21/04/2004 - 7:00
O advogado paulista Eduardo Conte Bandeira resolveu investir no futuro ? comprou um jazigo. Ou melhor, um lóculo, nome dado às gavetas do Memorial Necrópole Ecumênica, o cemitério vertical mais alto do mundo, com edifícios de até 14 andares, em Santos, no litoral de São Paulo. Aos 59 anos, ele diz que decidiu adquirir seu túmulo como um aposta de economia e segurança para a família. ?Fico tranqüilo e não deixo problemas para meus parentes?, resume. Um lóculo em
Santos custa R$ 11,5 mil. Há 20 anos, o valor era equivalente
a R$ 3 mil – uma valorização de quase 300%. Em 2005, um outro prédio de 32 andares será inaugurado no Memorial, conhecido internacionalmente pelo alto padrão de atendimento e infra-
estrutura. Nele, cada gaveta sairá por R$ 19 mil.
Embora a hora da morte seja um assunto tabu para muitos, e isto é plenamente compreensível, preparar-se para o momento é fundamental ? e pode, sim, resultar em boa economia. Em geral, no período que precede um falecimento, as famílias ficam sobrecarregadas com elevadas despesas médicas. Além disso, o desgaste emocional dificulta o cuidado com os aspectos burocráticos do sepultamento. Por isso, a compra antecipada de túmulos e serviços funerários é cada vez mais comum.
Em muitos cemitérios, quem compra jazigos antecipadamente tem direito a desconto e facilidades no pagamento. No Memorial, para negociar um jazigo anos antes da hora, paga-se uma entrada de 20% do valor total do lóculo e o restante pode ser parcelado em até 50 meses. Quem contrata o túmulo para pronto-atendimento, como os administradores referem-se às situações de emergência, dará um sinal de 40% e o restante será parcelado em 24 meses. De acordo com Carlos Eduardo Battendieri, diretor do Memorial, 70% das vendas são preventivas.
Há ainda outro meio comum de comercialização. Famílias proprietárias de túmulos antigos podem revendê-los diretamente aos interessados. Mas há regras para esse procedimento. Na maioria das vezes, os jazigos só podem ser repassados em cemitérios particulares. ?Quando o cemitério é público, apenas a Prefeitura pode dar a concessão?, diz Lourival Panhozzi, presidente da Associação Brasileira de Empresas e Diretores de Funerárias. Nos particulares, a transferência costuma ser feita mediante o pagamento de uma taxa. No Cemitério Gethsêmani, no bairro do Morumbi, em São Paulo, o repasse custa 10% do valor do túmulo. Ali, o menor jazigo, para dois corpos, custa R$ 10,8 mil.
A cremação é uma opção mais barata, mas agora tem versões mais sofisticadas. A empresa americana Celestis fez um acordo com a Nasa, nos Estados Unidos, para oferecer um serviço inédito. Por
US$ 3 mil, é possível lançar uma cápsula com as cinzas do falecido para a órbita terrestre, onde ficará por 160 anos. Por valores mais altos, a empresa pode enviar as cápsulas para a Lua ou rumo a
uma viagem eterna pelo universo.