A ALTA VOLATILIDADE DA BOLSA NOS últimos meses assustou muitos investidores que pensavam em comprar ações para garantir a aposentadoria. Os mais agressivos aproveitaram os preços baixos para comprar papéis de empresas com boas perspectivas de longo prazo. Os mais temerosos ? a maioria ? colocaram o pé no freio e partiram para investimentos menos arriscados. A previdência privada tem sido uma das alternativas preferidas no momento de crise por quem almeja segurança em longo prazo. Segundo a Federação Nacional de Previdência Privada e Vida (Fenaprevi), o mercado de aposentadoria complementar reúne ativos de R$ 139 bilhões e nunca captou tanto. Foram R$ 2,2 bilhões somente em agosto, o que elevou a captação acumulada no ano para R$ 20 bilhões. O movimento inverso aconteceu no mercado de renda variável. Segundo a Associação Nacional dos Bancos de Investimento (Anbid), este ano os fundos de ações tiveram resgates líquidos (fora os depósitos) de R$ 9,3 bilhões e os multimercados perderam R$ 29,4 bilhões até agosto.

Em São Paulo, a família Quaggio é uma das que preferem os planos de previdência. Todos têm um, desde o bebê Lucas, de 1,5 ano, até seu pai, o bancário Sílvio Quaggio, 42 anos. As filhas Fabiana, 16, Carolina, 13, e a esposa, Glória, também. Todos são planos PGBL com 49% da carteira investida em renda variável. Esse tipo de exposição ao risco é o máximo permitido no mercado brasileiro. Existem planos com 30%, 20%, 10% ou até uma parcela ainda menor do patrimônio aplicado em ações. Os mais tradicionais investem somente em renda fixa. Mas Quaggio não se amedronta. ?Meu horizonte é de longo prazo. Não fico o tempo todo acompanhando a rentabilidade do fundo?, diz. Segundo o bancário, a possibilidade de abater o investimento na renda tributável pelo Imposto de Renda é um atrativo. É possível abater até 12%. Mas será que Lucas não é muito novo para já ter um plano desse tipo, em vez de uma caderneta de poupança? ?Não. Isso é para o futuro, para um intercâmbio, carro, cursos e coisas desse tipo?, afirma o pai.

Para quem está começando, o melhor é iniciar com uma exposição menor à renda variável, aconselha Renato Russo, vice-presidente da Fenaprevi. ?É interessante não se posicionar de forma muito agressiva, esperar a consolidação do cenário e só então aumentar a exposição à renda variável?, avalia. Quem já investe há algum tempo em um plano de previdência mais arrojado deve aguardar. ?O impacto da bolsa na previdência será proporcionalmente menor do que em outros tipos de investimento. Os investidores dos planos não estão em posição de resgate?, afirma. Já Edson Franco, diretor-presidente da Real Tokio Marine Vida e Previdência, acredita que esse é um bom momento de se começar a investir em um plano arriscado. ?Mas a indicação vale somente para quem tem horizonte de longo prazo e o perfil arrojado?, diz.

Para reduzir o risco, pode-se migrar de um plano com renda variável para um mais conservador, sem custo algum. A mudança é garantida por lei e vale para produtos de uma mesma instituição ou de empresas diferentes. Contudo, quando há mudança de administrador, pode ser cobrada uma taxa de carregamento posterior, que varia de 1,5% a 7,5%. Em algumas em-presas, há isenção da taxa (leia quadro). A migração é desaconselhada em momentos de mercado em baixa. ?Essa não é a hora de desmontar posições?, avalia Franco.

O educador financeiro Mauro Calil aconselha cautela na hora de escolher o tipo de carteira e na leitura do contrato. Cuidado com as letras miúdas.. ?A vantagem é que o investidor não tem que se preocupar com o mercado. O gestor se preocupa por ele. Mas há um preço para isso, que é taxa de administração?, afirma. O custo pode variar conforme o tipo de aplicação e o montante aplicado. Quanto maior o investimento, menor é a taxa. Quando o depósito inicial for alto, elas podem sofrer queda. Outro fator importante é o Imposto de Renda. Na hora de reaver o valor aplicado, o Leão morderá um pedaço, que geralmente é de 15%, descontados direto na fonte e que, em alguns casos, podem ser restituídos.

Mas o resultado final pode valer a pena. Uma simulação feita pela Tokio Marine mostra que, aplicando R$ 300 ao mês em um plano com composição de 20% em renda variável, por 25 anos, com a rentabilidade mínima de 8%, acumula-se cerca de R$ 275 mil. Aplicando R$ 50 mensais pelo mesmo período, o HSBC Seguros calcula um total de R$ 70 mil. Já com um rendimento de 12% ao ano, parecido com o da renda fixa, Mauro Calil constata que o investidor pode chegar a R$ 917 mil em 30 anos, aplicando apenas R$ 316 ao mês. Ser dono de quase R$ 1 milhão em 30 anos. Nada mal para um aposentado, não?