A produção industrial do Brasil voltou a crescer no final do segundo trimestre após dois meses de quedas mas o desempenho de junho ficou abaixo do esperado, antes da adoção de uma tarifa de 50% dos Estados Unidos sobre produtos brasileiros que se soma a um cenário de condições financeiras mais restritas.

+Indústria musical ameaçada por bandas geradas por IA

+Vídeo: incêndio atinge indústria em Guarulhos, na grande SP

Em junho, a produção na indústria teve ganho de 0,1% em relação ao mês anterior, em resultado que ficou abaixo da expectativa em pesquisa da Reuters de alta de 0,4% e que não foi suficiente para compensar o recuo acumulado de 1,2% em abril e maio.

Os dados divulgados nesta sexta-feira. 1º, pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostraram ainda que, em relação ao mesmo mês do ano anterior, houve queda de 1,3% da produção, contra expectativa de recuo de 0,6%.

Com esses resultados, a produção industrial fechou o segundo trimestre com ganho de 0,1% sobre os três meses anteriores, mas ainda está 15,1% abaixo do nível recorde alcançado em maio de 2011, de acordo com o IBGE.

O impacto dos juros

Uma perda de força da indústria este ano é esperada por especialistas diante da política monetária restritiva, com a taxa básica de juros Selic atualmente em 15%, mesmo diante de um mercado de trabalho sólido.

Agora, pesa ainda a tarifa de 50% imposta pelo presidente dos EUA, Donald Trump, sobre a maioria dos produtos brasileiros.

Embora setores como aeronaves, energia e suco de laranja tenham sido poupados das taxas mais pesadas, outros como os de carne bovina e café, com importante peso na pauta de exportações do Brasil para os EUA, não foram isentados no decreto de quarta-feira de Trump.

“Tudo que atrapalha nas exportações afeta a atividade industrial. Toda a incerteza frente às tarifas afeta investimento, planejamento de produção e consumo. Como será a repercussão é preciso aguardar mais alguns meses”, afirmou o gerente da pesquisa, André Macedo.

Os dados da pesquisa sobre a indústria mostraram que, em junho, houve alta na produção em 17 das 25 atividades. Macedo destacou que a interrupção das perdas no setor foi marcada pelo aumento da disseminação de setores com crescimento, a mais alta desde junho de 2024.

Avanços e recuos da indústria

Veículos automotores, reboques e carrocerias tiveram o maior impacto, com alta de 2,4%. Também tiveram destaque os ganhos em metalurgia (1,4%), celulose, papel e produtos de papel (1,6%), produtos de borracha e de material plástico (1,4%), e outros equipamentos de transporte (3,2%).

Já os principais impactos negativos vieram de indústrias extrativas e produtos alimentícios, ambos com perda de 1,9%; e de coque, produtos derivados do petróleo e biocombustíveis, com queda de 2,3%. Essas três atividades representam cerca de 45% do total da indústria.

Enquanto a indústria extrativa foi impactada pela menor produção de minério de ferro e interrompeu quatro meses seguidos de crescimento, o setor de alimentos marcou o quarto mês consecutivo de queda diante da menor produção de açúcar, carnes de bovinos, aves e suínos, sucos de laranja e alguns produtos derivados da soja.

Entre as categorias econômicas, bens de capital registraram aumento de 1,2% na produção. Mas bens intermediários tiveram queda de 0,1% e bens de consumo registraram retração de 0,6% na produção.

“De modo geral, o resultado reafirma a tendência de desaceleração do setor industrial, que deverá ter contribuição quase nula para o PIB do segundo trimestre”, avaliou André Valério, economista sênior do Inter.