04/03/2022 - 16:25
Pouco mais de uma semana após o início da guerra entre Rússia e Ucrânia, os desdobramentos do conflito são acompanhados de perto pelos principais executivos brasileiros, inclusive os do setor automotivo. A previsão de aumento da inflação e dos custos logísticos, aliada à crise dos semicondutores gerada pela pandemia, torna ainda mais desafiador o trabalho das montadoras no País e no exterior, como afirmou Antonio Filosa, presidente da Stellantis América do Sul, em entrevista coletiva na sexta-feira (4).
A Stellantis reúne 14 marcas mundiais, com destaque para Fiat, líder do mercado brasileiro e sul-americano, Jeep, Citroën e Peugeot. O italiano acredita que a inflação e a logística são as principais preocupações na região. Na visão dele, a pressão inflacionária gera uma forte migração de capitais, com os fundos desinvestindo e reinvestindo em outras opções, quase sempre as commodities. “Estamos falando de commodities como petróleo. Isso já é por si um motor de inflação”, disse. “Depois tem uma inflação que é gerada por ter menores ofertas. Veja o gás, o que pode acontecer no abastecimento da Europa, por exemplo.”
Como a guerra ocorre na Europa, centro dos grandes fluxos de transporte e de entrega de mercadorias, a logística mundial acaba impactada, com atrasos e custos extras. “Seja do ponto de vista de inflação, seja do ponto de vista de correção de rotas, ou até de eliminação de algumas delas”, disse. A previsão é que haverá uma maior complexidade em geral, inclusive com a possibilidade de alguma dificuldade adicional de abastecimento de componentes, além dos microchips. “Isso não significa que a crise dos semicondutores irá piorar, apenas a complexidade de gerenciamento da mesma.”
Filosa afirmou, no entanto, que a América do Sul é pouco afetada pelo transporte de material dos países envolvidos no conflito. Já a Stellantis global tem bastante presença industrial no Oeste da Europa. “Embora não venha diretamente da Ucrânia, onde não tem quase nada, ou da Rússia, onde acredito que tem um pouco mais, os fluxos logísticos que passavam por aquelas regiões do mundo claramente são um pouco prejudicados, ou até interrompidos em alguns casos.”
Apesar do estouro da guerra, o executivo mantém o otimismo em relação à recuperação do mercado brasileiro, impactado pela pandemia desde 2020. Para Filosa, se houver o restabelecimento da paz em período não muito longo, os mercados se reorganizarão rapidamente, primeiramente o financeiro. O cenário, porém, pode mudar caso o conflito se estenda. “Acredito que pelo fato de a América do Sul estar muito distante os impactos são controláveis, mas à medida que a guerra o se estenda teremos que estudar. É observar dia a dia e tomar decisões rápidas.”