A primeira-ministra britânica, Liz Truss, demitiu nesta sexta-feira(14) seu ministro das Finanças e grande aliado Kwasi Kwarteng, mas insistiu em aplicar, com modificações, seu plano econômico, em meio a uma tempestade política que ameaça sua permanência no cargo.

“Temos que atuar agora para tranquilizar os mercados”, afirmou em coletiva imprensa de menos de 10 minutos em Londres.

Truss se declarou “absolutamente determinada” a implementar seu plano de “crescimento econômico”, apesar das duras críticas, mesmo entre suas fileiras conservadoras, contra sua estratégia de cortes de impostos financiados com dívida pública.

Em um mercado extremamente volátil por dias, a instabilidade política pesou sobre a libra esterlina, que perdeu 1,20% frente ao dólar.

Os mercados financeiros britânicos vivem momentos de tensão desde que em 23 de setembro Truss e Kwarteng apresentaram um pacote de medidas que prevê importantes ajudas públicas e cortes de impostos, mas nada para financiá-lo.

Como resultado, as taxas de juros da dívida pública britânica dispararam a níveis recordes, o que obrigou o Banco da Inglaterra a intervir comprando títulos de longo prazo.

O banco central -entidade independente do governo- tentou assim conter a alta das taxas de juros, mas falhou, e quando anunciou que não prorrogaria as compras além desta sexta criou um caos ainda maior nos mercados.

Neste tenso contexto, Kwarteng, o ultraliberal de 47 anos, nascido em Londres, de pais imigrantes de Gana, confirmou no Twitter que Truss, sua aliada de longa data, o demitiu do cargo.

“Você me pediu para deixar o cargo de ministro das Finanças. Eu aceitei”, escreveu Kwarteng em uma carta dirigida a Truss e publicada em sua conta após seu retorno de Washington, onde participou das reuniões anuais do Fundo Monetário Internacional (FMI) e do Banco Mundial.

– Acalmar a crise de confiança –

Kwarteng foi imediatamente substituído pelo ex-ministro das Relações Exteriores e da Saúde Jeremy Hunt.

Umas das figuras mais sérias, apesar de pouco carismática, entre os candidatos que concorreram à liderança conservadora em julho, Hunt, de 55 anos, tem popularidade entre alguns parlamentares.

Segundo a imprensa britânica, alguns membros de seu próprio partido já tentam destituir Truss, dadas as desastrosas pesquisas que preveem uma derrota esmagadora para os conservadores nas próximas eleições legislativas.

As eleições estão programadas apenas para janeiro de 2025, no mais tardar, mas a tempestade política e econômica causada pelos controversos cortes de impostos decididos por Kwarteng e Truss parecem impossibilitar a permanência da líder conservadora no poder até então.

Truss, de 47 anos, chegou a Downing Street em 6 de setembro. Sucedeu na liderança do partido e do Executivo o polêmico Boris Johnson, pressionado por suas próprias fileiras a renunciar após escândalos que arrasaram com sua popularidade.

Agora, resta saber se suas novas concessões serão suficientes para acalmar a rebelião interna e a crise geral de confiança.

“Mudar o ministro das Finanças não desfaz os danos já infligidos” e “precisamos de uma mudança de governo”, disse Rachel Reeves, chefe de economia do Partido Trabalhista, da oposição, que supera em muito os conservadores nas pesquisas.

Segundo uma pesquisa do YouGov, 43% dos eleitores que votaram no Partido Conservador de Johnson em 2019 querem uma nova mudança de primeiro-ministro.

Sob pressão do partido, Truss e Kwarteng já tiveram que abandonar uma de suas medidas mais polêmicas no início de outubro.

Trata-se da abolição da alíquota máxima, de 45%, para rendas acima de 150.000 libras (170.000 dólares) por ano, acusada de favorecer os ricos quando muitos britânicos afundam na pobreza oprimidos pela inflação que já está próxima de 10% e deve continuar aumentando.

A Comissão Europeia alertou para a necessidade de prudência ao implementar políticas fiscais e monetárias.

“Não temos lições para ensinar a ninguém, muito menos ao Reino Unido. Temos lições a aprender, talvez, porque o que aconteceu mostra quão volátil é a situação e quão prudentes também devemos ser com nossa política fiscal e monetária”, disse Paolo Gentiloni em entrevista coletiva no final de um fórum em Washington.