A tecnologia entrou em cena para ajudar empresas privadas na missão de preservar os biomas brasileiros, ao mesmo tempo em que alavancam o desenvolvimento socioeconômico sustentável. Essa tarefa é fundamental para o papel que o Brasil pode e deve desempenhar diante das mudanças climáticas, ou seja, o de frear a emissão de gases causadores do efeito estufa e ampliar a produção de alimentos, roupas e energia.

Graças a avanços tecnológicos, companhias podem acompanhar de perto o trabalho de seus fornecedores que atuam nos biomas brasileiros, por meio de ferramentas como sensoriamento remoto, monitoramento usando imagens de satélite e interpretação de dados via inteligência artificial, entre outros. Com isso, os tomadores de decisão, mesmo que sediados nos centros urbanos, garantem um relacionamento próximo com os produtores do campo e ampliam sua capacidade de garantir o cumprimento de critérios socioambientais.

Assim, várias empresas já vêm apostando na tecnologia para assegurar a preservação ambiental das áreas em que operam. Breno Felix, sócio e diretor de produtos da Agrotools, empresa especializada em soluções tecnológicas para o agronegócio, exemplifica. “Nossas análises, baseadas em tecnologia espacial e inteligência territorial, podem ser modulares, adequadas a todos os tipos de empresas. Temos aplicativo de campo para a realização de vistorias nas fazendas, assim como uma central de alerta que identifica focos de desmatamento, acionando imediatamente as partes interessadas”.

TECNOLOGIA NA AGROPECUÁRIA

Entre as empresas que vem apostando na tecnologia está a JBS, que, há mais de uma década, investe em gestão, monitoramento e regularização das atividades de sua cadeia de fornecedores em todos os biomas brasileiros, algo fundamental para a perenidade de sua estratégia de negócios.

Ao todo, por meio de um sistema de monitoramento georreferenciado, que utiliza imagens de satélite, a empresa consegue acompanhar diariamente quase 80 mil fazendas fornecedoras de bovinos, cobrindo uma área de 860 mil km2, superior ao território da França. “Nosso sistema de monitoramento de fornecedores é provavelmente o mais sofisticado e de maior escala no mundo”, diz Márcio Nappo, diretor de Sustentabilidade da JBS. Caso a fazenda não seja considerada aderente aos parâmetros socioambientais estabelecidos pela empresa – proibição de desmatamento (de acordo com o Código Florestal Brasileiro), de trabalho análogo ao escravo e de invasão de terras indígenas etc. –, é bloqueada. Até o momento, já foram suspensas cerca de 11 mil propriedades.

A tecnologia também tem sido fundamental para que a JBS avance num desafio comum a todas as empresas de seu setor, que é o de estender esse mesmo nível de monitoramento aos fornecedores de seus fornecedores. Como as indústrias de proteína animal têm relacionamento apenas com seus fornecedores diretos, elas enfrentam o obstáculo de como acompanhar o trabalho de quem fornece para eles.

A solução, nesse caso, vem do blockchain, sistema que permite rastrear o envio e recebimento de informações com segurança pela internet. A JBS colocou em operação neste ano a Plataforma Pecuária Transparente, que usa essa tecnologia para estender seu monitoramento aos fornecedores de seus fornecedores. Dessa forma, pode acompanhar o cumprimento de seus critérios socioambientais com segurança e confidencialidade dos dados. O intuito da companhia é ter todos os seus fornecedores integrados à ferramenta até o fim de 2025. “Com isso, não apenas nossos fornecedores diretos, como já ocorre há mais de 10 anos, mas também os fornecedores deles terão de respeitar a política socioambiental da JBS para fazerem parte de nossa cadeia de valor”, explica Nappo.

DECISÕES ESTRATÉGICAS
Além de ser cada vez mais fundamental na garantia da sustentabilidade, a tecnologia também é importante para a tomada de decisões estratégicas. Breno Felix, da Agrotools, aponta que a visibilidade do que ocorre no meio rural por meio da tecnologia permite à indústria melhores decisões, impactando resultados, negócio e reputação de marca. “Quanto mais próximo do campo, melhor é o entendimento dos problemas e da percepção dos riscos, e, com isso, maior competitividade”, explica.