Lideranças políticas e sindicais no Reino Unido criticaram o presidente do Banco da Inglaterra (BoE), Andrew Bailey, por declarações em que sugeriu que trabalhadores devem evitar pedir aumentos salários acentuados como forma de combater à escalada da inflação.

Em entrevista à BBC na última quinta-feira, Bailey defendeu que os funcionários deveriam “mostrar restrições” no processo de negociações salariais. “Não estou dizendo que ninguém deve receber um aumento salarial, não me entenda mal, mas acho que o que estou dizendo é que precisamos ver restrições na negociação salarial”, disse o dirigente, que tem salário anual de cerca de 575 mil libras.

Ontem, um porta-voz do primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, afirmou que o líder do governo não concorda com a proposta. “Bem, isso não é algo que o primeiro-ministro está pedindo – obviamente queremos uma economia de alto crescimento e queremos que os salários das pessoas aumentem”, disse.

A secretária-geral do grupo Una o Sindicato (Unite the Union), Sharon Graham, disse que os trabalhadores não são responsáveis pelo recente avanço dos preços. “Os trabalhadores não precisam de sermões do presidente do Banco da Inglaterra sobre o exercício da restrição salarial. Por que toda vez que há uma crise, os homens ricos pedem às pessoas comuns que paguem por isso?”, criticou.

Já o secretário-geral do sindicato GMB, Gary Smith, classificou o comentário de Bailey de “piada doentia” e o acusou de defender que a força de trabalho aceite sem questionamentos a corrosão da renda. “Dizer às pessoas trabalhadoras que carregaram este país através da pandemia que não merecem um aumento salarial é ultrajante”, opinou.

Em dezembro passado, o índice de preços ao consumidor no Reino Unido subiu 5,4% na comparação com o mesmo mês de 2020, a maior alta anual desde 1997. Em resposta, o BoE aumentou, na última quinta-feira, a taxa básica de juros pela segunda reunião consecutiva, em 25 pontos-base, a 0,50%.

O economista-chefe do BC britânico, Huw Pill, atribuiu a tendência à alta nos preços de energia e gargalos nas cadeias produtivas. O dirigente evitou repercutir as declarações de Bailey. “Obviamente, você não vai me fazer criticar meu chefe”, pontuou, quando questionado sobre o assunto em entrevista à Bloomberg.

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