O nosso dia a dia é marcado por uma pressa constante. A cultura da correria parece ditar as normas e, a cada momento, somos designados para tarefas urgentes, expectativas e novos compromissos. Tudo é muito rápido, para agora e precisa gerar resultados.

Essa cultura é, na maioria das vezes, alimentada por uma série de fatores externos e internos. Externamente, há a influência da sociedade e do mundo corporativo, que impõem padrões de produtividade e sucesso. As tecnologias modernas, que por um lado nos proporcionam conveniência e eficiência, também nos mantêm constantemente conectados e disponíveis, muitas vezes dificultando a desconexão e o descanso.

Internamente, a cultura da correria pode estar enraizada em nossas próprias crenças e comportamentos, como o medo do fracasso, a busca incansável pela perfeição e a dificuldade em dizer não podem nos levar a assumir mais do que somos capazes de lidar, resultando em sobrecarga e estresse.

Na contramão desse cenário de frenesi, a procrastinação surge como um sintoma preocupante, afetando a capacidade de lidar eficientemente com as demandas da vida cotidiana. Ela aparece como um fenômeno universal e atemporal com causas biológicas, psicológicas e sociais. Embora alguns sofram mais com ela do que outros, ninguém consegue fugir totalmente da tentação de adiar algumas atividades.

Para entender mais sobre o assunto, precisamos dar um passo para trás e saber que essa conduta é resultado de uma batalha entre duas áreas cerebrais que se desenvolvem em momentos diferentes da vida humana. O córtex pré-frontal está ligado ao planejamento e à organização. Já o sistema límbico, que é o inconsciente, só quer saber dos prazeres imediatos. Não à toa, muitas vezes deixamos de fazer algo por obrigação para realizar algo simplesmente porque queremos.

Por mais natural que seja, principalmente por algumas tarefas serem mais urgentes que outras, quando a procrastinação faz com que o indivíduo deixe de cumprir suas obrigações ela se torna um problema crônico, duradouro e prejudicial.

Para que essa questão não seja um obstáculo no trabalho, muitas pessoas utilizam técnicas de gestão do tempo que incluem planejamento, organização e disciplina para conseguirem administrar os processos e seu tempo de forma eficiente. Dessa forma, passam a serem reconhecidas por sua produtividade.

É importante reconhecer que a produtividade não deve ser medida apenas pela quantidade de tarefas realizadas, mas também pela qualidade de vida que conseguimos desfrutar. Aprender a encontrar um equilíbrio entre trabalho e lazer, compromissos e horas livres são essenciais para cultivar uma relação mais saudável com o tempo e reduzir a tendência à procrastinação.

Como líder, entendo também que a falta de engajamento pode estar associada à procrastinação. Então, colaboradores engajados tendem a procrastinar menos. Dessa forma, quando a gestão está focada em construir uma cultura de engajamento de maneira estratégica, a equipe tende a ampliar seu nível de conexão com o trabalho e, consequentemente, aumenta a produtividade em relação às atividades.

Entendo que esse processo de engajamento é gradual e deve fazer parte do planejamento estratégico da empresa e da liderança. Isto envolve não apenas fornecer recursos e oportunidades para o desenvolvimento profissional, mas também criar um ambiente de trabalho inclusivo, transparente e de apoio mútuo. É preciso cuidar das pessoas para obter sucesso nos negócios.

Heverton Peixoto é engenheiro civil com MBA em Corporate Finance no Insead, CEO do Grupo Omni e conselheiro do Instituto de Inovação em Seguros e Resseguros da FGV