Sob um jogo de forças entre o alívio proporcionado pelo exterior e a maior apreensão sobre o quadro fiscal doméstico, os juros futuros exibiram alta modesta no pregão desta quarta-feira. Os vencimentos intermediários e longos registraram elevação um pouco maior, chegando a tocar máximas intradiárias nos vértices a partir de janeiro de 2031 na segunda etapa da sessão, enquanto os trechos mais curtos operaram praticamente estáveis.

As preocupações em relação ao risco fiscal, que voltaram à cena com a votação do projeto de reforma do Imposto de Renda no Congresso, ditaram a dinâmica da curva a termo na sessão. O mercado local de renda fixa caminhou na contramão da firme queda dos rendimentos dos Treasuries, após dados que mostraram enfraquecimento do mercado de trabalho americano e tendo como pano de fundo o primeiro dia de shutdown do governo dos EUA.

Encerrados os negócios, a taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2027 oscilou de 14,044% no ajuste anterior a 14,050%. O DI para janeiro de 2028 subiu de 13,339% no ajuste de terça-feira para 13,375%. O DI para janeiro de 2029 marcou 13,255%, vindo de 13,215% no ajuste de ontem. O DI para janeiro de 2031 avançou de 13,416% no ajuste precedente para 13,440%.

“Sem esses fatores domésticos, estaríamos vendo as taxas futuras recuando aqui. Estamos na contramão do movimento externo, onde os Treasuries mostraram recuo até importante”, avalia Luciano Rostagno, estrategista-chefe da EPS Investimentos. O mercado, diz Rostagno, está receoso de que o legislativo não aprove medidas de compensação para contrabalançar a ampliação da isenção do IR para aqueles que ganham até R$ 5 mil. A falta de medidas que traz perspectiva de piora para as contas públicas, diz Rostagno.

“Uma pesquisa do PoderData mostrou aumento na taxa de aprovação do governo Lula, o que também traz um pouco de preocupação para os investidores”, acrescenta Rostagno, devido à perspectiva de que a dívida pública siga em trajetória de elevação em eventual reeleição do presidente em 2026.

Do lado dos indicadores, foi divulgado hoje o Índice de Gerentes de Compras (PMI, na sigla em inglês) da indústria de transformação, que caiu de 47,7 pontos em agosto para 46,5 pontos em setembro, segundo a S&P Global. Leituras inferiores a 50 pontos sinalizam declínio na atividade.

Já o Índice de Confiança Empresarial (ICE) subiu 0,5 ponto em setembro, para 89,9 pontos, na série com ajuste sazonal, após três meses de quedas. Calculado pelo FGV/Ibre, o indicador agrega os resultados dos setores da indústria, construção, comércio e serviços. Para os economistas Gabriel Couto e Rodolfo Pavan, do Santander, apesar do desempenho positivo, o número atual não apagou totalmente a tendência negativa observada nas leituras anteriores. O saldo negativo dos últimos quatro meses reflete o efeito do aperto monetário e é consistente com desaceleração do crescimento no segundo semestre de 2025, avaliam.

Em relatório publicado hoje, os economistas do Banco Bilbao Vizcaya Argentaria (BBVA) apontam que a perda de fôlego da atividade, a convergência da inflação à meta e uma taxa de câmbio mais valorizada devem permitir que a Selic seja reduzida a 11% até o fim de 2026. Mas os cortes começariam apenas no primeiro trimestre do próximo ano.

Segundo Rostagno, da EPS, o mercado segue operando sob a percepção de que o Banco Central vai manter a Selic em 15% por período prolongado após a ata do Copom e o Relatório de Política Monetária , o que confere certa rigidez às taxas curtas.