19/03/2021 - 20:41
As primeiras conversas entre o governo de Joe Biden nos Estados Unidos e a China foram “duras”, mas “construtivas”, disseram as duas partes em meio a crescentes tensões entre as duas superpotências mundiais.
O encontro de alto nível começou na quinta-feira com acusações mútuas de ações perturbadoras para a estabilidade mundial, no primeiro encontro entre delegados dos dois países desde a chegada ao poder de Biden, em 20 de janeiro.
Mas depois de três rodadas de diálogo na gelada Anchorage, no Alasca, o secretário de Estado americano, Antony Blinken, disse que as superpotências rivais encontraram áreas em que seus interesses se sobrepõem.
Ele disse que os Estados Unidos foram francos com relação a suas preocupações sobre a atitude de Pequim frente a Hong Kong e Taiwan, bem como seu agir no ciberespaço.
“Mas também pudemos ter uma conversa muito sincera durante estas muitas horas sobre uma agenda em expansão”, afirmou Blinken.
“Sobre o Irã, sobre a Coreia do Norte. Sobre o Afeganistão e o clima, nossos interesses se cruzam”, disse a jornalistas.
O mais alto funcionário do Partido Comunista da China para a diplomacia, Yang Jiechi, foi embora sem falar com os jornalistas, mas depois avaliou como “construtivas” as conversas, segundo a agência de notícias estatal chinesa Xinhua.
O diálogo foi “direto, construtivo e útil, embora ainda haja divergências importantes entre ambas as partes”, afirmou.
O ministro chinês das Relações Exteriores da China, Wang Yi, considerou que se cada parte respeitar os interesses e as preocupações da outra, o diálogo entre os dois países “sempre estaria aberto”, mencionou a Xinhua.
Mas Wang, disse, “deixou claro à parte americana que a soberania e a integridade territorial são questões importantes de princípio”.
Wang informou que Washington não deve “subestimar a vontade do povo chinês de salvaguardar a dignidade nacional e os direitos e interesses legítimos”, reportou a Xinhua.
– “As coisas claras” –
As reuniões foram fixadas como uma troca de pontos de vista e não se esperavam acordos ou pactos.
Biden herdou a tensa relação com Pequim de seu antecessor, Donald Trump, e até agora informou que mantém a mesma linha dura, vendo a China como o competidor número um dos Estados Unidos, econômica política e militarmente, nas próximas décadas.
As duas superpotências têm se enfrentado cada vez mais em uma ampla gama de temas, da competição geopolítica no Pacífico ocidental, sudeste asiático e Oceano Índico, às relações comerciais e a gestão da covid-19, que a China reportou à Organização Mundial da Saúde (OMS) em dezembro de 2019.
Washington tem sido particularmente crítico com o controle político crescente da China em Hong Kong, suas ameaças contra Taiwan e seus maus-tratos à minoria uigur, que os funcionários americanos denominam uma política de “genocídio”.
No entanto, a China refuta as críticas e diz que os Estados Unidos estão interferindo em seus assuntos internos.
“Esperávamos ter conversas duras e diretas sobre uma ampla gama de temas, e isso é exatamente o que tivemos”, disse o assessor de segurança nacional da Casa Branca, Jake Sullivan.
“Temos as coisas claras ao sair, e voltaremos a Washington para fazer um balanço de onde estamos”, disse.
“Continuaremos consultando aliados e parceiros sobre o caminho a seguir”, acrescentou.
– “Mentalidade da Guerra Fria” –
As conversas começaram na quinta-feira com arremetidas das duas partes sobre direitos humanos e geopolítica.
Blinken acusou a China de ações que “ameaçam a ordem baseado em regras que mantêm a estabilidade global”, declarações que Biden apoiou nesta sexta-feira afirmando que está “orgulhoso” de seu secretário de Estado.
Yang respondeu à linguagem “condescendente” de Blinken, acusando-o de fazer uma demonstração de força para a tribuna.
“Quando entrei nesta sala, deveria ter lembrado à parte americana que preste atenção a seu tom em nossos respectivos comentários de abertura, mas não o fez”, disse Yang, segundo uma tradução dos Estados Unidos de seu discurso em chinês.
Sullivan disse que os Estados Unidos não queriam conflitos, mas saudava “uma dura concorrência”.
Yang pediu para “abandonar a mentalidade da Guerra Fria” e disse que Pequim não queria “nenhum enfrentamento, nenhum conflito”.
A parte chinesa rejeitou a afirmação de Blinken de que sua discussão com “quase uma centena de homólogos” em todo o mundo mostrou que a maioria apreciava o papel global dos Estados Unidos e tinha “profunda preocupação” com o comportamento de Pequim.
“Entre nossos dois países tivemos enfrentamentos no passado e o resultado não serviu aos Estados Unidos”, respondeu Yang.
Pequim acusou Washington de adotar uma abordagem agressiva e pouco diplomática ao receber seus convidados no Alasca.
“Quando a delegação chinesa chegou a Anchorage, seus corações estavam gelados pelo frio penetrante, assim como a recepção por parte de seu anfitrião americano”, disse na sexta-feira o porta-voz do Ministério das Relações Exteriores chinês, Zhao Lijian.