O baixo crescimento econômico e os riscos que pairam sobre o mercado imobiliário não são as únicas preocupações no mercado corporativo chinês. Uma onda sem precedentes de sumiços de empresários e executivos ­— quase todos críticos à repressão do governo — tem aumentado o temor sobre a segurança de fazer negócios no país. Segundo reportagem da agência Dow Jones, em Cingapura, os principais executivos de uma plataforma de streaming de vídeo e de uma empresa farmacêutica foram os mais recentes empresários e funcionários de empresas a desaparecer, à medida que o aumento da repressão por parte de Pequim a supostos crimes de corrupção e prevaricação que abalam a confiança empresarial na China, tanto entre empresas locais como estrangeiras. Chen Shaojie, presidente-executivo da empresa de transmissão ao vivo DouYu, não é visto em público desde outubro.

A empresa, listada na Nasdaq, se recusou a comentar sobre a situação de Chen, mas disse que as operações comerciais permanecem normais. A gigante de tecnologia chinesa Tencent possuía uma participação de quase 38% na DouYu.
Simultaneamente, a Shandong Wohua Pharmaceutical, listada na bolsa de Shenzhen, informou as autoridades que o presidente, Zhao Bingxian, foi detido e solicitado a cooperar com uma investigação. A Wohua não forneceu detalhes sobre a investigação, mas disse que não estava envolvida no assunto e que as autoridades não notificaram a empresa nem procuraram assistência. Nem Chen, nem Zhao foram encontrados para comentar.

SUMIÇOS O desaparecimento ocorreu após cerco regulatório da DouYu. Em maio, o regulador de Internet da China disse que iria enviar uma equipe de trabalho à empresa para verificar problemas que a plataforma de streaming tinha com conteúdo “pornográfico e grosseiro”. Desde que surgiram notícias sobre o desaparecimento de Chen, o preço das ações da DouYu caiu 12%.

No começo deste ano, o fundador do Alibaba, Jack Ma, ficou desaparecido por mais de sete meses. Esse ressurgiu em março, mas não quis comentar as razões do desaparecimento. O empresário da gigante de e-commerce anos se manteve discreto desde que criticou reguladores financeiros da China em 2020. Ele é o bilionário chinês de maior destaque a desaparecer em meio a uma intensa repressão aos empreendedores do setor tecnologia.

Desta vez, Chen e Zhao entraram em uma lista crescente de executivos chineses que desapareceram ou foram detidos neste ano, incluindo o famoso banqueiro Fan Bao, conhecido por liderar negócios que criaram algumas das empresas tecnológicas mais dominantes da China. Fan desapareceu em fevereiro e não reapareceu em público. As autoridades detiveram Fan devido uma investigação de corrupção que visava um ex-executivo sênior do banco de investimento que ele fundou, a China Renaissance Holdings.

Empresários e executivos como (da esq. à dir.) Jack Ma, Chen Shaojie e Fan Bao saíram de cena depois de criticar publicamente o governo chinês (Crédito:Philippe Lopez/ AFP, Divulgação)

Os desaparecimentos e a crescente repressão por parte de Pequim causaram receio na comunidade empresarial da China e contribuíram para uma saída em massa de investimentos no país. As empresas estrangeiras retiraram mais de US$ 160 bilhões da China ao longo dos últimos seis trimestres, à medida que enfrentam a desaceleração do crescimento econômico da China e o aumento das tensões geopolíticas entre Pequim e Washington. “A China dá prioridade à política sobre a economia e os negócios, e os seus líderes têm afirmado isso repetidamente, mas muitos na comunidade empresarial optaram por ignorar ou simplesmente deixar de lado como apenas mais um exemplo de conversa política sem implicações práticas”, disse Zhiwu Chen, professor e presidente de finanças da Universidade de Hong Kong, à reportagem da Dow Jones. “Agora, eles aprenderam as lições e alguns não estão mais dispostos a investir em novos negócios.”

O controle regulatório de Pequim também afetou as empresas estrangeiras neste ano. As autoridades invadiram as instalações de Pequim da empresa de auditoria americana Mintz Group e detiveram cinco funcionários chineses e interrogaram funcionários da empresa de consultoria Bain em Xangai. Alguns funcionários de empresas estrangeiras, incluindo a empresa de consultoria americana Kroll e a empresa de finanças japonesa Nomura Holdings, também foram impedidas de deixar a China, suscitando preocupações sobre o uso crescente por parte do governo das proibições de saída de pessoas sendo investigadas ou auxiliando investigações governamentais.