03/02/2023 - 7:36
O presidente Lula recebeu com alívio, apesar de tentar demonstrar tom de indiferença, a notícia de que Rodrigo Pacheco e Arthur Lira foram reconduzidos aos respectivos mais altos cargos do Senado e da Câmara. Os dois dias de tensão que antecederam a votação no plenário do Legislativo se somavam a outros tantos incêndios e bombas que têm assolado o governo desde a posse no dia 1º de janeiro. Problemas na caserna, incoerências fiscais arrastadas da gestão anterior, casos severos de fome. Isso tudo só na largada de 2023 e enquanto boa parte da população segue alimentada por informações desconexas com a realidade e torcendo pelo quanto pior melhor.
Um cenário de terror para qualquer presidente, mas ainda mais difícil para alguém que, em 2002, assumiu um Brasil que tinha um potencial de futuro, que vinha de oito anos de controle monetário e um caminho promissor. Hoje Lula comanda um Brasil que bate cabeça há oito anos, bambeando entre a ingovernável gestão Dilma, a falta de credibilidade do período Temer e o agressivo governo Bolsonaro. Lula pega terra arrasada. E parece que tem sentido o baque. Interlocutores próximos ao presidente afirmam que o tom de Lula tem subido nas discussões. “Ele quer resultados. Já sabe os caminhos, agora só precisa percorrer”, disse um palaciano. Isso tudo enquanto a primeira-dama Janja ajuda a dar o tom da narrativa que Lula quer construir. Foi dela grande parte das decisões midiáticas de Lula, e quase todas foram grandes acertos.
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Mas chegou a hora de Lula acertar também na prática. E ninguém aqui está dizendo que o que ele tem feito não é importante. Salvar a população Yanomami de um projeto de genocídio que dizimou crianças e promoveu uma tentativa de branqueamento dos povos originários é urgente. É preciso parar o que estiver fazendo e socorrer. E lá estava Lula. Ameaça velada de generais em artigos públicos é grave. E também precisa se enfrentada. Medidas de proteção democrática precisam ser tomadas. O problema é que no Brasil de hoje tudo é urgente, e Lula é um só. E enquanto ele corre para apagar incêndios, situações esdrúxulas (como ter uma ministra ligada a milicianos ou um ministro de relações duvidosas com o mais fisiológico dos partidos) seguem marginais – pelo menos até virarem um incêndio e Lula precisar agir.
A economia segue sem grandes solavancos. Na quinta-feira (2), o dólar chegou a ser negociado a R$ 4,9417, menor valor desde junho de 2022. Na véspera, a reeleição de Arthur Lira para a presidência da Câmara e de Rodrigo Pacheco no Senado foi uma vitória para o governo, que evitou a ascensão de representantes da extrema-direita para os cargos mais altos do Congresso Nacional. “Perdemos a eleição, mas o país é nosso”, bradava um coro de deputados em uma live em rede social após a votação. A base bolsonarista no Paralamento está maior que em 2021, e eles já começaram a mostrar as garras. Já no dia da posse para o novo mandato, Eduardo Bolsanaro e outros deputados ocuparam o Plenário da Câmara com adesivos com as frases Fora Lula e Fora Ladrão.
Se Lula vive o dilema que tão bem define o Brasil – se correr o bicho pega, se ficar o bicho come – ele tem conseguido manter a fera a uma distância segura.