13/01/2015 - 18:00
As viagens de negócios ao exterior são cada vez mais frequentes na vida do banqueiro carioca André Esteves, presidente do BTG Pactual. No ano passado, um dos destinos mais visitados por ele foi a Suíça, mais precisamente a cidade de Lugano, onde está localizada a matriz do private bank BSI, comprado por US$ 1,7 bilhão. A aquisição praticamente dobrou o volume de ativos sob gestão do banco. Aos 46 anos, com fama de workaholic e defensor ferrenho da meritocracia, Esteves é um participante ativo do cenário político e econômico do Brasil. Na segunda-feira 5, ele prestigiou a posse do novo ministro da Fazenda, Joaquim Levy, em Brasília. “Levy é uma surpresa positiva”, disse o banqueiro, que recebeu a DINHEIRO em dezembro, quando foi escolhido Empreendedor do Ano nas Finanças pela revista.
DINHEIRO – Como o sr. definiria o ano de 2014?
ANDRÉ ESTEVES – Terminamos o ano com crescimento pífio, com performance de mercado de capitais pífio. Não tivemos nenhum IPO na economia brasileira. Isso obviamente traz uma frustração. Por outro lado, tivemos as eleições, que correram dentro de absoluta normalidade – uma vez mais um show de apuração e de institucionalidade. Executamos a Copa do Mundo com certa correção, não fizemos feio.
DINHEIRO – Qual é a sua avaliação sobre a nova equipe econômica?
ESTEVES – O governo aproveitou a nomeação da nova equipe para mostrar um compromisso maior com as contas fiscais. A continuidade do presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, era esperada e muito legítima. A cadeira de Planejamento tem o perfil de Nelson Barbosa, que sempre esteve por perto do governo e é qualificado para isso. A surpresa foi a volta de Joaquim Levy à Fazenda, como ministro, mas uma surpresa positiva. Levy é um técnico respeitado, qualificado e com uma posição clara sobre disciplina fiscal.
DINHEIRO – Em suas constantes viagens ao exterior, o sr. já conseguiu sentir a reação dos investidores estrangeiros?
ESTEVES – Já senti e creio que o investidor estrangeiro nunca deixou de acreditar no tamanho da oportunidade que o Brasil oferece. Uma medida disso é o fluxo de investimento estrangeiro direto, que se mantém relativamente estável e até alto, quando comparado com economias similares à nossa, como a mexicana. O investidor estrangeiro encara os governos como transitórios – governos bons, mais para um lado, mais para o outro. O estrangeiro é mais maduro em relação a isso, até porque investe em outras regiões do mundo.
DINHEIRO – Qual a sua expectativa para a economia em 2015?
ESTEVES – Espero um ano de ajustes e de recuperação da confiança. É preciso trazer a inflação para perto do centro da meta, não deixar o déficit de conta-corrente ser ampliado e ter disciplina fiscal. Temos de simplesmente dar passos nessa direção de ajustar a economia, sem muita hesitação, sem debates desnecessários, sem preconceitos bobos. No lado microeconômico, penso que existe uma agenda de mais criatividade e produtividade. Não vai ter uma medida de ouro, mas uma série de medidas que vão melhorar o ambiente de negócios no Brasil. Esse deveria ser o plano de voo dessa equipe econômica ao longo dos próximos quatro anos.
DINHEIRO – A postura do BTG Pactual em 2015 será agressiva?
ESTEVES – Não vamos mudar nossa atuação de acordo com a conjuntura da vez. Claro que as mesas de operação olham a liquidez para vários mercados e se posicionam de acordo com as variáveis da semana. Mas, do ponto de vista de business, não existe nenhuma mudança estratégica para 2015.
DINHEIRO – O cenário mundial vai ajudar ou atrapalhar o Brasil em 2015?
ESTEVES – Começa o ano ajudando e termina atrapalhando. Ainda vivemos em um ambiente de expansão monetária muito significativa. Basta olhar para o Japão, para os Estados Unidos e para a Europa. Todos têm taxa de juros zero há praticamente cinco anos, o que nunca aconteceu na história financeira mundial. O juro zero lá fora é positivo para a nossa economia e esse ambiente vai continuar até a reversão das taxas nos Estados Unidos, no segundo semestre. Daí, o ambiente muda.
DINHEIRO – Baterá uma preocupação quando os EUA elevarem os juros?
ESTEVES – A preocupação deveria estar batendo agora, pois deixar para se preocupar quando o custo de capital se tornar mais caro não é uma boa política. Agora, é importante também ressaltar que é um movimento muito mais suave do que em ciclos anteriores. Resumidamente, nosso sucesso no Brasil não vai depender do mundo. Temos as condições e não devemos buscar nenhum tipo de explicação externa para o nosso sucesso ou fracasso. Somos dependentes de nós mesmos.
DINHEIRO – Olhando todos os negócios do BTG Pactual, qual é o maior desafio?
ESTEVES – Nosso desafio é continuar crescendo, com mais de 20 escritórios pelo mundo, sem perder a cultura do grupo. Até aqui, fomos bem. Somos orientados a trabalhar em time e acreditamos em hardworking: é preciso trabalhar duro, ser meritocrático, e fazer os negócios seguindo a bíblia corporativa. Em termos de desafio, embora não tenhamos a gestão, o maior é estruturar o projeto da Sete Brasil (empresa que investe em petróleo e gás, e que tem, além do BTG Pactual, a Petrobras e outros bancos como acionistas). É um desafio grande, complexo, mas há como colocá-lo de pé.
DINHEIRO – Por que que um banco com a expertise do BTG Pactual não consegue fazer o PAN dar lucro?
ESTEVES – O PAN é um projeto de médio prazo e estamos até satisfeitos com ele. É um caso de turnaround (reestruturação completa) e, portanto, obviamente não daria lucro durante vários anos. Quem esperava que o PAN desse lucro em 12 meses não conhece nada desse negócio. Estamos satisfeitos com o PAN, que dará o primeiro lucro em 2015. O projeto está indo muito bem. Fizemos a última fase da reestruturação da estrutura de capital alguns meses atrás. Consertamos a plataforma tecnológica, estamos cheios de jovens capacitados, instauramos a meritocracia, temos uma boa relação com o nosso sócio, que é a Caixa Econômica Federal. Por outro lado, também estamos ajudando bastante na gestão do PAN.
DINHEIRO – O mesmo raciocínio vale para a Brasil Pharma?
ESTEVES – A Brasil Pharma está um pouco mais atrasada do que o PAN. É um investimento do nosso fundo de private equity e nós consolidamos várias redes de farmácias. Agora tem um período para integrar essas plataformas. No fundo, é criar o senso de empresa após uma consolidação muito rápida. Se olhar trimestre a trimestre, os resultados estão melhorando.
DINHEIRO – É mais difícil ganhar dinheiro com investimentos em empresas?
ESTEVES – Não. O retorno sobre o capital alocado, em geral, estrategicamente falando, deve ser parecido, ou pelo menos ponderado ao risco. Os retornos conversam entre si. Claro que há melhores momentos que outros. Em 2014, o ano foi bom em commodities, bom em câmbio e médio em equities. Em 2015, vai ser bom em equities, bom em câmbio e médio em commodities.
DINHEIRO – O que impede o BTG Pactual de ser um banco de varejo?
ESTEVES – Nada impede, mas acho que existem franquias de varejo aqui no Brasil muito bem estabelecidas, como Bradesco, Itaú, Banco do Brasil e Caixa. Nos vemos gerando mais valor nessa área de assessoria de empresas, famílias, governo e investidores internacionais. Não temos a cultura de varejo, embora estejamos aprendendo muito com essa pequena experiência do PAN.
DINHEIRO – O que motivou a compra do private bank suíço BSI, no ano passado?
ESTEVES – Nós temos uma ambição de gestão de recursos em nível global. Essa parte de private banking é central para nós, pois fazemos isso desde a fundação do Pactual, há 30 anos. A Suíça passa por um momento de transformação – o que se vendia era o sigilo bancário, mas o sigilo bancário acabou. Agora vai ser um jogo de serviço, que é o que nós sabemos fazer bem, historicamente.
DINHEIRO – O valor era mesmo atraente?
ESTEVES – Aproveitamos esse vale de preços de mercado que o cenário internacional proporcionou. Crises rimam com oportunidades. Compramos um volume de ativos significativo: são US$ 100 bilhões sob gestão, o que praticamente dobra o nosso tamanho e nos torna um player de escala mundial.
DINHEIRO – Em 2013, o BTG Pactual fez uma parceria de consultoria com as empresas X. Qual a sua avaliação sobre o que aconteceu com o empresário Eike Batista?
ESTEVES – Há bons livros por aí que retratam a história com muitos detalhes. O êxito inicial do Eike foi um momento, talvez, de excesso de otimismo com o Brasil e com aquilo que oferece de melhor, que é esse setor de recursos naturais e a infraestrutura atrelada a ele. O Eike tem uma história empresarial muito ligada a isso, é um empresário criativo, agressivo e, de certo modo, navegou com esse super otimismo do Brasil. Ele foi, talvez, quem melhor simbolizou esse ciclo. E, quando o mercado se tornou mais desafiador, faltou capital para a conclusão dos projetos. Nosso mandato, ao longo de 2013, era reestruturar o grupo EBX. Nós trouxemos capital de investidores para aquilo que era capitalizável, vendemos aquilo que era vendável e em relação àquilo que não era nem vendável nem capitalizável nós simplesmente preparamos o processo de reestruturação corporativa e encerramos nosso trabalho.
DINHEIRO – Como o sr. avalia o escândalo de corrupção na Petrobras?
ESTEVES – Não devemos perder a oportunidade de que seja um marco para tudo mudar. Esse tipo de desapontamento, de surpresa negativa, deve ser usado para entender as nossas falhas, determinar o que está faltando e melhorar a governança. No caso específico da Petrobras, trata-se de um ativo excepcional do Brasil, da sociedade brasileira, e merece ter a governança que uma empresa desse tipo tem de ter. Tem de ser usado para darmos o passo para a frente.
DINHEIRO – Qual foi a grande lição de 2014?
ESTEVES – A grande lição é uma que não, necessariamente, se aplica só a 2014. Às vezes, no Brasil, o mercado fica muito otimista; outras vezes, muito pessimista. E a lição que tiramos é que a verdade está um pouco mais para perto do centro do que dos extremos.