13/10/2022 - 12:36
As críticas à primeira-ministra britânica, Liz Truss, estão crescendo dentro de sua maioria parlamentar, onde alguns deputados conservadores já começaram a pedir sua substituição apenas um mês após sua chegada ao cargo.
Truss está no poder há 37 dias e é cada vez mais questionada. Os enormes cortes de impostos prometidos no final de setembro sem financiamento claro provocaram pânico nos mercados financeiros e foram recebidos com ceticismo e preocupação por alguns de seus companheiros de partido.
Embora esteja mantendo o curso por enquanto, os parlamentares conservadores pedem que recue em alguns elementos de seu pacote econômico, principalmente, no que se refere à remoção de um aumento planejado no imposto sobre as empresas.
Além disso, alguns “deputados conservadores estão procurando possíveis substitutos para (o ministro das Finanças) Kwasi Kwarteng e, possivelmente, até para Liz Truss”, segundo Paul Goodman, ex-deputado e editor-chefe do ConservativeHome, um site de direita altamente influente.
“Todos os tipos de nomes estão sendo jogados por aí”, acrescentou, aludindo a Rishi Sunak, principal ex-rival de Truss na corrida por Downing Street, e até Boris Johnson, o polêmico primeiro-ministro que ela substituiu no mês passado.
– “Insustentável” –
O congresso do Partido Conservador, no início de outubro, foi marcado por tensões e dissidências. Os apelos por unidade dentro da sigla, para não beneficiar a oposição trabalhista, tiveram pouco efeito.
“Os parlamentares que estão circulando uma lista de nomes de quem deve substituir Truss ignoram o fato de que não podem forçar aos britânicos outro primeiro-ministro em quem não votaram”, reagiu a ex-ministra Nadine Dorris no Twitter.
Truss, de 47 anos, foi nomeada primeira-ministra em 6 de setembro. Ela é a quarta líder da legenda conservadora desde 2016.
“Mudar o líder seria uma ideia desastrosa do ponto de vista político e econômico”, alertou o atual ministro das Relações Exteriores, James Cleverly, que interveio em vários programas de rádio e televisão nesta quinta-feira para defender a política de Truss.
Com a apresentação no final de setembro de suas polêmicas medidas econômicas, em um momento em que a inflação está próxima de 10%, o governo buscou “garantir que os impostos caiam para 30 milhões de pessoas, e essas são mensagens muito fortes”, defendeu na SkyNews.
Após o anúncio desses enormes cortes de impostos sem financiamento claro, os mercados reagiram violentamente. A libra atingiu um recorde de baixa no final de setembro, provocando reações do Fundo Monetário Internacional (FMI) e do Banco da Inglaterra (BoE).
Alguns conservadores, como o ministro David Davis, denunciaram a “enorme desordem” criada por essas medidas, sugerindo que alguns dos cortes de impostos sejam revistos.
Na sessão semanal de perguntas à primeira-ministra na quarta-feira (12), Truss, que foi vaiada pela oposição trabalhista, descartou cortar gastos públicos para financiar seus cortes de impostos, repetindo que contava com o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) para tirar o país da crise.
Confiar no rápido crescimento da economia britânica, atualmente ameaçada de recessão, é uma ilusão, alertou um ex-assessor do Banco da Inglaterra.
“A única maneira de isso funcionar é se assumirmos que o crescimento vai acelerar da maneira que o governo deseja. Acho que muitas pessoas veem isso como uma ilusão”, comentou Martin Weale, agora professor de economia na King’s Business School.
Apesar da turbulência nos mercados e dentro de seu partido, Downing Street diz que Truss – já tendo retrocedido em uma medida-chave em seu orçamento – está “focada apenas no objetivo de crescimento por meio de mudanças e reformas planejadas”.
Outros não descartam, contudo, que ela será forçada, em breve, a dar novos rumos a suas medidas polêmicas.
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