05/12/2012 - 21:00
Cinco anos atrás, o estilista italiano Valentino criou uma versão em miniatura de uma de suas célebres bolsas, a “Histoire”, especialmente para Zahara, filha adotiva das estrelas hollywoodianas Angelina Jolie e Brad Pitt. A foto de mãe e filha, na época com dois anos, desfilando com o mesmo acessório, circulou pelos principais sites e revistas de moda e celebridades mundo afora. A despretensiosa aparição revelou o que hoje é visto como um nicho no mundo fashion: o mercado de luxo infantil. Ali, como tudo que envolve as celebridades do mundo artístico – à frente as estrelas do cinema –, há extravagâncias. É o caso de Suri, filha de Katie Holmes e Tom Cruise.
Luxo para crianças: a Dior está entre uma das marcas que apostam no segmento infantil
A menina é dona de um cobiçado guarda-roupa avaliado em mais de R$ 3,5 milhões com peças de grifes como as italianas Dior e Gucci. Detalhe: a garota tem apenas seis anos. Os casos de Zahara e Suri são alguns dos exemplos desse mercado que, segundo o instituto de pesquisa americano NPD Group, apesar de representar somente 3% de um setor que movimenta US$ 34 bilhões, está em franca expansão. A febre da moda de luxo infantil pode ser vista em outras situações que envolvem celebridades internacionais. Tanto é que a fila A dos desfiles de moda (destinada para as personalidades mais importantes do mundo fashion) conta com a presença de crianças famosas, como o caso de Willow, filha do ator hollywoodiano Will Smith, que costuma prestigiar os eventos da grife italiana Armani.
Já os gêmeos Max e Emme, filhos da cantora e atriz Jennifer Lopez, foram garotos-propaganda da coleção infantil da Gucci de 2011, que incluía roupas e acessórios por até US$ 1,6 mil. Mas o que está por trás dessa febre? Segundo Daniela Khauaja, coordenadora de marketing da Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM), de São Paulo, embora os famosos mirins ajudem a garantir mídia espontânea para suas coleções, não são eles o público-alvo das marcas: na verdade, funcionam como uma espécie de vitrine para as escolhas dos pais, em particular as executivas endinheiradas, para vestir seus petizes. “Com a entrada das mulheres no mercado de trabalho, elas veem no consumo de luxo infantil uma forma de suprir a ausência em casa”, afirma.
Além disso, uma das razões para a expansão do setor é a mudança do papel da criança na sociedade. “Alguns anos atrás os pais mandavam e as crianças obedeciam”, diz Daniela. “Hoje, elas desempenham um papel muito mais protagonista na família e até costumam ditar alguns hábitos de consumo da casa.” É fato que a presença de marcas de alto padrão no segmento infantil não é um fenômeno recente, mas a competição no setor ganhou relevância quando as grifes tradicionais de moda abriram os olhos para essa tendência de mercado. É o caso da britânica Burberry que, em sua coleção atual, exibe peças iguais nas versões adulto e infantil. Outras marcas, como Dolce & Gabbana, Armani e Dior, também apostam no segmento com o intuito de fidelizar seus consumidores desde o berço.
Já a Gucci inaugurou recentemente uma butique na sofisticada 5a Avenida, em Manhattan, destinada exclusivamente à linha infantil. No Brasil, a tendência ainda aparece de forma tímida. A francesa Lanvin, por exemplo, não comercializa todo o portfólio infantil no País, limitando-se até agora às sapatilhas (com o par custando quase R$ 1 mil). Mas tudo indica que o movimento vai ser fortalecer cada vez mais. O mineiro Ronaldo Fraga é um dos exemplos de estilistas nacionais que investem no nicho, mas quer fazer diferente. “Eu faço roupa para criança tentando entender o universo delas”, afirma Lourenço. “Claro que para mim é mais fácil fazer isso sem perder o DNA da marca, já que ela própria tem um estilo colorido e divertido.”