Por Nayara Figueiredo

SÃO PAULO (Reuters) – A produção de trigo do Brasil pode alcançar 10,42 milhões de toneladas no ciclo atual, cujo plantio está sendo realizado, alta de 34,5% em relação à temporada anterior e um novo recorde, estimou nesta sexta-feira a consultoria Safras & Mercado.

No último levantamento, a consultoria chegou a projetar 10,8 milhões de toneladas para o cereal de inverno, mas algumas áreas do Paraná perderam espaço para o milho segunda safra, disse o analista Elcio Bento durante evento online.

     A área plantada com trigo deve totalizar 3,18 milhões de hectares, o que corresponde a um aumento de 16,6% no comparativo anual –maior patamar desde 1990, de acordo com a consultoria.

“Os fatores que estão por trás disso são os preços do trigo muito bons e, mais recentemente, preços internacionais atrativos. Isso trouxe novamente o produtor ao mercado de trigo”, afirmou o especialista.

Ele disse que a área só não será maior no Paraná porque a soja foi colhida mais cedo com quebra expressiva no Estado, o que possibilitou o plantio do milho safrinha mais cedo também.

Assim, a área paranaense de trigo, que no primeiro levantamento da consultoria para 2022 era de 1,65 milhão de hectares, deve fechar em 1,15 milhão de hectares. Em relação ao ano passado, apresenta uma queda de 5%.

O Rio Grande do Sul, no entanto, deve confirmar uma área de 1,52 milhão de hectares, avanço de 32% no ano a ano e a maior desde 1979.

“A recuperação de área do Brasil é basicamente puxada pelo Rio Grande do Sul, que já pode ser considerado um fornecedor para o mercado internacional”, disse Bento.

Segundo ele, a paridade de preços do cereal gaúcho passou a ser medida pelas cotações de exportação, uma vez que o trigo do Estado teve embarques elevados da safra anterior para países africanos, por exemplo, diante do recuo na oferta global causado pelo conflito entre Rússia e Ucrânia, dois grandes produtores.

Para a safra nova, o analista afirmou que a comercialização do cereal em geral está mais lenta, devido a incertezas relativas ao preço que será praticado.

“Quando o produtor estava pensando em como seria o plantio, entre fevereiro e março, foi quando explodiu a guerra na Ucrânia, e teve influência sim sobre os custos… Agora temos que ver como será a produção da Rússia, por exemplo, que vem como safra cheia, vamos ter que buscar essas contas”, explicou.

CLIMA

Do ponto de vista climático, a consultoria ressaltou que a produção potencial recorde pressupõe que as lavouras não serão prejudicadas por intempéries.

“Com o plantio se encaminhando para o final, o clima tem sido muito favorável. As lavouras gaúchas chegaram a ter os trabalhos de plantio atrasados pelo excesso de chuva. Apesar disso, os produtores aproveitaram as janelas de tempo seco e devem concluir os trabalhos dentro doo período ótimo”, disse.

No Paraná, Bento afirmou que as condições estão perfeitas até o momento e as lavouras estão em excelente qualidade.

Vale destacar, porém, que todo o trigo plantado ainda está suscetível a eventuais geadas que possam afetar lavouras em fase de floração e enchimento de grão.

Depois disso, no período da colheita, existe a possibilidade de chuvas prejudicarem a qualidade dos grãos.

“Por ser uma cultura altamente sensível a essas intempéries do clima, é impossível cravar que esse potencial será alcançado. Mas, normalmente, anos de La Niña costumam ser favoráveis ao trigo”, explicou.

(Reportagem de Nayara Figueiredo)

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