A justiça russa condenou nesta segunda-feira cinco homens a penas de prisão, dois deles perpétua, pelo assassinato em 2006 da jornalista Anna Politkovskaya, mas até o momento a pessoa que encomendou o assassinato não foi identificada.

“Não estarei satisfeito até que seja condenada a pessoa ou pessoas que encomendaram o assassinato”, afirmou ao canal Rusia 24 Ilia Politkovski, filho da jornalista russa, depois de tomar conhecimento da condenação à prisão perpétua do organizador e do autor material do crime.

Os magistrados consideraram Rustam Majmudov culpado de atirar contra a jornalista, enquanto Lom Ali Gaitukayev, tio do condenado, foi apontado como o organizador do assassinato.

O tribunal também condenou a 20 anos de prisão um policial moscovita, Serguei Jadzhikurbanov, por participação no planejamento do assassinato.

Os dois irmãos do autor material, Ibrahim e Dzhabrail Majmudov, cumprirão penas de 12 e 14 anos de prisão, respectivamente, por perseguição à jornalista e por terem avisado Rustam sobre a chegada da repórter a seu prédio, onde ela foi assassinada.

Os advogados dos filhos da vítima pediram ao tribunal clemência para Ibrahim e Dzhabrail, pois consideravam que haviam desempenhado um papel menor no crime.

Os advogados dos acusados anunciaram que pretendem recorrer do veredicto.

Quem encomendou o assassinato

“Todas estas pessoas receberam duras condenações, mas eles não tinham nenhum motivo pessoal para perseguir e matar Anna Politkovskaya. A questão principal é: Quem encomendou o assassinato?”, questionou Liudmila Alekseva, diretora do Grupo de Helsinque, a organização decana na defesa dos direitos humanos na Rússia.

O filho da repórter afirmou que os cinco acusados representavam apenas “uma pequena parte dos culpados do crime”.

A redação do Novaya Gazeta, jornal independente para o qual trabalhava a repórter, elogiou o veredicto, mas pediu que a investigação continua “com o mesmo zelo” até o fim.

“Os principais personagens deste caso não estão identificados, ou seja, quem o encomendou, o intermediário e várias outras pessoas”, afirmou o diretor de redação adjunto do jornal, Serguei Sokolov.

A porta-voz da comissão que apura o caso anunciou a abertura de uma investigação específica para identificar quem encomendou a morte de Politkovskaya.

Os defensores dos direito humanos e os companheiros da jornalista apontaram em 2006 uma pista chechena na morte da jornalista de 48 anos, que fez muitos inimigos durante sua cobertura das atrocidades cometidas pelas milícias pró-Kremlin na Chechênia.

Um primeiro processo em 2009 absolveu na primeira instância dois dos três irmãos chechenos, Ibrahim e Dzhabrail Majmudov, mas a Suprema Corte anulou o julgamento para completar a investigação.

O assassinato da repórter investigativa provocou uma grande comoção e despertou a indignação da imprensa estrangeira, assim como das organizações de defesa dos direitos humanos.

O presidente russo, Vladimir Putin, do qual Politkovskaya era uma dura opositora, rejeitou dias depois da morte um crime político, por considerar que a jornalista não tinha influência suficiente na vida política na Rússia.

pop/fp