Todas as segundas, pontualmente as 8h30 da manhã, o Banco Central divulga seu tradicional Boletim Focus. O documento traz as estimativas de analistas a respeito dos principais indicadores da economia brasileira, como inflação, atividade econômica, juros entre outros. O relatório serve mais ou menos como uma bússola para o mercado financeiro para saber o que esperar na semana que começa. Mas algo mudou no dia 21 de março. O relógio marcava 8h30 e nada aconteceu. Conforme o tempo passava, pairava no ar a dúvidas sobre se o documento sairia ou não. Pouco mais de meia hora depois ele acabou sendo divulgado.

O banco nem comentou o atraso. Também não tinha muito o que falar. Afinal ele só ocorreu por causa de uma “operação tartaruga” feita pelos funcionários do Banco Central, que tentam negociar aumentos com o governo desde o ano passado. Segundo o presidente do Sindicato Nacional dos Funcionários do Banco Central (Sinal), Fábio Faiad, a decisão de paralisações parciais e atraso de relatórios foi decidida na quarta-feira (16) e iniciada no dia seguinte, devendo continuar até que se consiga negociar aumentos para a categoria. Entre as reivindicações estão um reajuste de 27%, além de pontos não salariais como reestruturação da carreira, com a mudança do nível de escolaridade dos técnicos para nível superior entre outras coisas. Além disso, pede-se o reconhecimento em lei de que os funcionários do BC exercem atividades exclusivas de Estado, o que garante algumas prerrogativas.

Banco Central anuncia mudanças no Boletim Focus

“A gente vem tentando falar com o governo desde o ano passado, sem sucesso. No início do ano começamos a preparar esse movimento, que começou em março”, afirmou. O objetivo agora é causar impacto em várias atividades, como divulgação de taxas, relatórios, eventos entre outros.

“Tentamos negociar, mas só depois de atrasar o Focus conseguimos um contato com o ministro Ciro Nogueira, que nos disse que iria estudar o caso”, disse. Porém, ainda sem definições, a categoria planeja continuar com as paralisações e operação padrão, enquanto aguarda alguma resposta. “Caso contrário iniciaremos greve na segunda-feira, dia 28”.

A escolha pela operação tartaruga se deve à nova realidade do trabalho remoto, que possui uma lógica diferente de atuação. “Nesse novo cenário o sindicalismo mudou. E percebemos que essas operações mais lentas conseguem afetar mais o trabalho”, explicou. O sindicalista diz que a categoria torce pelo diálogo e não quer fazer uma greve. Por isso, pela primeira vez, escolheu a opção pela operação padrão. “Mas o governo está há três anos sem negociar e diz que não tem verba, mas negocia orçamento secreto e fundo eleitoral”. Atualmente, o BC tem 3,4 mil pessoas trabalhando e o sindicato afirma que a adesão está acima de 50%.