Mesmo com a economia desorganizada pela covid-19, o indicador de produtividade subiu 3,6% no terceiro trimestre, na comparação com igual período do ano passado, conforme cálculos do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (Ibre/FGV). Em tempos normais, esse crescimento seria positivo, mas, com a pandemia, pode ser artificial, afirma Silvia Matos, pesquisadora do Ibre/FGV. Por isso, acrescenta ela, o resultado “não é para ser comemorado”.

Essa é uma das questões que serão debatidas no seminário online “Produtividade e Reformas”, que o Ibre/FGV promove amanhã em parceria com o Estadão. Além de Silvia, também vão participar Fernando Veloso, pesquisador de temas da produtividade no Ibre/FGV, e Marcos Mendes, pesquisador associado do Insper – que integrou a equipe econômica no governo Michel Temer. A mediação ficará a cargo da jornalista Adriana Fernandes, repórter especial e colunista do Estadão.

Desde que saiu da recessão de 2014 a 2016, a economia brasileira apresentou ganhos de produtividade ao longo de 2017, mas os indicadores recuaram em 2018 e ficaram praticamente estagnados em 2019, conforme os dados do Ibre/FGV. O comportamento é atípico porque, geralmente, quando uma economia volta a crescer após uma recessão, a produtividade sobe.

Estudos recentes do Ibre/FGV apontaram a informalidade do mercado de trabalho como um dos motivos para a produtividade seguir patinando. De 2017 a 2019, a geração de vagas se deu, principalmente, via postos de trabalho informais, geralmente ocupados por trabalhadores de baixa qualificação e em setores pouco eficientes. Assim, a geração de vagas não resultou em crescimento econômico de mesma magnitude.

Quando a pandemia se abateu sobre a economia, essa dinâmica mudou completamente. Com as ruas vazias por causa da covid-19, os empregos informais, como o de vendedores ambulantes, foram os primeiros a serem atingidos. Com as famílias ficando mais em casa, entregas a domicílio e o comércio eletrônico mantiveram a demanda por bens e alimentos, mas os gastos com lazer e serviços como bares, restaurantes, hotéis, cabeleireiros e academias de ginástica foram ao chão e ainda não se recuperaram.

Esse direcionamento da demanda para os bens – que fez a indústria já recuperar o nível de atividade de antes da pandemia – em vez de serviços leva, automaticamente, a um ganho de produtividade. Isso ocorreu no mundo todo, disse Silvia. Só que não há garantias de que essa situação se manterá depois que a covid-19 for controlada.

“Depois que o setor de serviços voltar, os informais voltarem, qual vai ser a produtividade da economia brasileira? O risco, dado o nosso passado, é voltarmos ao baixo crescimento se não fizermos reformas”, afirmou Silvia.

Entre as reformas econômicas, a mais importante para aumentar a produtividade é a tributária, na avaliação da pesquisadora do Ibre/FGV. Burocrático, marcado por um cipoal de regras e leis, o sistema tributário brasileiro dificulta a vida das empresas, punindo as mais produtivas e escondendo a ineficiência das pouco produtivas. Sem melhorar isso, o risco é a economia brasileira voltar ao seu “velho normal” de estagnação.

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As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.