09/02/2025 - 6:04
Há apenas alguns anos, Portugal, Itália, Espanha e especialmente a Grécia eram as crianças-problema da União Europeia (UE) e da zona do euro. Recentemente, no Fórum Econômico Mundial em Davos, o primeiro-ministro espanhol, Pedro Sánchez, disse estar convicto de esse não ser mais o caso: “Nós, do sul, também podemos contribuir com soluções para os problemas comuns”.
Ele falou sobre a possibilidade de produzir e exportar mais energia limpa – na Espanha, principalmente energia solar – em meio à crise energética gerada após a invasão russa da Ucrânia. Dessa forma, segundo Sánchez, seu país deverá se tornar a “melhor economia do mundo”.
Alemanha cria divisão sul-norte
Da perspectiva pan-europeia, no entanto, a situação não parece nada animadora: a economia na zona do euro está estagnada. O Produto Interno Bruto (PIB) da região permaneceu no nível do terceiro e quarto trimestres de 2024, informou no fim de janeiro o escritório de estatísticas da UE Eurostat. No segundo trimestre, houve um crescimento de 0,4%.
Muitos especialistas concordam que a principal razão para isso é o persistente mau desempenho econômico da maior economia da Europa. Na Alemanha, o PIB encolheu 0,2% no quarto trimestre, assim como durante todo o ano de 2024. “A Alemanha está ficando cada vez mais para trás”, disse Alexander Krüger, economista-chefe do banco privado Hauck Aufhäuser Lampe, à agência de notícias Reuters.
A maior economia da zona do euro está enfraquecendo, e os países antes considerados problemáticos estão decolando. Será que as nações do sul poderão assumir o papel da locomotivas da Europa no futuro? O diretor do Instituto Austríaco de Pesquisa Econômica (WIFO), Gabriel Felbermayr, é cético: para tal, esses países “simplesmente são pequenos demais economicamente”.
Alemanha e França “já respondem por mais de 50 por cento do PIB da zona do euro; esse bloco industrialmente forte do norte inclui países como Áustria, Eslovênia, Eslováquia e também a Holanda”, de acordo com o economista. Eles não são os únicos afetados: “Países da UE não pertencentes à zona do euro, especialmente a República Tcheca e, até certo ponto, a Polônia, também sofrem com a fraqueza do núcleo industrial da UE.”
Preços elevados da energia
O que torna os meridionais tão fortes, e os demais parecerem tão frágeis? Para o economista Hans-Werner Sinn, ex-chefe do Instituto Ifo de Munique, isso se deve a razões externas e também a decisões políticas: “Nos últimos anos, a Alemanha sofreu muito com a crise energética, causada por uma combinação da guerra [na Ucrânia] com a escassez de energia autoinfligida.”
Ele lamenta particularmente a pretendida transição dos combustíveis fósseis para fontes de energia verde. Ao fazer isso, “a UE e a Alemanha perderam o senso de proporção e equilíbrio”. “Devido a essas intervenções, nosso país tem agora os preços de eletricidade mais altos do mundo.”
Segundo Sinn, a indústria química, em particular, sofre com isso. O principal setor da Alemanha, o automobilístico, também está sob forte pressão: “As regras de consumo para frotas, definidas pela UE, roubaram a competitividade da indústria automotiva.”
Vantagens geográficas
Felbermayr vê a situação de forma semelhante. Nos países do sul, o turismo e a agricultura desempenham um papel maior, onde há “uma participação industrial significativamente menor no total da cadeia de valor. Os preços mais altos da energia em toda a Europa, as guerras comerciais, os desafios da descarbonização: tudo isso simplesmente afeta menos o sul do que o norte.”
Além disso, os meridionais têm uma vantagem que eles próprios conquistaram: desde 2010, suas taxas de inflação são mais baixas do que as do norte. “Isso impulsionou sua competitividade. As iniciativas de reforma após a crise de endividamento da zona do euro deram frutos. O mesmo pode ser dito para Grécia, Espanha e Portugal.”
Não há luz à vista no fim do túnel econômico. Na melhor das hipóteses, estaria surgindo um movimento ascendente anêmico, comentou o economista-chefe do Commerzbank, Jörg Krämer, à agência de notícias Reuters: “A profunda crise estrutural do setor, e as ameaças tarifárias de Donald Trump estão arrastando tudo para baixo.” O presidente dos EUA também ameaça a Europa com sobretaxas, o que afetaria particularmente a Alemanha, dependente das exportações.
Perigo reconhecido, perigo evitado?
“Até agora, não há sinais de recuperação”, confirma Sebastian Dullien, diretor do Instituto de Macroeconomia e Pesquisa de Ciclos Econômicos (IMK). Ele cita várias razões para a atual crise da economia alemã, incluindo “a política industrial agressiva da China, que pressiona as exportações”: “Além disso, as taxas de juros do Banco Central Europeu, que ainda estão altas, dada a atual situação econômica, estão desacelerando os investimentos.”
Enquanto isso permanece a esperança de essa tomada de consciência seja o primeiro passo para uma melhoria. O ministro da Economia alemão, Robert Habeck, parece ter chegado a essa conclusão. No Fórum Econômico Mundial, afirmou que “de certa forma, ignoramos o fato de que esta não é uma crise de curto prazo, mas uma crise estrutural”.
Isso é particularmente evidente na indústria, que enfrenta dificuldades com os altos preços da eletricidade. O comércio exterior, importante para a Alemanha, enfraquece, e o clima entre os consumidores está se deteriorando. “Temos que reinventar nosso modelo de negócios”, exigiu Habeck.
O que é necessário agora
No entanto, a Comissão Europeia espera uma ligeira recuperação econômica da zona do euro e um crescimento de 1,3% em 2025. O Banco Central Europeu, que especialistas acreditam estar próximo de cortar as taxas de juros, provavelmente tomará novas medidas de redução ao longo do ano.
Gabriel Felbermayr, não considera incomum o atual equilíbrio de poder entre os países setentrionais e meridionais. “Às vezes, o norte, forte em indústria, está na liderança, e outras vezes os países do sul, fortes em serviços. Não é diferente em outras grandes economias, como os EUA.”
Para o chefe da WIFO é crucial que “o norte impulsione as reformas necessárias para maior competitividade, mas que o sul não desista”: “Também é importante o mercado interno – que também é um veículo para equilibrar as regiões individuais – voltar a se fortalecer.”