20/08/2010 - 6:00
Para a maior parte dos mortais, nanotecnologia é apenas mais um vocábulo do intrincado dicionário científico. Para a alemã Henkel, dona de marcas como Super Bonder e cuja receitas globais somam 14 bilhões de euros, porém, a menor unidade de medida (nanômetro) significa mais dinheiro em caixa.
Kampff, da Henkel: o investimento da companhia alemã em pesquisa
e desenvolvimento é de 400 milhões de euros por ano
É graças ao uso dessa tecnologia que a empresa tem ganhado espaço no mercado nacional. Com ela, desenvolveu colas especiais para seduzir seus clientes e fazer o faturamento crescer de forma contínua.
Nos últimos cinco anos avançou 66%, saindo de R$ 510 milhões, em 2004, para R$ 840 milhões, no ano passado. Números que assumem uma especial importância quando se observa que o segmento de colas e adesivos, um dos principais negócios da companhia, está praticamente estagnado e ainda luta para voltar aos níveis de 2005 (leia quadro abaixo).
Os novos produtos permitiram à empresa entrar em segmentos como a indústria automotiva. O alvo da Henkel são montadoras e empresas que possuem grandes frotas de veículos (ônibus e caminhões). Mas como transformar essas tecnologias em algo mais palatável para o consumidor?
A resposta foi a adoção do programa Pró-Ativa, criado pela filial americana e que funciona, na prática, como uma consultoria ao cliente. Para convencer os mais céticos a trocarem porcas e parafusos por colas especiais, Julio Muñoz Kampff, presidente da Henkel para o Mercosul, usa um argumento interessante: ?Parece inseguro andar num ônibus colado em vez de soldado? Pois esta é a tecnologia utilizada nos foguetes da Nasa?, diz o executivo.
Estes produtos são fruto de alguns anos de estudos e cerca de 400 milhões de euros aplicados anualmente em pesquisa e desenvolvimento. ?Inovação não é apenas uma palavra da moda. Ela tem sido a base do nosso crescimento?, diz Kampff. Um bom exemplo disso é a famosa cola de sapateiro. A versão da Henkel não leva mais o composto químico toluol em sua fórmula. Com isso, a companhia eliminou o componente que pode causar dependência química.
Hoje, utiliza esse diferencial para incrementar as vendas nesse filão. Também já é possível usar Super Bonder sem colar os dedos. Uma das linhas do produto possui componentes que fazem com que a cola seque mais lentamente. Isso garante maior precisão no trabalho, além de eliminar o risco de acidentes.
Trata-se, no entanto, de apenas uma parte da estratégia desenhada por Kampff para a região, no geral, e o Brasil, em particular. A ambição do executivo é colocar o País no mesmo patamar de Europa e Estados Unidos, nos quais os consumidores dizem um rotundo não a produtos insustentáveis do ponto de vista ambiental ou social.
?A aposta na inovação é uma resposta da indústria química em todo o mundo à crescente pressão por produtos menos agressivos ao meio ambiente?, pontua Tais Sozo, da consultoria Maxiquim. O viés, digamos, ecológico não é a única motivação do presidente da Henkel.
A crise global desencadeada no final de 2008 causou o encolhimento das economias maduras. ?A busca por tecnologias inovadoras e novos mercados é um movimento universal que está apenas começando?, acrescenta o coordenador da comissão setorial de colas, adesivos e selantes da Associação Brasileira da Indíustria Química (Abiquim), José Duarte. E o objetivo da Henkel Brasil é liderar essa tendência no Mercosul.