21/12/2022 - 13:19
O presidente do Equador, Guillermo Lasso, viajou esta semana aos Estados Unidos para pedir um tratado de livre comércio (TLC) e que Washington divida a conta do combate à violência das drogas que atinge seu país.
Em entrevista à AFP, esclareceu, porém, que não chegou a “cobrar um cheque” e que conseguir o que procura “é um processo” que exige “paciência”.
A seguir, um resumo da entrevista realizada na terça-feira (20).
Pergunta – Você estima a luta contra o narcotráfico em 5 bilhões de dólares. O presidente Joe Biden concordou em dividir o custo?
Resposta – Existe um compromisso para apoiar o combate ao narcotráfico e ao crime organizado (…) Atingimos o bolso dos narcotraficantes, onde mais dói, por isso reagem com violência nas prisões, e como consequência nas ruas.
Estamos determinados a enfrentar isso, mas não podemos sozinhos, precisamos de cooperação internacional, não é um problema exclusivo do Equador (…) É justo dividir a conta.
P – Deram-lhe números?
R – É um processo (…) E não é um processo que a pessoa diz: “Vou ao banco sacar um cheque e o cheque é desse valor e me pagam no dia tal”. Não. É um processo de cooperação.
P – Acha que é uma questão de dinheiro? Ou de mudança de estratégia?
R – Não é apenas uma questão de dinheiro, é uma questão de capacidade operacional, capacidade de manter a inteligência e ação coordenada das forças de segurança.
P – Você solicita um TLC com os Estados Unidos. Não acha que isso beneficiaria alguns produtos, como flores e bananas, mas prejudicaria outros?
R – Buscamos mais Equador no mundo e mais mundo no Equador porque 8 bilhões de habitantes no mundo são a grande oportunidade que o Equador tem de gerar empregos em nosso país. Mais bananas para o mundo é mais emprego no Equador, mais flores no mundo é mais emprego no Equador. E não estamos buscando um tratado apenas com os Estados Unidos, estamos perto de concluir um com a China. Ontem concluímos um com a Costa Rica, iniciamos negociações com a Coreia do Sul, estamos trabalhando com países como o Canadá.
– “Paciência” –
P – O que os Estados Unidos disseram?
R – Assim como a questão da segurança, não é uma questão que se resolve em cinco minutos, é um processo (…) Há uma recepção favorável, mas temos que ter paciência.
P – O acordo com a China será assinado antes do final do ano?
R – Vai ser muito difícil.
P – A coalizão indígena CONAIE, que tomou as ruas do Equador este ano, se opôs a um TLC com os Estados Unidos no passado. Agora não estaria se expondo a uma nova onda de protestos?
R – De jeito nenhum. Minha obrigação é defender o interesse da maioria dos equatorianos (…) Não devemos abordá-lo do ponto de vista da luta social ou de questões ideológicas, temos que ser absolutamente práticos.
P – Os Estados Unidos consideram a China seu rival estratégico…
R – O presidente Biden, na Assembleia Geral das Nações Unidas, (…) disse: “Não quero uma guerra fria com a China, quero uma concorrência aberta e transparente”. Em uma reunião em fevereiro com o presidente Xi Jinping na China (…) ele me disse: “podemos trabalhar com o Equador sem condicionar politicamente os países que apoiamos”.
E a China nos apoiou na vacinação, na renegociação da dívida, na renegociação dos contratos de petróleo e nas negociações de um TCL.
P – A China é acusada de manter contratos não tão transparentes quanto os de outros países…
R – Todos os acordos que assinamos, de renegociação de dívidas e renegociação de contratos de petróleo são absolutamente transparentes.
P – Em relação à migração, Biden pediu ajuda para a deportação de migrantes a um país terceiro?
R – Não. Eu diria que (a migração) foi o tema que mais tomou tempo em nossa conversa. (Biden) me disse “este é um país de migrantes”. Ele me disse (que) temos que fazer as coisas em ordem, não podemos desenvolver uma sociedade de forma caótica.
P – Tudo passa pelo comércio?
R – Não, acredito que o comércio e o investimento são uma forma de se relacionar de forma positiva, gerando oportunidades. Acho que se formos a um bar tomar um drink, ouvir uma música, provavelmente vamos nos divertir, mas não vamos resolver nenhum problema.
P – O que você leva de sua viagem?
R – Uma melhor compreensão das duas prioridades do Equador: combater a insegurança e desenvolver sua economia por meio da promoção do comércio.