Por Howard Schneider

(Reuters) – Declarações esta semana do chefe do banco central dos Estados Unidos, Jerome Powell, em uma conferência em Wyoming deverão expor o que ele espera que irá acontecer em uma economia que luta contra a inflação, ao mesmo tempo em que, como alguns temem, caminha para uma recessão.

Ele será o primeiro a reconhecer um fato desconfortável: ele não tem ideia do que acontecerá nos próximos meses.

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“É muito difícil dizer com confiança em tempos normais… o que a economia estará fazendo em seis ou 12 meses”, disse Powell em julho após a última reunião do Federal Reserve. “Estes não são tempos normais.”

Powell fala na manhã de sexta-feira na conferência anual do Federal Reserve de Kansas City em Jackson Hole. Com o banco central norte-americano enfrentando as piores taxas de inflação desde o início dos anos 1980 e elevando os juros para domá-la, Powell deve manter o foco nessa batalha.

“O que devemos ouvir e provavelmente ouviremos na próxima semana é resistência” à ideia de que o Fed sente que apertou as condições de crédito o suficiente para corrigir o problema do salto dos preços, ou que, como alguns especularam, o banco central “hesitaria” ao primeiro sinal de fraqueza econômica e pararia de aumentar ou até mesmo começar a cortar a taxa básica de juros, disse a estrategista-chefe global da Principal Global Investors, Seema Shah.

Em vez disso, ela disse que Powell provavelmente enfatizará que “o crescimento está desacelerando, provavelmente deve desacelerar ainda mais, porém a inflação será aderente e sua prioridade é contê-la… Eles não estão prestes a parar em resposta ao crescimento mais fraco”.

As bases foram lançadas em comentários recentes do quadro de presidentes regionais do Fed, que abertamente consideraram o risco de recessão como parte do controle da inflação e usaram frases como “aumentar e manter” para descrever a estratégia de alta dos custos dos empréstimos, em que cortes nos juros estão fora de cogitação. Elas ainda pediram grandes incrementos contínuos dos juros, como os movimentos consecutivos de 0,75 ponto percentual em junho e julho.

Isso implica um segundo semestre difícil, com riscos principalmente para investidores de ações que recentemente elevaram os preços dos papéis e empregados que podem acabar em um ciclo de demissões.

Obter uma leitura sobre o que vem a seguir tornou-se imensamente difícil: basta considerar que, após seis meses em que a economia norte-americana encolheu, medida pelos dados do Produto Interno Bruto, as empresas ainda empregaram cerca de 500 mil funcionários extras em julho.

Isso forçou o banco central a trocar o tipo de orientação que havia usado para mapear seus planos com meses de antecedência em favor de delinear suas intenções apenas uma reunião por vez.

UMA RECESSÃO “PODE ACONTECER”

Os comentários de Powell terão como alvo o público dos EUA, mas ele terá os ouvidos do mundo atentos a cada palavra. Como chefe do banco central mais poderoso do mundo, a trajetória que ele traçar para o Fed terá efeitos cascata em todo o mundo em um momento em que a maioria dos outros bancos centrais também travam suas próprias batalhas contra a inflação.

A principal ferramenta de política monetária do Fed, a taxa básica de juros, subiu de perto de zero no início de março para a atual faixa de 2,25% a 2,50%. Mais aumentos são dados como certos, mas o ritmo e o ponto de chegada ainda não são claros.

A principal questão que o Fed, e a economia dos EUA, enfrenta é se os aumentos de juros já telegrafados vão reprimir a demanda o suficiente para que o avanço dos preços arrefeça.

Caso contrário, e os números da inflação não confirmem uma tendência consistente de desaceleração nos próximos meses, o banco central norte-americano terá que redefinir as expectativas para custos de empréstimos ainda mais altos –o tipo de evento que pode causar uma nova liquidação de ações, demissões entre corporações, e até mesmo uma recessão.

Esse é um resultado que eles querem evitar. Mas, como Powell deve enfatizar, a economia dos EUA precisa desacelerar para que o salto dos preços seja reduzido e, se isso não acontecer, o Fed precisará ir mais longe.

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