A caderneta de poupança registrou recorde na série histórica monetária: em fevereiro, o investimento de baixo risco teve saques líquidos de R$11,515 bilhões. É o maior registro desde 1995 em um mês de fevereiro. Do total do mês, os saques superaram os depósitos no Sistema Brasileiro de Poupança e Empréstimo (SBPE) no valor de R$8,577 bilhões; na poupança rural, as saídas líquidas foram de R$2,938 bilhões.

Embora seja um marco recorde, não se trata de um movimento tão atípico. “A poupança já vem observando saques líquidos desde o início de 2021. O movimento coincide justamente com a elevação da Selic, que torna os investimentos em Renda Fixa mais atrativos. Portanto, é natural observar a população migrando seus recursos para uma aplicação que oferece maior retorno com um nível de risco compatível”, argumenta Gustavo Moreira, coordenador dos MBAs em Finanças do Ibmec RJ.

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Para Renan Pieri, professor de Economia da FGV EAESP, não há sinal de alarme neste momento. “Há crescimento do endividamento neste momento, que pode ter relação com a política de juros mais altos, e fica difícil pagar dívidas, pois tudo está mais caro. Mas a economia vem no nível mais aquecido, com geração de empregos e aumento de renda. Há uma perspectiva de crescimento baixo esse ano, mas não há sinais de desaquecimento”, avalia.

Além disso, segundo o professor do Ibmec, a inflação vem corroendo o poder de compra da população. “A compressão da renda disponível reduz a capacidade de guardar dinheiro e, em alguns casos, força as famílias a sacar recursos poupados para fazer o consumo corrente e eventuais gastos sazonais – acentuando este movimento”, conclui Moreira.

Em relação ao ponto sensível do endividamento dos brasileiros – o endividamento das famílias bateu recorde em 2022, chegando a 77,9% de famílias se declarando endividadas, de acordo com a Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC) – o professor da FGV acredita que o programa do governo federal a ser lançado tem potencial de resultado positivo. 

Desenrola

Uma das grandes promessas de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) está perto de sair do papel. O Programa Desenrola, que almeja tirar cerca de 40 milhões de pessoas do endividamento, deve ser lançado em breve.

“São dívidas recentes, que as pessoas entraram em gargalo que não conseguem sair. Precisamos liberar esses brasileiros do arrocho do crédito. E esse País pode voltar a ser o país que nós sonhamos”, disse Lula em evento no Palácio do Planalto.