14/02/2007 - 8:00
DINHEIRO ? O sr. teve uma intensa atividade pública, depois se voltou à atividade de professor e agora retorna como presidente da Sabesp. O que o fez aceitar o convite?
GESNER OLIVEIRA ? Existem três motivos importantes. A Sabesp enfrenta uma nova conjuntura onde a concorrência, competição e o novo marco regulatório do saneamento são particularmente importantes. Isso provocará uma mudança cultural na companhia, que deve se preparar para ser regulada. Além disso, temos um programa de governo com muita ênfase no aumento do investimento social. E, como o saneamento talvez seja a área de infra-estrutura mais diretamente relacionada ao desenvolvimento das políticas sociais, temos uma boa perspectiva de crescimento.
DINHEIRO ? E a terceira?
OLIVEIRA ? A terceira é que a Sabesp é sedutora sob vários aspectos. É uma empresa que passou por um salto de governança corporativa importante, tem ações na bolsa de Nova York e está presente no Novo Mercado.
DINHEIRO ? O cenário está positivo, as ações da empresa subindo. Qual será o seu desafio no comando da maior empresa de saneamento das Américas?
OLIVEIRA ? A Sabesp é de longe uma referência no saneamento brasileiro, com corpo técnico invejável. É preciso dar um novo salto. Criar uma nova relação com os clientes e com as prefeituras. Outra questão fundamental é aumentar ainda mais sua eficiência.
DINHEIRO ? Como o sr. conseguirá subir mais esse degrau?
OLIVEIRA ? Será preciso grande esforço em redução de custos, em melhoria de processos e racionalização de serviços com foco no consumidor. Assim, conseguiremos manter posição de destaque em um mercado cada vez mais competitivo.
A Sabesp é uma empresa amiga do meio ambiente. A recuperação do Tietê continuará.
DINHEIRO ? O sr. traz um novo modelo de gestão para a Sabesp?
OLIVEIRA ? Já houve muito esforço neste sentido e certamente haverá grande esforço em termos de gestão, mas eu destacaria outro desafio extremamente importante que vamos enfrentar, que é atender a um padrão de exigência do ponto de vista ambiental muito maior. Precisamos deixar muito claro que a Sabesp é uma empresa amiga do meio ambiente. Queremos padrões ambientais muito melhores. Hoje, o meio ambiente é um objetivo estratégico para a Sabesp sem ser uma restrição para seu crescimento.
DINHEIRO ? É possível conciliar desenvolvimento, meio ambiente e a rapidez que a sociedade espera?
OLIVEIRA ? Sim, é possível. Nós temos que encarar o saneamento de uma maneira mais ampla. Não é um conceito estrito de abastecimento de água e coleta de esgoto. Nós queremos propiciar melhores condições de vida e de saneamento ambiental. O abastecimento de água está necessariamente ligado às condições ambientais gerais. Isso envolve esforço tecnológico muito grande, diálogo permanente com câmaras ambientais e com especialistas em meio ambiente. Essa nova dimensão do problema ambiental será um dos nossos grandes desafios e tenho certeza de que seremos muito bem-sucedidos.
DINHEIRO ? Há alguma ineficiência na Sabesp que realmente o preocupe?
OLIVEIRA ? A Sabesp nasceu de várias empresas em 1973, e em 1995 ganhou novo formato com unidades de negócios. Essa estrutura deu muita agilidade para a companhia, que sofria por ser altamente capilarizada, e possibilitou um conhecimento regional bastante amplo de nosso corpo técnico, o que é muito bom. Mas precisamos padronizar procedimentos, eliminar tarefas duplicadas, racionalizar custos, ganhar economia de escala, sobretudo, nos trabalhos corporativos. Então há muito o que fazer.
DINHEIRO ? Apesar de alguns problemas internos, a Sabesp é uma das estrelas da bolsa. O que justifica esse desempenho?
OLIVEIRA ? Em 1997 a empresa foi listada na bolsa. A partir do ano 2000 a liquidez das ações aumentou e em 2002 a Sabesp estreou no Novo Mercado. Ela é muito bem avaliada com vários prêmios de governança corporativa graças ao seu alto padrão de transparência. Vamos aprimorar este trabalho.
Por enquanto, o PAC não traz instrumentos suficientes para o País crescer.
DINHEIRO ? A nova lei de saneamento acabou de ser aprovada. O que muda?
OLIVEIRA ? A aprovação da lei foi um grande avanço. O setor de saneamento não tinha um marco regulatório, o que aumentava muito a incerteza e o risco do capital. Com a nova lei, as diretrizes para a regulação foram definidas. Essa notícia foi muito bem recebida pelo mercado com reflexos positivos nas ações. Mas sempre há aspectos que poderiam ser mais bem explorados.
DINHEIRO ? Como quais, por exemplo?
OLIVEIRA ? O principal deles é um melhor estímulo ao investimento. Mas a questão da titularidade (que estabelece se a responsabilidade pela gestão do saneamento cabe aos Estados ou municípios) também foi deixada de fora.
DINHEIRO ? O sr. teve uma intensa atividade pública, depois se voltou à atividade de professor e agora retorna como presidente da Sabesp. O que o fez aceitar o convite?
GESNER OLIVEIRA ? Existem três motivos importantes. A Sabesp enfrenta uma nova conjuntura onde a concorrência, competição e o novo marco regulatório do saneamento são particularmente importantes. Isso provocará uma mudança cultural na companhia, que deve se preparar para ser regulada. Além disso, temos um programa de governo com muita ênfase no aumento do investimento social. E, como o saneamento talvez seja a área de infra-estrutura mais diretamente relacionada ao desenvolvimento das políticas sociais, temos uma boa perspectiva de crescimento.
DINHEIRO ? E a terceira?
OLIVEIRA ? A terceira é que a Sabesp é sedutora sob vários aspectos. É uma empresa que passou por um salto de governança corporativa importante, tem ações na bolsa de Nova York e está presente no Novo Mercado.
DINHEIRO ? O cenário está positivo, as ações da empresa subindo. Qual será o seu desafio no comando da maior empresa de saneamento das Américas?
OLIVEIRA ? A Sabesp é de longe uma referência no saneamento brasileiro, com corpo técnico invejável. É preciso dar um novo salto. Criar uma nova relação com os clientes e com as prefeituras. Outra questão fundamental é aumentar ainda mais sua eficiência.
DINHEIRO ? Como o sr. conseguirá subir mais esse degrau?
OLIVEIRA ? Será preciso grande esforço em redução de custos, em melhoria de processos e racionalização de serviços com foco no consumidor. Assim, conseguiremos manter posição de destaque em um mercado cada vez mais competitivo.
DINHEIRO ? O sr. traz um novo modelo de gestão para a Sabesp?
OLIVEIRA ? Já houve muito esforço neste sentido e certamente haverá grande esforço em termos de gestão, mas eu destacaria outro desafio extremamente importante que vamos enfrentar, que é atender a um padrão de exigência do ponto de vista ambiental muito maior. Precisamos deixar muito claro que a Sabesp é uma empresa amiga do meio ambiente. Queremos padrões ambientais muito melhores. Hoje, o meio ambiente é um objetivo estratégico para a Sabesp sem ser uma restrição para seu crescimento.
DINHEIRO ? É possível conciliar desenvolvimento, meio ambiente e a rapidez que a sociedade espera?
OLIVEIRA ? Sim, é possível. Nós temos que encarar o saneamento de uma maneira mais ampla. Não é um conceito estrito de abastecimento de água e coleta de esgoto. Nós queremos propiciar melhores condições de vida e de saneamento ambiental. O abastecimento de água está necessariamente ligado às condições ambientais gerais. Isso envolve esforço tecnológico muito grande, diálogo permanente com câmaras ambientais e com especialistas em meio ambiente. Essa nova dimensão do problema ambiental será um dos nossos grandes desafios e tenho certeza de que seremos muito bem-sucedidos.
DINHEIRO ? Há alguma ineficiência na Sabesp que realmente o preocupe?
OLIVEIRA ? A Sabesp nasceu de várias empresas em 1973, e em 1995 ganhou novo formato com unidades de negócios. Essa estrutura deu muita agilidade para a companhia, que sofria por ser altamente capilarizada, e possibilitou um conhecimento regional bastante amplo de nosso corpo técnico, o que é muito bom. Mas precisamos padronizar procedimentos, eliminar tarefas duplicadas, racionalizar custos, ganhar economia de escala, sobretudo, nos trabalhos corporativos. Então há muito o que fazer.
DINHEIRO ? Apesar de alguns problemas internos, a Sabesp é uma das estrelas da bolsa. O que justifica esse desempenho?
OLIVEIRA ? Em 1997 a empresa foi listada na bolsa. A partir do ano 2000 a liquidez das ações aumentou e em 2002 a Sabesp estreou no Novo Mercado. Ela é muito bem avaliada com vários prêmios de governança corporativa graças ao seu alto padrão de transparência. Vamos aprimorar este trabalho.
DINHEIRO ? A nova lei de saneamento acabou de ser aprovada. O que muda?
OLIVEIRA ? A aprovação da lei foi um grande avanço. O setor de saneamento não tinha um marco regulatório, o que aumentava muito a incerteza e o risco do capital. Com a nova lei, as diretrizes para a regulação foram definidas. Essa notícia foi muito bem recebida pelo mercado com reflexos positivos nas ações. Mas sempre há aspectos que poderiam ser mais bem explorados.
DINHEIRO ? Como quais, por exemplo?
OLIVEIRA ? O principal deles é um melhor estímulo ao investimento. Mas a questão da titularidade (que estabelece se a responsabilidade pela gestão do saneamento cabe aos Estados ou municípios) também foi deixada de fora.
DINHEIRO ? Como esses aspectos poderiam ser sanados?
OLIVEIRA ? Um dos aspectos mais importantes é o fato de o setor de saneamento ser bastante taxado. A carga tributária, com PIS, Pasep, Cofins, é muito elevada. Para o conjunto das empresas estaduais de saneamento representa mais de um terço do investimento. Isso obviamente limita a capacidade de expansão e retira incentivos a programas que são essenciais para a universalização dos serviços. O saneamento não deveria ser sobretaxado, como de fato é. Até porque é um setor com enorme impacto sobre o desenvolvimento regional e aspectos como saúde. É preciso atrair investimento para o saneamento.
DINHEIRO ? Em que pé está o debate sobre a titularidade?
OLIVEIRA ? Ela não foi abordada na lei, porque está sendo decidida pelo Supremo Tribunal Federal. É preciso esperar. Mas, pelo menos, a lei estabeleceu alguns regulamentos mínimos com os quais já se avançou muito na relação dos prestadores de serviço com as prefeituras.
DINHEIRO ? A lei de saneamento demorou 20 anos para ser aprovada. Ela atende à demanda atual da sociedade brasileira?
OLIVEIRA ? Não existe lei perfeita. O projeto atende, em grande medida, às necessidades do setor, mas ainda há muito a ser feito. A lei dos consórcios (que permite cooperação entre a União, Estados, municípios e o Distrito Federal na prestação de serviços públicos como saneamento) também foi importante para estabelecer um novo tipo de relacionamento entre os entes federados. Eu acho que, de uma maneira geral, em 2007 nós temos um marco muito melhor definido do que aquele de 2005.
DINHEIRO ? Mas o sr. falou que ?há muito a ser feito?. É possível exemplificar?
OLIVEIRA ? Do ponto de vista das finanças públicas, seria racional dar estímulo à melhoria do serviço de saneamento. Isso não acontece.
DINHEIRO ? A lei de saneamento gerou uma certa desconfiança porque poderia abrir brechas para a privatização da Sabesp. Esse caminho é cogitado?
OLIVEIRA ? A Sabesp é uma empresa pública que tem uma característica muito importante: um padrão de governança muito bom. Então a grande discussão não é se a empresa é pública ou privada, mas se é eficiente ou não. Nosso objetivo é torná-la o mais eficiente possível. Não queremos apenas uma boa avaliação na bolsa, mas também uma ótima avaliação dos consumidores.
DINHEIRO ? Mas há ou não a idéia de privatizá-la?
OLIVEIRA ? Não. Como empresa pública ela tem funcionado bem e trabalharemos para ser ainda melhor.
DINHEIRO ? De que forma o consumidor será beneficiado com a nova lei de saneamento?
OLIVEIRA ? O consumidor está legitimamente preocupado com a qualidade de serviço e a modicidade das tarifas. Com esse novo marco é possível diminuir o risco regulatório. Ao fazê-lo reduzimos o custo do capital, tornando possível oferecer serviços melhores e mais baratos.
DINHEIRO ? As tarifas devem baixar, então?
OLIVEIRA ? Veja, é preciso pensar no consumo presente e no futuro. Nós precisamos investir. As tarifas precisam ser módicas, porém suficientes para garantir investimentos e manter a companhia eficiente.
DINHEIRO ? Já há um plano de investimento desenhado?
OLIVEIRA ? Existe um planejamento estratégico com previsão de investimentos anuais de R$ 1 bilhão pelos próximos quatro anos. Agora, em função do novo marco regulatório, da nova gestão da empresa e do novo plano de governo, vamos promover uma revisão do planejamento, redefinindo as prioridades.
DINHEIRO ? Dentre os principais projetos, quais ganham destaque?
OLIVEIRA ? Há projetos da maior importância, como as várias etapas do rio Tietê e tratamento de esgoto no litoral.
DINHEIRO ? No fim de janeiro o governo Lula anunciou o PAC. O programa tem bons reflexos no saneamento?
OLIVEIRA ? O Brasil apresentou um crescimento bem inferior ao da média dos países em desenvolvimento. Então acelerar o crescimento é uma meta comum. O PAC tem méritos quando fala em isenção de impostos para investimentos. Mas as isenções são relativamente pequenas. Considerando que as empresas estaduais de saneamento pagam mais de R$ 1 bilhão em PIS e Cofins, seria desejável haver um estímulo maior ao investimento.
DINHEIRO ? Com o programa o governo Lula alcançará os tão desejáveis 5% de crescimento?
OLIVEIRA ? Se for entendido como um programa em aberto, o PAC pode ser aperfeiçoado para fazer o País crescer 5%. Por enquanto, os instrumentos não parecem suficientes para dar o salto. O setor de saneamento ainda é uma grande lacuna na política social e de desenvolvimento.
DINHEIRO ? Apesar da lacuna, a Sabesp continuará colhendo bons frutos?
OLIVEIRA ? A empresa encerrou 2006 muito bem. A Sabesp tem vocação para consolidar suas bases e expandir sua atuação. Mas o ambiente mudou. Éramos prestadores de serviços e de certa forma reguladores. Agora trabalharemos com uma agência reguladora independente. Teremos um esforço muito grande em racionalização, mas temos boas perspectivas tanto do ponto de vista de expansão da receita como de maior eficiência e rentabilidade.