17/04/2015 - 8:30
Há um quê de Brasil em Iowa, Estado do centro-oeste dos Estados Unidos. As plantações de cana de açúcar, soja e milho se estendem em um tapete verde a perder de vista e os vastos rebanhos de gado em muito lembram a vocação brasileira para a agropecuária. Muitos dos bilhões de dólares gerados naqueles campos endinheirados acabam florescendo em negócios por aqui. A capital estadual, Des Moines, abriga a sede do Principal Financial Group, gigante que administra US$ 513 bilhões e já aplicou um capital considerável em duas empresas de investimento brasileiras, a Brasilprev e a Claritas.
Com ou sem crise, o fato é que os radares caipiras de Iowa continuam apontados para o País, em busca de novas aquisições. A Principal pretende expandir a sua participação na área de gestão de ativos. “Queremos crescer por meio de aquisições e estamos de olho em boas oportunidades”, diz Roberto Walker, presidente da Principal International Latino Americana, em entrevista exclusiva à DINHEIRO. “Bons profissionais vão nos ajudar a fomentar um mercado de gestão e investimentos no longo prazo.” O interesse pelo Brasil não acontece à toa. Sétimo maior mercado da Principal, o País abriga R$ 48,40 bilhões de ativos da empresa.
Criada em 1879, a companhia desembarcou no País, em 1999, para compor uma sociedade com o Banco do Brasil na área de previdência aberta privada. Atualmente, a Principal é dona de 25% do capital da Brasilprev. O grupo voltou a investir por aqui em 2012, fincando sua bandeira na área de gestão de ativos ao adquirir 60% da gestora Claritas, que administra R$ 3,4 bilhões. Agora, eles querem repetir a dose. Voltar a investir, mesmo em um momento macroeconômico desafiador, faz sentido para o grupo americano, até porque o retorno tem sido alto e positivo.
“O conhecimento internacional de nossos sócios foi fundamental para que conseguíssemos evoluir no mercado de previdência privada”, diz Miguel Cícero Terra Lima, presidente da Brasilprev. Nos 16 anos em que atuam juntos, o lucro líquido da empresa de previdência privada do BB cresceu 4.430%, saltando de R$ 16 milhões para R$ 726,40 milhões. Hoje, a companhia é a número um em captação e possui aproximadamente 1,6 milhão de clientes, que somam uma carteira de R$ 100 bilhões. Perde apenas para o Bradesco, que tem R$ 117,8 bilhões sob gestão.
Já a sociedade com a Claritas, que começou há dois anos, tem como trunfo a oferta de fundos em parceria, como o Latinoamericano de Renda Variável, que tem R$ 500 milhões sob gestão. Ele é gerido pela empresa brasileira em parceria com os escritórios da Principal no Chile e México. “A Claritas agrega muito à estratégia da Principal. Além de estar bem posicionada em um dos mercados mais importantes, pode oferecer alternativas de investimento aos investidores locais e estrangeiros”, diz Walker. Segundo Carlos Ambrosio, presidente da Claritas, a aproximação entre as duas empresas surgiu pela vocação internacional da gestora.
“Pouco antes de fecharmos o negócio com a Principal, abrimos um escritório em Londres, porque buscávamos esse alcance global”, diz Ambrosio. “Percebemos que nossos clientes tinham certa desconfiança quando falávamos de projetos de mais longo prazo e, neste sentido, ter uma parceria com um grupo grande ajuda muito.” É por causa desse caso de sucesso que a Principal pretende voltar a investir nesse mercado de R$ 2,78 trilhões em patrimônio líquido, segundo dados da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima).
A diferença é que a nova investida coincide com a mudança na regulamentação das gestoras brasileiras, que deve trazer maior transparência para o setor. Entre as novas regras aprovadas pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM), que serão adotadas a partir de 2016, está a obrigatoriedade de publicar informações financeiras mais claras. “Isso permitirá que os participantes do setor formulem uma opinião mais sólida sobre a previsibilidade e a sustentabilidade dos negócios, e prevejam desvios de processos e de controles que podem causar impacto na entrega de resultados”, afirma Diego Kashiwakura, analista sênior da Moody’s, em relatório. “Com isso, deve haver maior consolidação na indústria, que hoje é altamente fragmentada.”
Atualmente, operam 544 gestoras no mercado brasileiro, no qual as dez maiores respondem por 76% dos ativos do setor, segundo a Moody’s. A Principal, no entanto, não está sozinha: a XP Gestão também está de olho nesse mercado. Na quarta-feira 15, a equipe comandada por Patrick O’Grady lançou um fundo de private equity que vai comprar participação em pequenas gestoras e pretende captar R$ 400 milhões. A ideia é mantê-las no portfólio por cerca de seis anos e, nesse período, remunerar os investidores de acordo com o crescimento das empresas. O modelo é ainda desconhecido no Brasil, mas é muito comum no exterior, principalmente, nos Estados Unidos – berço do temível rival de Iowa.