02/08/2022 - 10:35
Por Camila Moreira e Rodrigo Viga Gaier
SÃO PAULO/RIO DE JANEIRO (Reuters) -A indústria brasileira chegou ao final do segundo trimestre com queda acima do esperado em junho, interrompendo quatro meses seguidos de ganhos, em meio a dificuldades para superar o aumento nos custos de produção e os problemas de oferta.
A produção industrial brasileira teve queda de 0,4% em junho na comparação com maio, contra uma contração esperada em pesquisa da Reuters de 0,2%.
BC deve elevar Selic a 13,75% nesta semana e deixar porta aberta para nova alta
FGV: IPC-S desacelera em todas as 7 capitais pesquisadas no fechamento de julho
IPC-Fipe sobe 0,16% em julho e acumula inflação de 5,52% este ano
O último resultado negativo havia sido em janeiro, de 1,9%, perda que o setor ainda não conseguiu recuperar, já que nos quatro meses no azul a indústria acumulou alta de 1,8%. O setor ainda está 1,5% abaixo do patamar pré-pandemia, de fevereiro de 2020.
Os dados divulgados nesta terça-feira pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostram ainda que, apesar da queda em junho, a produção industrial fechou o segundo trimestre com ganho de 0,9% na comparação com janeiro a março, no terceiro trimestre seguido de ganho.
“Você tem uma indústria que não consegue ter um trajetória sustentável de crescimento”, afirmou o gerente da pesquisa, André Macedo.
Em relação a junho do ano passado, houve recuo de 0,5% da produção do país, contra expectativa de queda de 0,2%.
A indústria brasileira se favoreceu na primeira metade do ano das medidas do governo para incentivar o consumo, bem como da redução na taxa de desemprego.
Entretanto, o crescimento permaneceu baixo e o setor teve dificuldades para aumentar a marcha em um cenário de inflação e juros elevados no país. Problemas de oferta em meio à guerra na Ucrânia também pesaram.
“Nesse sentido, o comportamento da atividade industrial tem sido marcado por paralisações das plantas industriais, reduções de jornada de trabalho e concessão de férias coletivas”, explicou Macedo.
“Também permanecem os fatores que restringem a demanda doméstica, como a inflação mais elevada, os juros mais elevados que encarecem o crédito e o mercado de trabalho, que, mesmo com recuperação na taxa de desocupação, ainda tem 10 milhões de pessoas fora dele”, completou.
Em junho, os resultados negativos foram disseminados entre as atividades econômicas, com a maior influência vindo da queda de 14,1% na produção do setor de produtos farmoquímicos e farmacêuticos, que havia acumulado alta de 5,3% nos dois meses anteriores.
Por outro lado, a fabricação de veículos automotores, reboques e carrocerias teve expansão de 6,1%, mas a atividade ainda está 8,5% abaixo do patamar pré-pandemia.
“Nos últimos dois meses automóveis tiveram altas, mas isso mais parece um movimento de correção e ajustes de perdas do passado. Não é uma garantia que as perdas do passado serão recuperadas por conta do ambiente e do cenário atual”, disse Macedo.
Entre as quatro categorias econômicas, três recuaram na comparação com maio. A maior queda foi do setor produtor de bens de capital, de 1,5%.
O setor de bens intermediários teve contração de 0,8%, enquanto os bens de consumo semi e não duráveis apresentaram queda de 0,7%. O único avanço em junho foi do segmento de bens de consumo duráveis, de 6,4%.
O Banco Central vem elevando a taxa básica de juros agressivamente para tentar conter a alta dos preços, com expectativa de que a Selic seja elevada esta semana em 0,5 ponto percentual, ante atuais 13,25%.
Economistas temem que os dados da indústria possam sinalizar uma tendência econômica de baixa.
“Junto com pesquisas mais fracas no mês passado, (o resultado) fornece mais evidências de que a economia está perdendo ímpeto”, disse William Jackson, economista-chefe de mercados emergentes da Capital Economics.
“O crescimento do PIB na segunda metade do ano deve ser bem mais fraco do que no primeiro semestre.”
(Reportagem adicional de Gabriel Araujo em São PauloEdição de Paula Arend Laier e Luana Maria Benedito)