Os professores da Universidade de São Paulo (USP) decidiram na noite da terça-feira, 26, paralisar as atividades docentes até a próxima segunda, 2. O gesto, aprovado em assembleia geral, é uma demonstração de apoio à greve dos estudantes, deflagrada na semana passada. De acordo com a Associação de Docentes da USP (Adusp), os professores vão se reunir na segunda-feira que vem, em uma nova assembleia, para decidir o indicativo de greve.

A greve estudantil foi aprovada na última terça-feira, 20, sob o argumento de que a USP apresenta defasagem no quadro de professores, e a falta de contratação tem colocado em risco a continuidade de algumas disciplinas, como Japonês e Coreano, que são ministradas no curso de Letras, da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH).

Foi justamente a FFLCH a primeira a aprovar a greve, que ganhou adesão de outras faculdades, como a Faculdade de Direito, nos últimos dias. Nesta terça, 26, os universitários fizeram uma manifestação pelas ruas da capital até o Largo da Batata, em Pinheiros, zona oeste de São Paulo.

As assembleias setoriais que trouxeram deliberação de paralisação foram a Faculdade de Educação, Escola de Artes, Ciências e Humanidades (EACH), Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) – que já tinha demonstrado apoio aos estudantes na semana passada -, o Instituto de Matemática e Estatística (IME) e o Instituto de Psicologia (IP).

Embora não estivessem presentes todas as faculdades e institutos da USP, a decisão vale para todos os representantes da categoria da universidade, de acordo com Michele Schultz, presidente da Adusp.

“A deliberação de uma assembleia geral vale para toda a categoria docente, de todas unidades. Agora, as assembleias setoriais debaterão o indicativo de greve para levar seus posicionamentos para a geral no dia 2 de outubro”, disse Michele ao Estadão.

Assim como os estudantes, os docentes também reivindicam mais contratações de professores. “O número adequado de servidoras e servidores docentes e técnico-administrativas (os) é a garantia de melhores condições de trabalho e estudo. É inadmissível que estudantes sejam prejudicadas e prejudicados por falta de docentes”, completa a presidente da Adusp.

O corpo docente da USP foi encolhendo ao longo dos últimos anos. Como mostrou uma reportagem do Estadão, a USP perdeu 818 professores entre 2014 e 2023, o que representa uma queda de 15% na quantidade de docentes, dentro de um cenário onde o mesmo número de alunos continuou igual.

Na Faculdade de Medicina Veterinária e Zoologia (FMZV), por exemplo, o quadro encolheu 22,1% entre setembro de 2014 e agosto de 2023 (queda de 104 para 81 professores); na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, 21,37% (de 117 para 92), e no Instituto de Ciências Matemáticas e de Computação (ICM), a queda foi 21,13% (142 para 112).

Os números foram divulgados pela Adusp, com base nas folhas de pagamento disponíveis no portal de transparência da universidade. A defasagem é resultado de anos de crise financeira e do período de pandemia, que impediram novas contratações. A FFLCH, responsável pelo início da greve, é uma das faculdades mais prejudicadas.

A greve também foi impulsionada pelo pedido dos alunos por melhorias na política de permanência estudantil. Na votação pela paralisação, os docentes engrossaram o apoio à pauta.

“A administração da universidade tem condições de ampliar as políticas de permanência estudantil”, Michele Schultz. “A universidade passou a receber mais estudantes em situação de maior vulnerabilidade social com a política de cotas. É necessário que haja efetiva inclusão destes estudantes”, completou.

Procurada pelo Estadão, a reitoria da USP não retornou até a publicação desta reportagem.