28/01/2025 - 12:06
O David Game College, uma instituição de ensino privada no centro de Londres, lançou, há cerca de seis meses, um projeto piloto para preparar os exames para o título de ensino médio usando inteligência artificial (IA) ao invés dos professores.
No entanto, a iniciativa é vista com cautela por uma pesquisadora que trabalha com esta tecnologia.
O estabelecimento “controla” como os estudantes aprendem nas aulas e analisa a “informação sobre seus hábitos de aprendizado”, explica à AFP o vice-diretor da escola, John Dalton.
“A inteligência artificial vai transformar a educação. Não há dúvida a respeito”, acrescenta Dalton.
Até o momento, sete estudantes do ensino médio participam do projeto piloto. Em uma pequena sala de aula, eles têm acesso a computadores para acessar o programa.
Segundo John Dalton, que é professor de biologia, a IA é capaz de avaliar os conhecimentos de um estudante “com maior precisão que o professor médio” e permite um ensino mais personalizado.
Também pode ajudar a identificar lacunas no aprendizado dos estudantes.
Ao invés dos professores, os sete estudantes têm “treinadores pedagógicos”, qualificados como docentes, mas que não necessariamente conhecem o conteúdo das diferentes disciplinas.
Sua função é mais a de orientar os estudantes no uso de sistemas de inteligência artificial. Também são apoiados na aquisição de competências menos técnicas, como a capacidade de debate.
– “Líder mundial” –
O primeiro-ministro britânico, Keir Starmer, se comprometeu em meados de janeiro a transformar o Reino Unido no “líder mundial” em inteligência artificial.
O líder trabalhista anunciou um plano de ação, que deveria atrair empresas e investidores e impulsionar uma economia em decadência.
O governo assegura que a IA poderia ajudar os professores a organizar suas aulas e também na correção das provas.
Desta forma, o Executivo desenvolveu sua ferramenta própria, um assistente para as lições chamado “Aila”, adaptado ao programa escolar britânico.
Para Rose Luckin, professora do University College de Londres (UCL), que estuda os usos da IA na educação, o projeto piloto do David Game College é um “caso único”.
Mas esta professora questiona a capacidade da IA para lecionar “tudo em matemática, inglês, bioquímica, química e física”.
“Não quero ser negativa demais, porque se não testarmos estas ferramentas, não veremos como funcionam”, acrescenta.
Rose Luckin admite que a IA “transformará” o papel dos professores, embora seja “impossível” saber ainda em que direção.
A professora espera que o David Game College avalie se a IA “tem um impacto positivo ou negativo”.
– “Funcionou” –
Massa Aldalate, uma aluna de 15 anos, afirma ter tido uma impressão positiva com a experiência.
“A princípio tive dúvidas”, diz, sentada na sala. “Mas é muito mais eficaz se você realmente quer terminar seu trabalho”, acrescenta a adolescente, afirmando que não sente falta da aula tradicional.
Em relação às aulas em inglês, uma de suas matérias favoritas, ela pensava que nesta disciplina era preciso ter um professor diante dela, mas admite que a experiência “funcionou”.
Um dos dois principais sindicatos de professores, o National Education Union, recebeu com satisfação a ênfase do governo sobre a formação dos professores em ferramentas digitais.
Mas seu secretário-geral, Daniel Kebede, destacou que esse desejo deve se traduzir em “investimentos importantes” para dotar os estabelecimentos das tecnologias necessárias.
Rose Luckin destaca que o programa do David Game College é “elitista”, com um custo anual de 27.000 libras (cerca de 199.726 reais, na cotação atual), o equivalente a um aumento de 10.000 libras (74.082 reais) em relação ao custo médio da matrícula nas escolas privadas do Reino Unido.
A desigualdade no acesso à tecnologia também é um “desafio” trazido pela IA, conclui.