Nos últimos dois anos as mensalidades de cursos superiores despencaram em todo o Brasil. Na graduação, mensalidades que antes saiam por R$ 400 hoje são oferecidas a R$ 89,90. Cursos de pós que custavam R$ 700 ao mês podem facilmente ser encontrados por apenas R$ 125. Isso foi o que constatou a Price Survey em seu último levantamento. A pandemia, aliada à queda no crédito educacional e maior competição das instituições, criou o cenário perfeito para a guerra de preços, segundo o CEO da Price Survey Maycon Andrade.   

Há quatro anos a empresa acompanha o mercado de educação superior e detectou que no pós-pandemia, o modelo de Ensino à Distância (EAD), que vinha engatinhando até 2019, deslanchou. Sem precisar de estrutura física, apenas com um bom investimento em tecnologia, muitas instituições puderam passar a oferecer seus cursos a estudantes de toda a parte do País.

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“Assim uma pequena instituição do Paraná consegue facilmente oferecer cursos para estudantes em São Paulo, por exemplo”, afirma Andrade. Com esse modelo, a concorrência entre as faculdades ficou ainda mais acirrada derrubando os preços. Além disso, o sistema também vem reduzindo as resistências, diante das dificuldades de locomoção e de acesso ao crédito educativo nos últimos anos.  

A estrutura tecnológica também acabou com as limitações das turmas, que no físico se restringiam a 20 ou 30 alunos por sala. “Se o estudante puder acessar as aulas em outros horários pode-se chegar a mais de 200 alunos por curso, assistindo aulas quando quiser de qualquer parte do Brasil”, disse.  

Para Andrade, depois do isolamento, o setor educacional viveu “a tempestade perfeita”, com queda no crédito e instituições precisando sobreviver. “A guerra de preços é só o resultado de todos esses fatores”. Muitos desses cursos têm o mesmo reconhecimento do Ministério da Educação (MEC), mesmo sendo 100% virtual. 

Toda essa mudança exigirá dos órgãos responsáveis, no entanto, maior rigor na avaliação dos cursos para que não haja precarização, na opinião do CEO da Price Survey. “Essa é uma nova briga entre Davi e Golias. E não tem volta. O lado bom é que democratiza ainda mais a educação. Mas é preciso cuidado com a qualidade”.  

Atualmente, segundo censo do Ministério da Educação de 2020, são cerca de 8 milhões de alunos matriculados em mais de 35 mil cursos espalhados pelo País em mais de 2 mil instituições, seja na modalidade presencial, ensino a distância ou modelo híbrido. Ainda segundo o Ministério da Educação, o Sistema de Seleção Unificada (SiSU) oferecerá 65.932 vagas para ingresso em 73 instituições públicas de ensino superior, em 2 mil cursos de graduação. Segundo dados analisados na pesquisa do Serviço Social da Indústria (SESI) e do Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (SENAI), divulgada em 26/10/2021, 91% dos alunos de ensino médio têm interesse em cursar o ensino superior. Porém, ao analisar os dados publicados pelo Instituto SEMESP (Secretaria de Modalidades Especializadas de Educação), em junho de 2021, a Price constatou que apenas 18,1% dos jovens com idade entre 18 e 24 anos estão matriculados no ensino superior.