LUCIANO AMOGLIA PWM Filial quer chegar a acordo com os chineses, mas não consegue diálogo.

PETER LIN CEO da Phihong Taiwan aponta irregularidades e quer trocar gestão.

Dizem que “em briga de marido e mulher não se mete a colher.” Mas, em se tratando de casamento milionário, é difícil deixar passar. Quando a Motorola restringiu para cinco o número de fornecedores mundiais de componentes, nasceu um caso de amor: a joint venture entre a Phihong Technology Co., de Taiwan, e a brasileira PWM do Brasil Ltda. Com um modesto investimento de US$ 400 mil, nasceu a Phihong PWM Brasil, administrada pelo executivo Luciano Lamoglia, dono de 25% da PWM. Os chineses trouxeram, em seguida, outra empresa, a First International Computer Ltda. (FIC do Brasil), também para ser gerida por Lamoglia. As parceiras – uma, fabricante de fontes de alimentação energética, a outra, de peças – rapidamente cresceram e dominaram seu mercado em Minas Gerais. Mas, de dezembro para cá, tudo mudou. Para surpresa de todos, o brasileiro foi destituído do cargo pelo sócio majoritário, o chinês Peter Lin, CEO, fundador e dono de 60% das ações da Phihong. Embora tenha deixado a FIC, Lamoglia, com o peso de sua participação na PWN, obteve uma liminar na Justiça para reverter a decisão e manteve-se no cargo da Phihong Brasil. Os chineses, contrariados, vieram até o País e exigem a sua saída. “Não queremos excluir o sócio, apenas trocar a gestão para que a empresa volte ao lucro”, resume Lin, que alega ter encontrado irregularidades nas duas subsidiárias.

Phihong PWM Brasil: Motorola cancelou contrato, levando consigo boa parte da receita.

Entre os motivos para a destituição, segundo os chineses, estariam duas medidas não autorizadas: a descapitalização da Phihong Brasil com a compra de R$ 25 milhões em crédito de IPI (Imposto Sobre Produtos Industrializados) e a caução de bens e maquinário da empresa. A caução é como uma garantia para operação de empréstimo. Além disso, sustentam que o executivo brasileiro, que teria deixado de repassar US$ 5 milhões à matriz, não presta contas há três meses. “É difícil definirmos para onde foi o dinheiro, pois ele não manda relatórios financeiros. Não tenho acesso fácil à empresa”, afirma Lin. Heron Antloga, que há um mês assumiu a presidência da FIC Brasil, completa: “Quando cheguei, encontrei apenas R$ 50 mil no caixa. Em quatro anos da administração, Lamoglia acumulou um prejuízo de R$ 15 milhões.” Ironicamente, o presidente destituído afirma que Antloga foi o diretor financeiro que aprovou o crédito de IPI e outra operação polêmica: um pedido de empréstimo junto ao Banco Santos três dias antes da intervenção federal na instituição. Phihong PWM Brasil: Motorola cancelou contrato, levando consigo boa parte da receita. Lamoglia condena a estratégia dos chineses de levar a discussão a público. “Estão tomando ações que na China funcionam, mas aqui as instituições são fortes.” Em entrevista exclusiva à DINHEIRO, o executivo diz que a FIC já estava endividada quando assumiu a presidência em 2002, que não deve tributos e que Lin tem acesso aos números por um administrador financeiro por ele indicado, o chinês Yang Heng Chen, ainda hoje na empresa. A briga, de acordo com o brasileiro, é por algo maior. Quando o resultado da Phihong Brasil atingiu a casa dos US$ 100 milhões e passou a representar 30% do faturamento global do grupo, os acionistas chineses, por ambição, teriam tentado tomar o controle à força. “Eles vieram com auditores buscando falhas administrativas e deixaram um vice-presidente industrial que tratava o pessoal na linha como em uma ditadura. Os trabalhadores entraram em greve e, quando o proibi de entrar, o sr. Lin, com seus 60%, disse que estávamos fora.” A partir de então, o CEO chinês teria tentado sufocar as finanças do braço nacional. “A primeira coisa foi suspender todos os nossos insumos na China, o que afetou a entrega aos clientes”, continua Lamoglia. “Daí o dreno nas finanças.” O conflito fez o grupo perder o contrato com a Motorola, que já representou 90% da receita no Brasil. Lin acusa o diretor brasileiro de assustar os clientes ao decidir fabricar componentes de computador, tornando-se concorrente da FIC. “Se a culpa fosse nossa, eles só teriam perdido a Motorola no Brasil”, diz Lamoglia. “Queremos um acordo para resolver a situação, mas os chineses se recusam a conversar.” Por fim, a luta se resume a uma tecnicalidade da lei que, por falta de jurisprudência, é de difícil interpretação. De acordo com o inciso II do artigo 1.076 do Código Civil, Lamoglia pode ser destituído com 50% dos votos mais um. Mas o inciso I condiciona a alteração do contrato social aos votos de 75% dos donos da empresa. O executivo entrou com um pedido na Justiça de bloqueio do registro da destituição na Junta Comercial. Em primeira instância, ganhou. Mas Lin recorreu. Resta saber quem vencerá.