O primeiro-ministro Boris Johnson comparou nesta quarta-feira o líder da oposição britânica, e seu principal rival eleitoral, o trabalhista Jeremy Corbyn, ao ditador soviético Josef Stalin, no início oficial da campanha para as legislativas de resultado incerto.

Após várias tentativas infrutíferas, Johnson conseguiu na semana passada a aprovação do Parlamento para antecipar as eleições, inicialmente previstas para 2022, com o objetivo de romper o bloqueio político que resultou no terceiro adiamento do Brexit, agora tem como prazo até 31 de janeiro.

Os partidos britânicos já estão há várias semanas em pré-campanha, mas esta quarta-feira marca o início oficial das cinco semanas dedicadas oficialmente a conquistar o eleitorado para a votação de 12 de dezembro: Johnson compareceu ao Palácio de Buckingham e solicitou à rainha Elizabeth II a dissolução do Parlamento.

As pesquisas apontam uma vantagem de 10 pontos dos conservadores, mas os analistas alertam para a falta de confiabilidade das sondagens no passado, assim como para a incerteza sobre um resultado que será marcado pelas divisões sociais e políticas sobre a saída da União Europeia.

O carismático e polêmico primeiro-ministro deve lançar nesta quarta a campanha eleitoral em Birmingham, centro do país, mas iniciou as hostilidades com um artigo publicado no jornal para o qual colaborou durante 30 anos, o conservador The Daily Telegraph.

No texto, Johnson acusa Corbyn, cujo programa é um dos mais esquerdistas registrados no Reino Unido nas últimas décadas, de odiar “tão visceralmente o lucro que vai destruir as bases da prosperidade de nosso país”.

O Partido Trabalhista pretende “que seu ódio se dirige apenas contra alguns bilionários, que demonizam com um prazer e uma vingança que não eram vistos desde que Stalin perseguiu os ‘kulaks'”, completou, em referência aos camponeses ricos atacados pelo regime stalinista.

Corbyn respondeu no Twitter e denunciou “as bobagens com as quais saem os muito ricos para evitar pagar um pouco mais de impostos”.

– “Freando o Brexit” –

O ambicioso programa trabalhista inclui a reestatização de várias empresas, o aumento do salário mínimo e a redução da semana de trabalho a 32 horas. E todas as medidas devem ser financiadas com o aumento dos impostos para a maior faixa de renda.

“Os trabalhistas vão frear os negócios, frear os investimentos e, pior de tudo, frear o Brexit”, acusou Johnson.

Se vencer as eleições, a esquerda britânica promete resolver em seis meses o quebra-cabeças da saída da UE, apoiada por 52% dos britânicos no referendo de 2016, mas que tem sua concretização incerta.

O Partido Trabalhista quer negociar um novo acordo do Brexit com Bruxelas para manter o Reino Unido em uma união alfandegária com a UE e depois submeter o pacto a um novo referendo, que incluiria a opção de anular todo o processo e permanecer dentro do bloco.

Retomar do zero negociações que se prolongaram durante mais de dois anos e que deixam os 27 sócios europeus de Londres cada vez mais irritados “francamente, não acredito que seja um enfoque realista”, declarou à BBC o presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker.

Em caso de vitória, os trabalhistas também poderiam atender o pedido dos independentistas escoceses de organizar um novo referendo de autodeterminação, depois do pleito de 2014 em que 55% dos eleitores votaram pela permanência no Reino Unido.

O Partido Nacionalista Escocês (SNP) espera melhorar sua representação no Parlamento de Westminster, onde atualmente tem 35 das 650 cadeiras.

O objetivo é pressionar para que Londres transfira, até o fim do ano, ao Executivo regional o poder de convocar em 2020 um plebiscito que agora esperam vencer, impulsionado pela rejeição da maioria dos escoceses à saída da UE.

“Se querem que a Escócia permaneça na UE, se querem que a Escócia assuma o seu próprio futuro, o primeiro passo vital nestas eleições é livrar-se dos conservadores”, afirmou a primeira-ministra escocesa, Nicola Sturgeon, à rádio BBC.