24/12/2002 - 8:00
Tem uma turma no mercado financeiro que se diz capaz não só de decifrar aqueles gráficos da Bolsa de Valores que mais parecem eletrocardiogramas, como também de prever o futuro lendo aquelas linhas. São os analistas gráficos, também chamados de grafistas. Para eles, o que mais importa para medir o humor do mercado não é o nome dos novos técnicos do Banco Central ou o quanto os juros vão subir. Pela posição dos gráficos, eles acreditam que podem prever, quase com certeza científica, a tendência da Bolsa. E atenção: segundo esse pessoal, agora é a hora de investir na Bovespa, pois os papéis estão baratos e o índice deverá saltar para 12.500 pontos em breve. Em outras palavras, um ganho de mais de 14% em relação ao atual patamar, de 10.900 pontos. Para provar essa tese, os grafistas contam com métodos curiosos, baseados na interpretação de figuras que, muitas vezes, só eles conseguem visualizar.
Uma dessas estruturas é conhecida pelo sugestivo nome de ?cabeça e ombros?. Segundo a teoria, toda vez que essa figura misteriosa aparece nos gráficos é um indício de que haverá uma reversão da tendência na bolsa. A presença desse desenho foi notada recentemente pelos iniciados nos gráficos da Bolsa de Valores de São Paulo. De acordo com o diretor da Enfoque Gráfico, Fausto de Arruda Botelho, o primeiro ombro teria ocorrido entre agosto e setembro deste ano, quando o índice Bovespa chegou perto dos 9.500 pontos. A maior queda do segundo semestre deste ano, quando o Ibovespa ficou próximo de 8.500 pontos, em outubro, seria a cabeça. E o outro ombro aconteceu no início novembro, quando o índice ficou por volta de 9.600. Para os especialistas, essa espécie de exercício de futurologia tem apenas um significado: a bolsa vai subir. ?Um bom gráfico vale mais do que mil cotações?, compara Botelho. ?Esse é um comportamento padrão que indica que uma tendência de alta está se formando.?
De fato, desde que ultrapassou os 10.300 pontos, no mês passado, o Ibovespa não recuou mais abaixo desse patamar. Coincidência? Não na opinião de Sandro Longo, analista gráfico da StockPicker. ?Quem olha um gráfico vê o passado e tem condições de prever o futuro?, filosofa. O analista até admite que as previsões dos grafistas não são à prova de erro. Mas, garante, eles acertam mais do que erram. ?O índice de acerto da análise gráfica é de cerca de 70%?, afirma Longo.
Não é o que pensam os chamados fundamentalistas, os profissionais que fazem projeções para a Bolsa de Valores baseando-se em fatores mais conservadores como taxa de juros, câmbio, investimento estrangeiro e outras variáveis de política fiscal e macroeconômica do governo. ?Somos fundamentalistas, não acreditamos muito em análise de gráficos?, diz João Carlos Fernandes Pimenta, diretor superintendente de renda variável do grupo Santander Banespa. Na avaliação de Botelho, da Enfoque Gráfico, a análise gráfica é mais um instrumento para ajudar o investidor a sobreviver no mercado de ações. ?Se ganhar dinheiro na Bolsa fosse fácil, não haveria malandro pobre no Brasil?, ironiza Botelho.