03/03/2022 - 17:08
O presidente francês, Emmanuel Macron, anunciou nesta quinta-feira (3) sua candidatura à reeleição nas presidenciais de abril, em meio a temores de seus adversários de que a ofensiva russa na Ucrânia ofusque a campanha e abra o caminho para um segundo mandato.
“Sou candidato para criar com vocês uma resposta francesa e europeia única aos desafios do século”, escreveu Macron em uma “Carta aos franceses”, publicada em vários veículos de comunicação na primeira página.
A tradição manda que os presidentes em exercício esperem até o último momento para anunciar se disputarão a reeleição, mas esse conflito obrigou o atual inquilino do Palácio do Eliseu, sede da Presidência francesa, a adiar seus planos até a véspera do prazo final.
Macron havia vinculado o anúncio a uma melhora na situação sanitária e a sua mediação para diminuir a crise entre Moscou e Kiev. O primeiro objetivo foi alcançado. No segundo caso, a Rússia invadiu a Ucrânia.
Apesar do fracasso diplomático, o líder centrista continua liderando as pesquisas, seguido pelos candidatos de extrema direita Marine Le Pen e Éric Zemmour, da candidata da direita tradicional, Valérie Pécresse, e do esquerdista Jean-Luc Mélenchon.
As últimas pesquisas dão ao presidente entre 25% e 28% das intenções de voto no primeiro turno marcado para 10 de abril, à frente de Le Pen (16% a 17%), Zemmour (14%), Pécresse (12% a 13%) e Mélenchon (10,5% a 12,5%).
Em 2017, Macron se tornou o presidente eleito mais jovem da França, aos 39 anos, e agora pode ser o primeiro a renovar seu mandato desde o conservador Jacques Chirac (1995-2007) no segundo turno de 24 de abril, de acordo com as pesquisas.
A campanha eleitoral é, no entanto, atípica. Inicialmente liderada pela política migratória e depois pelo medo da perda do poder de compra, agora está praticamente monopolizada pela guerra na Ucrânia.
Isso faz seus rivais temerem que o presidente evite discutir o conteúdo da campanha eleitoral.
Macron “deve um balanço [sobre seu mandato] aos franceses”, enfatizou Le Pen.
Na terça-feira (1º), o presidente do Senado, o direitista Gérard Larcher, alertou para o risco de uma “crise de legitimidade” de um possível novo mandato de Macron, sem um debate real sobre seu balanço e projeto.
“Logicamente, não poderei fazer campanha como gostaria, devido ao contexto”, escreveu Macron na carta, comprometendo-se, no entanto, a “explicar” seu projeto “com clareza”.
– “Trabalhar mais” –
Os avisos não são triviais. Macron era quase um novato político quando foi eleito em 2017, meses depois de servir como ministro da Economia de seu antecessor, o socialista François Hollande. Seu impulso reformista colidiu com uma série de protestos sociais.
A crise dos “coletes amarelos” no meio do mandato foi a mais importante. Este protesto das classes populares obrigou-o a reverter o aumento dos preços dos combustíveis e, desde então, tem tido o cuidado de limitar o aumento da energia.
Durante uma entrevista em dezembro passado sobre seu mandato, o líder liberal, que teve de deixar para trás alguns de seus postulados para tirar o país da recessão econômica causada pelo coronavírus em 2020, reconheceu que um único mandato não era suficiente.
Sua aposta para os próximos cinco anos passa por obter a “independência” da França com investimentos maciços nos setores industrial e energético, especialmente no setor nuclear, potencializando a transição ecológica e digital.
O Tribunal de Contas já avisou o governo, porém, que terá de fazer reformas estruturais e cortes para sanar as contas públicas, sobretudo quando o Executivo prevê uma dívida de 113% do Produto Interno Bruto (PIB) e um déficit de 5% no final do ano.
Macron já antecipou que, entre seus planos, está retomar a polêmica reforma da Previdência, paralisada pela pandemia de coronavírus e que pode provocar novas manifestações multitudinárias.
“Não há independência sem força econômica. Portanto, devemos trabalhar mais e continuar baixando os impostos que pesam no trabalho e na produção”, reiterou em sua carta, na qual evoca as linhas gerais de seu projeto de governo.