O discurso do presidente Jair Bolsonaro em Brasília, realizado há pouco, imediatamente após o desfile em comemoração ao bicentenário da Independência da República escancarou que o Brasil do século 21 ainda é um país misógino, machista, homofóbico, intolerante e elitista. Diversidade, conceito que o capital e a sociedade têm cobrado de empresas, está longe do discurso e prática do Governo Federal.

De todos os adjetivos citados acima, o único que não estava no discurso falado por JB, é o elitista. Este aparece representado no palco: todos os asseclas presentes com algum protagonismo no palco ou no carro de som [local do discurso] eram homens e brancos. A única exceção foi Michelle Bolsonaro que, em uma demonstração rara e claramente eleitoreira, foi colocada em um papel de suposto protagonismo quando o presidente falou – com todo o benefício da dúvida para quem ouviu — que “[a primeira dama] Não está ao meu lado: às vezes ela está na minha frente”. Detalhe significativo: durante o discurso, ela aparece sempre atrás dele e jamais ao seu lado. Ops!

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O discurso politicamente correto para o público feminino que não compactua com o papel da mulher submissa que o governo e os seus defendem parou por aí. Logo após um mal dado beijo em Michelle, o presidente fala que os homens solteiros serão mais felizes ao se casarem com princesas. Ora, princesas? Homofobia e machismo em uma só voz.

E se a felicidade do solteiro for com outro homem? Jamais. Isso fere o conceito de família cristã. Já sobre as mulheres, está mais do que claro que o presidente abomina mulheres fortes como visto também essa semana. Para quem não assistiu, vale resgatar o vídeo em que, ao ser questionado sobre a compra de imóveis com dinheiro vivo pela jornalista Amanda Klein, da Jovem Pan, Jair Bolsonaro atirou como resposta: “Ô Amanda, você é casada com uma pessoa que vota em mim. Não sei como é o teu convívio com ele na sua casa”. Isso durante uma sabatina ao vivo ao candidato à reeleição. Amanda não é uma princesinha. É jornalista, casada, mas profissional com opinião própria. Uma afronta ao bolsonarismo.

Sem negros no palco, sem mulheres protagonistas e defendendo uma pátria “cristã”, Bolsonaro joga mais uma vez no lixo a representatividade que a população brasileira merece ter nos fóruns de poder e de tomada de decisão. Números não erram. Segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) de 2019, o número de mulheres no Brasil é superior ao de homens. A população brasileira é composta por 48,2% de homens e 51,8% de mulheres. O mesmo levantamento indica que a maior parte da população é parda (46,8%), seguida por brancos (42,7%), pretos (9,4%) e amarelos ou indígenas (1,1%).

Em termos de religiosidade, ainda que o catolicismo seja majoritário com 64,6% da população, o último Censo Demográfico realizado pelo IBGE em 2010 mostra uma alta diversidade de crenças. Pelo levantamento, além dos católicos; 22,2% se declaram protestantes (evangélicos tradicionais, pentecostais e neopentecostais); 8,0%, irreligiosos: ateus, agnósticos, ou deístas; 2,0%, espíritas; 0,7%, testemunhas de Jeová; 0,3%, seguidores do animismo afro-brasileiro como o Candomblé, o tambor de Mina, além da Umbanda; 1,6%, seguidores de outras religiões, tais como: budistas (243 mil), judeus (107 mil), messiânicos (103 mil), esotéricos (74 mil), espiritualistas (62 mil), islâmicos (35 mil) e hoasqueiros (seguidores de Santo Daime, 35 mil).

O Brasil é diverso em todos os sentidos, restringir um discurso de 7 de Setembro a mulheres princesas, aos brancos, cristãos e heterossexuais é só mais uma prova de que o atual presidente do Brasil não tem o mínimo conhecimento sobre o país que governa. Um país que vai muito além da bolha que ele vive e que teima em incitar.