18/01/2019 - 7:56
Entre produtores rurais, é consenso a aprovação ao decreto do presidente Jair Bolsonaro que facilitou a posse à arma de fogo, mas eles também concordam que é preciso adotar outras medidas, mais severas, para reduzir a insegurança no campo, apontada hoje como uma das principais dificuldades do setor.
Favorável ao decreto, o presidente da Sociedade Rural Brasileira (SRB), Marcelo Vieira, defende mais policiamento na zona rural. “Não é apenas liberar arma no campo que vai resolver a questão da segurança. O crime está cada vez pior. Quase diariamente ouvimos relatos de produtores que foram roubados, agredidos”, diz Vieira, cuja entidade tem associados em todas as regiões do Brasil.
O presidente da SRB também alerta para a necessidade de se acabar com o comércio de produtos roubados ou furtados. “Se você permite, está incentivando a insegurança”, afirma.
Para Márcio Lopes de Freitas, presidente da Organização das Cooperativas Brasileiras, o governo deve criar identificadores para máquinas e equipamentos agrícolas, e incentivar, com recursos e apoio logístico, os Estados a desenvolverem e fortalecerem unidades especializadas de prevenção e combate à criminalidade. “É necessário criar um ambiente que desestimule a prática de delitos que colocam em risco a segurança das pessoas.”
Presidente da Associação dos Produtores de Soja de São Paulo (Aprosoja-SP), Gustavo Chavaglia afirmou que o decreto é importante, mas defendeu também aumento da punição para quem compra os produtos do comércio ilegal, de modo a dar mais segurança aos produtores. “Se o bandido pode ter arma, por que o produtor não?”, questionou. “Mas precisamos de uma lei mais dura contra o receptador. Mais bandido ainda é quem compra produto roubado.”
Segundo Chavaglia, hoje os criminosos vão às propriedades com a certeza de que os produtores estarão desarmados. Com a nova lei, afirma, haverá a sensação de “um contraponto”. “Se ele (criminoso) souber que tem a chance de reação, começa a haver uma relação de igualdade”, avalia. Segundo Chavaglia, os crimes no campo são mais complexos e os produtores estão mais vulneráveis que na área urbana. “Essa medida (decreto) permite uma mínima defesa.”
Porta-voz do Observatório da Criminalidade da Confederação Nacional da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), André Sanches vê o decreto como uma “ponta” da discussão. De acordo com ele, sete em cada dez crimes no campo são realizados por quadrilhas especializadas. Por isso, diz, ações estruturantes, como o rastreamento do escoamento dos produtos roubados, são indispensáveis.
Sanches comenta também que a CNA tem assento no Conselho Nacional de Segurança Pública e tem dado mais destaque à insegurança no campo. “Antes, era invisível”, afirmou. “Não podemos fechar o olho para ressa realidade”.
Nesta quinta-feira, 17, no Twitter, Bolsonaro afirmou que o decreto que flexibilizou o acesso à arma de fogo tem como principal objetivo “assegurar o direito inviolável à legítima defesa”. Ele rebateu críticas e escreveu que “medidas eficientes” ainda serão “tomadas e propostas” para melhorar a segurança pública. “Para a infelicidade dos que torcem contra, medidas eficientes para segurança pública ainda serão tomadas e propostas. Os problemas são profundos, principalmente pelo abandono dos governos anteriores. Mal dá pra resolver tudo em quatro anos, quem dirá em 15 dias de governo.”
A reportagem entrevistou Bartolomeu Pereira, presidente da Associação Brasileira dos Produtores de Soja (Aprosoja Brasil). Veja, abaixo, os principais trechos.
Qual sua avaliação sobre a aprovação do decreto?
A arma é um componente a mais para a prevenção, para o bandido saber que na propriedade rural há uma arma de fogo. Mas isso não basta. Ficamos distantes da segurança pública e temos alto valor agregado em vigilância e equipamentos, então tudo isso necessita proteção.
O que é feito hoje?
Temos patrulhamento nas propriedades em Goiás e fazemos o georreferenciamento de todas, e organizamos grupos de WhatsApp com produtores e sindicatos rurais. Para vigiar, usamos até drones. Quando alguém estranho passa, a polícia é acionada.
Quais são os resultados?
Diminuímos a criminalidade na região (sul do Estado) e agora as medidas estão sendo ampliadas para outros Estados.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.