Investidores (Caio Moraes) foi contratado virtualmente no meio da crise, em julho passado. “Tive apenas um encontro presencial com ele nesses oito meses”, afirmou o presidente. As rodas de manufatura e de comercialização se ajustaram aos poucos. E terminaram o ano azeitadas, com números históricos. “A luta foi muito árdua. Todo mundo se sensibilizou e entendeu o momento, que não é normal.”
Todo esforço foi feito para manter abastecido o mercado que estava aquecido. Globalmente, a venda de computadores atingiu 302 milhões de unidades em 2020, 13% a mais do que em 2019, segundo dados da IDC. No Brasil, foram comercializadas 6,3 milhões de máquinas, aumento de 8,6%. Em um mercado nacional inundado de equipamentos importados, a empresa ocupa a terceira posição e possui 15,8% de market share, à frente de Asus, HP e Samsung, e atrás de Dell e Lenovo, que lideram o ranking.
Em um negócio tão concorrido, com grandes marcas globais, e para não ficar para trás, a Positivo iniciou há quatro anos sua “transformação”, como define Rotenberg, simbolizada pela mudança do nome da empresa de Positivo Informática para Positivo Tecnologia. Mas essa transformação também pode ser chamada da já citada ampliação de portfólio. Ou ainda como “avenidas de crescimento”, como são tratadas internamente as novas vertentes de negócio. São elas Servidores, Pequeno Varejo, Tecnologia Educacional, IoT, Soluções de Pagamento e HaaS (Hardware as a Service), que representam 19% da receita consolidada em 2020.
O desafio é manter a qualidade dos produtos e serviços entregues nas últimas três décadas, que se tornaram referência no País. “Parece-me um movimento excelente e que vem trazendo resultados bastante promissores”, disse Fernando Moulin, professor da ESPM e da Live University, especialista em negócios, transformação digital e experiência do cliente. Ele ressalta como pontos importantes da companhia a tradição relevante no mercado, um market share significativo, presença latino-americana, ações listadas em bolsa e resultados excepcionais em 2020. “Está bem-posicionada competitivamente e encontrando novas linhas de produtos e serviços que ajudarão neste processo de expansão e rentabilização.”
Roberto Camargo, CEO da URL Business, professor de MBA, palestrante e consultor especialista em presença digital, observa que a estratégia da Positivo está alinhada com as tendências de consumo. “A linha IoT da Positivo tem um grande futuro na automação residencial”, afirmou. O sucesso desses itens já é, de fato, realidade. Em recente promoção de uma grande rede de varejo, foram vendidas 45 mil lâmpadas inteligentes da Positivo em apenas 48 horas. Além de lâmpadas, outros itens da Positivo Casa Inteligente são interruptores, câmeras, controles e fechaduras. São 250 mil usuários únicos do app por onde são controlados esses dispositivos. Aumento de 1.500% em relação aos 15,5 mil de 2019.
No campo de soluções em pagamento, a companhia desenvolve terminais inteligentes para a Cielo. As maquininhas permitem a integração completa das necessidades do varejo, desde o inventário, passando por PDV, checkout móvel, QR Code e PIX. Os dispositivos são ancorados no sistema Android, outro diferencial. “As soluções em pagamento estão em alta há muitos anos e cada vez mais novidades chegam nessa área”, afirmou o especialista Roberto Camargo.
Um outro destaque das “avenidas de crescimento” da Positivo é a área de urnas eletrônicas. A companhia venceu licitação do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) para fornecer 180 mil equipamentos, em contrato de R$ 800 milhões. A previsão é de entrada de 40% desse valor neste ano, pois já há pedido de 147 mil urnas para entrega em 2021 e 2022. Nessa esteira, o presidente da empresa vislumbra atuação em frentes semelhantes. “Estamos pensando em terminais lotéricos também”, disse Rotenberg.
“Em 1989 éramos uma startup, começamos pequenos. Temos de incentivar quem está começando também” Hélio Rotenberg, presidente da Positivo Tecnologia.
A criação de um fundo de investimentos, a partir de 2017, também integra o projeto de transformação da Positivo. Entre as 11 startups que receberam aportes até o momento estão a Hi Technologies, da área de saúde, a Agro Smart, de sensores climáticos, e a @Tech, plataforma de inteligência artificial voltada à pecuária que indica ao criador os melhores preços e momento de negociar. Em quatro anos, foram R$ 50 milhões investidos. Em 2021 serão mais R$ 25 milhões. “Em 1989 éramos uma startup, começamos pequenos. Temos que incentivar quem está iniciando também”, disse o executivo.
EXTERIOR A Positivo Tecnologia tem presença importante no exterior, principalmente na Argentina, onde está há oito anos, com 50% de participação na joint venture Positivo BGH. O foco é no ramo de computadores. A companhia já liderou o mercado local, mas perdeu terreno. “A economia argentina é mais complexa que a brasileira”, disse Hélio Rotenberg, que também tem negócios na China e Taiwan e recentemente colocou os pés na África, mais precisamente no Quênia e em Ruanda, para fabricação de equipamentos. “São locais em que a digitalização avança, principalmente na Educação. Temos boas perspectivas”, afirmou o presidente. O faturamento oriundo dos negócios fora do País já somam 15% do total da receita da Positivo. “Vamos continuar firmes nessa rota de investimentos bem definida.” As avenidas, nacionais e internacionais, estão largas e asfaltadas para a Positivo acelerar e continuar operante.